Investigados fraudavam energia elétrica para beneficiar empresas e resiências. Entre os beneficiários da fraude, estava uma rede de lojas de produção e venda de salgados. Entre as irregularidades, estava o desligamento controlado dos medidores por meio de um equipamento eletrônico
Polícia Civil de Mato Grosso
Dez pessoas foram indiciadas por integrar um esquema criminoso que fraudava energia elétrica para beneficiar empresas e residências de Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, nessa segunda-feira (11). De acordo com a Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (DERF), os indiciados vão responder por estelionato, receptação, furto e associação criminosa. Os envolvidos foram presos na Operação Cattus, deflagrada em 2022.
A investigação apontou que, para executar os crimes de fraude, quatro pessoas se uniram para adulterar medidores e furtar energia elétrica, beneficiando tanto pessoas físicas quanto empresas. Entre os beneficiários da fraude, estava uma rede de lojas de produção e venda de salgados em Rondonópolis, que utilizava os mecanismos fornecidos pela associação criminosa.
Em junho de 2021, a concessionária de energia Energisa realizou uma inspeção e detectou fraudes nas 15 unidades da rede. Entre as irregularidades, estava o desligamento controlado dos medidores por meio de um equipamento eletrônico, para que o consumo de energia não fosse registrado. Na época, o prejuízo estimado foi de R$ 116,8 mil.
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Segundo a Polícia Civil, a empresa de salgados, de propriedade de três dos indiciados por estelionato, foi beneficiária de uma fraude operada por um dos investigados, que comercializava o equipamento eletrônico usado para adulterar os medidores e furtar energia elétrica.
As investigações revelaram que um dos investigados, junto com outros quatro comparsas, se associaram para realizar a adulteração de medidores de energia elétrica em Rondonópolis. Para isso, contaram com o apoio de funcionários de empresas terceirizadas contratadas pela concessionária de energia elétrica de Mato Grosso.
À polícia, a concessionária informou que, em 2023, a empresa registrou uma perda de 728 mil gigawatts devido a fraudes e furtos de energia, o que corresponde a 14% de perdas não técnicas. Além disso, somente neste ano, 44 pessoas foram presas pelo furto de energia.
“O nosso Centro de Inteligência tem trabalhado para identificar os fraudadores e a gente tem agido para combater esse tipo de crime em todas as suas vertentes, desde uma quadrilha como essa de Rondonópolis, quem oferece o serviço de fraude até o consumidor final”, disse o gerente de combate a perdas da Energisa Mato Grosso, Luciano Lima.
Como funcionava o esquema de fraude
O inquérito policial apontou que três dos indiciados eram sócios de uma empresa prestadora de serviços elétricos, responsável pela adulteração dos medidores e pela instalação nos imóveis de clientes interessados no mecanismo fraudulento. Outro indiciado era encarregado de recrutar clientes e fornecer o software usado na adulteração dos medidores.
Um dos investigados, funcionário terceirizado da concessionária de energia, vendia lacres de segurança e realizava a troca de medidores. Além disso, fornecia materiais como uniformes, botinas e lacres com a identificação da concessionária, que eram usados pelos executores da fraude para se passarem por funcionários legítimos da empresa, evitando chamar a atenção durante a instalação dos medidores adulterados.
Além da adulteração dos medidores, os indiciados orientavam os interessados sobre como proceder para consumar a fraude. O líder do esquema instruía os clientes a ligar para a concessionária e solicitar um pedido de troca de medidor aleatório.
Os indiciados orientavam os interessados sobre como proceder para consumar a fraude
Polícia Civil de Mato Grosso
Assim, com o protocolo gerado, ele contatava outro membro do esquema, que acionava um funcionário da concessionária em Cuiabá para gerar a ordem de serviço compatível com o processo de adulteração. A cada medidor trocado, o investigado recebia R$ 300, conforme a investigação.
Uma outra situação adotada pelos envolvidos era simular fiscalizações da concessionária, forçando clientes que utilizavam medidores adulterados a pagar valores para evitar autuações.
Além da empresa de salgados e das residências, a investigação também identificou um lava-jato que se beneficiou do esquema criminoso de fraude de energia. O inquérito revelou que, em fevereiro de 2022, dois investigados discutiram sobre a solicitação do dono de um lava-jato, interessado em fraudar o medidor de energia do estabelecimento. A indicação do lava-jato foi feita por uma pessoa que já havia se beneficiado da adulteração.
Para que o consumo de energia não fosse registrado, o responsável pelo esquema explicava aos ‘clientes’ uma técnica que envolvia o uso de um bastão, equipamento posicionado à frente do medidor, alterando o campo magnético e desligando o aparelho.
Prisões
Há quatro meses, quatro pessoas foram presas suspeitas de integrar essa organização criminosa envolvida em furto de energia em Mato Grosso. A ação ocorreu durante a Operação Cattus, que também cumpriu sete mandados de busca e apreensão em Rondonópolis.
A investigação, que partiu de uma denúncia da própria concessionária, revelou os responsáveis pela operacionalização da fraude e também que quatro pessoas se associaram para adulterar medidores e furtar energia elétrica, entre elas está um estabelecimento comercial que também é alvo da operação.