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Em um intervalo de 22 meses, Brasília é cenário de mais um episódio de desprezo à democracia e à Constituição


As câmeras do sistema de segurança do STF captaram o momento em que Francisco Wanderley Luiz acende uma bomba, deita no chão, e o artefato explode. A capital do Brasil esteve no centro das preocupações dos brasileiros. Em um intervalo de 22 meses, Brasília foi o cenário de mais um episódio de desprezo à democracia e à Constituição. Na edição desta quinta-feira (14) do Jornal Nacional, os nossos repórteres apresentaram as reações e as investigações motivadas pelas explosões na noite de quarta-feira (13) na Praça dos Três Poderes.
A primeira explosão foi em um carro. Eram 19h30. O barulho e a fumaça assustaram quem estava perto do estacionamento do prédio do Anexo IV da Câmara dos Deputados, onde ficam muitos gabinetes. Um policial que fazia uma ronda na região foi um dos primeiros a se aproximar.
“A gente estava patrulhando aqui na hora, viu a fumaça, viu o indivíduo saindo correndo do interior do veículo”, conta o sargento Santos, PMDF.
De lá até o prédio do STF – Supremo Tribunal Federal são 360 m. É possível fazer o percurso a pé, pelos estacionamentos dos prédios. São menos de cinco minutos de caminhada.
As câmeras do sistema de segurança do STF captaram o momento em que Francisco Wanderley Luiz caminha e para em frente à estátua da Justiça. Primeiro, ele joga um pano com gasolina na direção da estátua. Em poucos segundos, um segurança da Polícia Judiciária se aproxima e aborda o suspeito. Francisco corre. Depois, para por alguns instantes – enquanto o segurança parece conversar com ele.
INFOGRÁFICO: Quem é autor de atentado contra STF, como ele agiu e o que se sabe sobre explosões
Em depoimento, o segurança do STF afirmou que, nessa hora, Francisco Wanderley Luiz abriu a camisa e falou para ninguém se aproximar. O segurança disse que “acreditou tratar-se de uma bomba”.
As imagens mostram que, logo depois da abordagem, Francisco acende e lança uma primeira bomba de fabricação caseira na direção da estátua. Ele anda para o lado e joga mais uma bomba, que explode. Outro segurança se aproxima. Francisco Wanderley então para, dá dois passos para trás e acende mais uma bomba. As imagens são impactantes. Desta vez, ele não joga o artefato contra o Supremo. Deita no chão, e a bomba explode. Logo depois é possível ver a fumaça. Ele estava morto.
Novas imagens do circuito de segurança da Câmara dos Deputados mostram outro ângulo das explosões. Primeiro, do carro, e a ação dos bombeiros. Depois, do alto, Francisco se aproximando do Supremo, lançando as bombas até o momento em que ele deita e mais uma bomba explode.
A sessão do Supremo já tinha terminado. Servidores e os ministros que ainda estavam no prédio foram retirados. As explosões foram ouvidas no Congresso e no Palácio do Planalto. O presidente Lula já havia deixado o prédio horas antes. A Câmara dos Deputados suspendeu os trabalhos, e o Senado foi esvaziado.
Vídeo mostra momento em que homem detona explosivos em frente ao STF
Nesta quinta-feira (14) pela manhã, por volta de 9h, o corpo foi removido para perícia na Polícia Federal. O carro também passou por uma varredura e foi recolhido.
Nas redes sociais, Francisco Wanderley Luiz tinha publicado ameaças à imprensa e a políticos. Na quarta-feira (13), horas antes do atentado, ele postou uma mensagem indicando a existência de mais explosivos.
A polícia chegou ao nome de Francisco Wanderley Luiz pela placa do carro que explodiu no estacionamento dos anexos. Desde o início, os policiais suspeitavam que o dono era o mesmo homem das explosões. Só foi possível confirmar a identidade horas depois, quando os policiais se aproximaram do corpo, com equipamento antibomba. Ao levantar as informações do veículo, a polícia também descobriu que ele era de Rio do Sul, em Santa Catarina.
As câmeras do sistema de segurança do STF captaram o momento em que Francisco Wanderley Luiz acende uma bomba, deita no chão, e o artefato explode
Jornal Nacional/ Reprodução
Na cidade de Rio do Sul, no Vale do Itajaí, agentes da Polícia Federal, com apoio da Polícia Militar, cumpriram mandados de busca e apreensão onde Francisco Wanderley Luiz trabalhava como chaveiro e na casa em que ele morou. Apreenderam um telefone celular e pen drives, mas não encontraram materiais ou equipamentos que poderiam estar ligados às explosões.
No momento das buscas, a ex-companheira de Wanderley, Daiane Dias, de 41 anos, estava na casa e prestou depoimento à Polícia Federal. O Jornal Nacional conversou com alguns vizinhos que não quiseram gravar entrevista. Eles disseram que Wanderley foi embora para Brasília meses atrás, mas não souberam dizer o motivo.
Francisco Wanderley Luiz era conhecido na cidade como Tiu França. Foi com esse nome que ele concorreu à Câmara de Vereadores de Rio do Sul, em 2020, pelo PL. Teve 98 votos e não se elegeu.
Um dos irmãos disse que a família está chocada.
“A gente foi pego de surpresa com um ato dessa magnitude. Foi muito violento. O que aconteceu lá já passa de todos os limites. Foi um ato de muita violência”, diz o engenheiro florestal Rogério Luiz, irmão de Wanderley.
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