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Com adesão de 81 países, Brasil lança Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (à direita), e da França, Emmanuel Macron, no Rio de Janeiro, em 18 de novembro de 2024Ludovic Marin

Ludovic MARIN

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma das prioridades do Brasil, foi lançada nesta segunda-feira (18) na cúpula do G20 no Rio de Janeiro, com a adesão de 81 países e o objetivo de acabar com essa “chaga” até 2030.

“Compete aos que estão aqui, compete aos que estão de volta desta mesa, a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade”, disse Lula.

Todos os países do G20 aderiram à iniciativa, inclusive a Argentina do ultraliberal Javier Milei, que inicialmente havia sido a única a ficar de fora, segundo uma fonte da presidência brasileira.

Além disso, 66 organizações internacionais, incluindo a União Europeia e a União Africana, também aderiram.

O projeto, uma iniciativa pessoal de Lula, é ambicioso: erradicar a fome e a pobreza até 2030 e reduzir a desigualdade.

O desafio é enorme, pois 733 milhões de pessoas passaram fome em 2023, ou 9% da população mundial, de acordo com o último relatório apresentado em julho pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e outras agências da ONU.

Além da estrutura do G20, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza teve como objetivo reunir países de todo o mundo e instituições internacionais para liberar recursos financeiros ou replicar iniciativas que funcionam a nível local.

– Restaurantes gratuitos e transferência de renda –

As negociações estão em andamento há vários meses e compromissos concretos já foram assumidos.

Na sexta-feira, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou uma contribuição financeira de até US$ 25 bilhões (cerca de R$ 144 bilhões) para apoiar programas “para acelerar o progresso na luta contra a fome e a pobreza entre 2025 e 2030”.

Especificamente, a Aliança pretende atingir 500 milhões de pessoas em nações de baixa e média renda com programas de transferência de renda, expandir a alimentação escolar de “alta qualidade” para 150 milhões de crianças em nações com pobreza infantil e fome endêmica e ajudar pequenos agricultores.

A iniciativa “pode ser um ponto de virada na luta contra a fome e a pobreza extrema (…), mas deve ir além”, “abordando urgentemente os impactos devastadores da mudança climática sobre os sistemas alimentares no Sul global”, reagiu a Oxfam em um comunicado.

O governo nigeriano, que já tem o maior programa de merenda escolar da África, comprometeu-se a dobrar o número de beneficiários de 10 milhões para 20 milhões de crianças, adquirindo alimentos de pequenos agricultores locais.

A Indonésia lançará um novo programa de refeições escolares gratuitas em janeiro de 2025, com o objetivo de atingir 78,3 milhões de crianças em idade escolar até 2029.

– Luta pessoal –

Para Lula, a luta contra a pobreza é uma batalha pessoal. Quando criança, ele mesmo passou fome em seu estado natal, Pernambuco, antes de se mudar com a família para São Paulo.

Em julho, ao apresentar as linhas gerais da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza em uma reunião dos ministros das finanças do G20 no Rio, ele foi às lágrimas ao falar sobre “a mais degradante das privações humanas”.

“A fome e a pobreza não são o resultado da escassez ou de fenômenos naturais. A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro José de Castro, a fome é a expressão biológica dos males sociais. É produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade”, completou Lula.

Seus programas sociais tiraram milhões de brasileiros da pobreza durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010), especialmente graças ao Bolsa Família, um subsídio pago às famílias mais pobres com o compromisso de que seus filhos frequentem a escola.

Naquela época, no entanto, ele se beneficiou do boom dos preços das commodities, enquanto seu atual governo está sujeito a restrições orçamentárias muito mais rígidas desde seu retorno ao poder, em janeiro de 2023.

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