Um advogado, identificado como Ahmed Hassan, está sendo investigado por supostamente oferecer R$ 3 milhões para que o delator do PCC, Vinicius Gritzbach, fosse assassinado. Gritzbach foi morto na última sexta-feira (8), no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Em gravações, entregues pelo próprio delator ao MPSP (Ministério Público de São Paulo), o advogado dialoga com um policial civil sobre a execução. No áudio, Hassan sugere a quantia milionária como pagamento pela morte do delator.
As conversas gravadas, realizadas sem o conhecimento dos envolvidos, mostram Hassan perguntando ao policial civil do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) se “três milhões resolve” o caso. “Você acha que três [milhões] vai?”, questiona o advogado, ao que o policial responde: “É, pensa nos três, vai pensando, me fala depois.”
Os áudios ainda indicam que o advogado estava atento à rotina do delator, perguntando se “o passarinho tá voando direto”, numa referência a eventuais saídas de Gritzbach de sua residência. Em resposta, o policial afirmou que Gritzbach “às vezes voa, só que tem um segurança”.
Advogado que ofereceu dinheiro por morte de delator do PCC tem elo com máfia dos ônibus
Além da suspeita de homicídio, Ahmed Hassan também está no centro de investigações sobre lavagem de dinheiro. Ele é acusado de atuar em um complexo esquema financeiro para o PCC, utilizando empresas de fachada e um conglomerado de ônibus, a UpBus, para disfarçar recursos ilícitos.
Em um dos casos, Hassan declarou um acréscimo patrimonial de quase meio milhão de dólares. A origem nos lucros da empresa UpBus, segundo registros, apresentou prejuízo de mais de R$ 500 mil no mesmo período.
O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indica que, entre 2019 e 2023, Hassan movimentou R$ 27 milhões em suas contas pessoais. Parte desses recursos foi destinada à compra de imóveis através da empresa AHS, que teria registrado um valor de R$ 15 milhões em aquisições imobiliárias.
Esse esquema liga Hassan a Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, outro integrante de alto escalão do PCC. Em sua delação, Gritzbach admitiu ter lavado dinheiro para a facção, embora negasse envolvimento direto no assassinato de Fausta.
Delator do PCC denunciou delegado e policiais civis de corrupção
No acordo de delação proposto, Gritzbach mencionou a suposta corrupção de três policiais civis que, segundo ele, teriam sido beneficiados por esquemas envolvendo a organização criminosa. O delator do PCC afirmou ter informações sobre práticas ilícitas que incluíam o delegado Fabio Baena e o investigador Eduardo Monteiro.
Gritzbach também citou um homem conhecido como Rogerinho, todos ligados ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). No documento, Gritzbach havia se comprometido a fornecer detalhes sobre condutas suspeitas de outros delegados do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Além disso, citou distritos policiais na zona leste de São Paulo, incluindo o 24º e o 30º DPs. Em suas palavras, “áudios comprovam ilicitudes e arbitrariedades de Fabio Baena e toda sua equipe, como Rogerinho, Eduardo Monteiro e outros, viciando toda a instrução processual”, finalizou a proposta de delação.
Após a morte do empresário, oito policiais foram afastados por suspeitas de envolvimento no assassinato de Gritzbach. O crime ocorreu oito dias após ele revelar os nomes dos agentes corruptos.