O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou pela segunda vez no G20, nesta segunda-feira (18). O evento está acontecendo no Rio de Janeiro e reúne 19 países membros, mais a União Africana e a União Europeia.
Em seu discurso, Lula defendeu a taxação dos super-ricos e enfatizou que a dívida dos países africanos é maior que os recursos que eles têm para financiar sua infraestrutura, saúde e educação.
“A cooperação tributária internacional é crucial para reduzir desigualdades. Estudos encomendados pela Trilha de Finanças do G20 são reveladores. Uma taxação de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar recursos da ordem de 250 bilhões de dólares por ano para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais do nosso tempo”, disse.
Crítica ao conselho de segurança
Além da economia global, o presidente do Brasil ressaltou as “crescentes turbulências” e o aumento dos conflitos armados ao redor do mundo. Lula aproveitou para criticar o Conselho de Segurança da ONU e afirmou que a comunidade internacional parece resignada a navegar sem rumo por disputas hegemônicas, apesar dos confrontos não serem “uma fatalidade”.
“A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional. O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes”, enfatiza.
“Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor. Intervenções desastrosas subverteram a ordem no Afeganistão e na Líbia. A indiferença relegou o Sudão e o Haiti ao esquecimento. Sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis”, completa.
Democracia sob ameaça
O discurso de Lula acontece menos de uma semana após o ataque à Praça dos Três Poderes em Brasília. Na ocasião, um homem explodiu um carro próximo à Câmara dos Deputados e, se explodiu em seguida, perto do Supremo Tribunal Federal.
Para o presidente, os países optaram por socorrer o setor privado em vez de fortalecer o Estado e, como consequência, gerou desigualdades por todo mundo. Com o aumento das diferenciações de rendas, criou-se aspectos para ataques contra a democracia
“O mundo voltou a crescer, mas a riqueza gerada não chegou aos mais necessitados. Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sob ameaça. A globalização neoliberal fracassou”, afirma Lula.
Chamada para a ação
Lula também chamou todos os líderes de países presentes à “chamada para a ação”. O presidente chamou a chance como “um toque de despertar”.
“Não há ninguém em melhor posição do que nós para mudar o curso da humanidade. Este ano, a reforma da governança global entrou em definitivo na agenda do G20. Pela primeira vez, o grupo foi à ONU e aprovou, com o endosso de outros quarenta países, um Chamado à Ação”, afirma o presidente brasileiro.
Antes de fechar o seu discurso, Lula enfatizou a necessidade da regulamentação da inteligência artificial. Fazendo referência a um poema de Carlos Drummond de Andrade, o presidente pede paz e cooperação de todos os países para chegar a um “equilíbrio global”.
“O futuro será multipolar. Aceitar essa realidade pavimenta o caminho para a paz. Também é chave na construção de uma governança que maximize as oportunidades e mitigue os riscos da Inteligência Artificial”, disse.
“Em 1940, o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema chamado “Congresso Internacional do Medo”, que traduzia o sentimento prevalente em meio à Segunda Guerra Mundial. Para evitar que o título desse poema volte a descrever a governança global, não podemos deixar que o medo de dialogar triunfe”, completou.