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Ícone do jornalismo acreano, Ayres Rocha deixa a Rede Amazônica após mais de 30 anos e é homenageado


Ayres Rocha é o apresentador do Jornal do Acre 2ª edição (JAC2), da Rede Amazônica Acre, e trabalhou no Grupo por mais de 30 anos. Nesta sexta-feira (8), o jornalista se despediu da bancada e foi homenageado e aplaudido por colegas de profissão. Após mais de 30 anos, Ayres Rocha se despede da tela da Rede Amazônica Acre
Gilberto Sampaio/ Rede Amazônica Acre
Depois de mais de 30 anos e mais de 6 mil “boa noite” com uma voz inconfundível, o jornalista e apresentador Ayres Rocha, âncora do Jornal do Acre 2ª Edição, deixa a Rede Amazônica nesta sexta-feira (8) após se aposentar da profissão. Com homenagens e sob forte comoção, colegas de redação se reuniram nos estúdios da Rede Amazônica Acre, durante o jornal, para homenageá-lo e aplaudi-lo, reverenciando o ícone do jornalismo acreano.
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O Jornal do Acre 2ª Edição, ou JAC2, como é mais conhecido, foi o primeiro telejornal da Rede Amazônica no estado e está no ar desde ________. Por esta bancada, já passaram vários apresentadores, mas até hoje, foi o jornalista Ayres Rocha que conseguiu construir uma relação forte e duradoura com os telespectadores.
FOTOS: Veja trajetória do jornalista Ayres Rocha
Por meio deste veículo, ele entrou na sua casa de segunda a sábado. O JAC2 tornou-se parte da rotina das famílias, seja no fim de tarde ou a noite, os olhares dos adultos e pequenos acompanham ele. Entre as reportagens, algumas marcam, como a do acidente de avião em Manoel Urbano, no interior do Acre, em março deste ano.
Ayres Rocha noticiou fatos que estão na memória do povo acreano. A trajetória do apresentador no jornalismo começou “meio que por acaso”. Em meados de 1989, Ayres trabalhava como bancário pela manhã e resolveu procurar outro emprego para preencher o tempo da tarde.
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Foi então que ele teve uma oportunidade na então ‘TV Acre’. Na redação de jornalismo, passou meses observando como os profissionais trabalhavam. Com o tempo, Ayres entendeu o funcionamento da redação, até que um dia, o apresentador do programa de esporte faltou.
A chefe de jornalismo então perguntou se o Ayres “toparia” apresentar e ele não pensou duas vezes. Apesar do medo, ele encarou as câmeras e deu tudo certo. Mas, o trabalho exigiu adaptação no início, já que teve que enfrentar a falta de alguns recursos para o telejornalismo no começo da carreira.
Não havia computador, nem teleprompter, ou conhecido como TP, instrumento este usado pelo apresentador que lê o texto da notícia. Sem essa tecnologia, era preciso improvisar.
“O TP funcionava assim: tinha uma câmera em cima, o script embaixo. Ela mostrava o script, essa imagem ia para a TV que refletia num vidro e esse vidro ficava na frente da câmera , o apresentador conseguia dar notícia assim”, disse Aldo França, cinegrafista da Rede Amazônica Acre.
Após várias décadas…
Ayres acompanhou muitas mudanças no telejornalismo. O apresentador que passava todo o jornal sentado em um modelo mais formal, agora tem a liberdade para apresentar em pé. Ele assumiu a bancada do jornal da manhã, depois o da tarde, até chegar no jornal de maior audiência, o então Jornal do Acre.
Ainda sem o curso superior em comunicação social, Ayres fez vestibular e foi aprovado. Conquistou a formação na área e fez muitas amizades. O jornalista e ex-professor Bruno Cassio foi um destes.
“Quis o destino que eu fosse seu professor na faculdade de jornalismo. Você, já com muita experiência profissional, não tinha mais o que aprender porque você já tinha aprendido muito, mas mesmo assim com humildade, você prestou vestibular e foi para a faculdade. E aí, nesses quatro anos de curso, nós convivemos ainda mais e estreitamos ainda mais os laços de amizade”, disse ele.
Jornalista Ayres Rocha na bancada do Jornal do Acre
Arquivo pessoal
A cada jornal, “o professor”, como muitos colegas de redação gostam de chamá-lo, foi desenvolvendo um jeito próprio de noticiar. Uma apresentação mais séria e, às vezes, emocionada.
“Muitas reportagens, quando voltavam para ele, o Ayres estava chorando e muitas vezes nem conseguia continuar a apresentação”, disse Jefson Dourado, ex-gerente de jornalismo da Rede Amazônica Acre.
E em outros momentos, o riso que era difícil de controlar.
“Estava finalizando uma matéria séria e ele foi encerrar o jornal. Ele quase não consegue encerrar de tanto que ele começou a rir, teve uma crise de riso”, disse Agatha Lima, editora-chefe do Jornal do Acre 2ª Edição.
Ayres Rocha diviu a bancada do JN com a apresentadora Jéssica Senra
Divulgação
Momento histórico
O “professor” orgulhou muitos acreanos em 2019 quando representou o estado em uma edição comemorativa dos 50 anos do Jornal Nacional. Ele dividiu esse momento com Jéssica Senra, apresentadora do Bahia Meio-Dia. Na bancada de maior audiência do país, Ayres Rocha não deixou de enaltecer o Acre. E, claro, um nó de gravata rendeu história nos bastidores.
“Eu tive a oportunidade de ajudá-lo a fazer um nó da gravata. Eu ensinei aqui, diante deste mesmo armário, o Ayres a fazer um nó de gravata, que nem o Barack Obama”, comentou William Bonner, apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional.
O ex-gerente de Jornalismo da Rede Amazônica Acre, Carlos Bonnateli, também destacou o jeito irreverente de Ayres.
“Teve um dia que ele mandou um vídeo pra mim. E nesse vídeo, o William Bonner estava ajeitando, fazendo nó na gravata pra ele. A partir daquele momento, eu falei esse é o Ayres, né? Ele já conquistou todo mundo lá”, brincou.
Pai, irmão e amigo
Mas o Ayres é muito mais do que um apresentador e jornalista nacionalmente conhecido. Ele também é pai, amigo, irmão. A ex-editora do JAC2, Crislei Souza, relembra do velho amigo com muito carinho.
“Quantas vezes eu estava lá na redação, assim como os colegas. E a redação é aquele batidão, muitas vezes a gente tem dias mais tensos, e principalmente nesses dias do nada, a gente fechando o jornal naquela correria, ele dizia assim: ‘Hein filha, deixa eu te contar aquela’. Aí ele vinha ou com uma piada, ou com uma história dessas que ele viveu nos mais de 30 anos no jornalismo, histórias sempre engraçadas”, falou.
A gerente de jornalismo da Rede Amazônica Acre, Geisy Negreiros, também tem boas memórias de Ayres.
“Eu não lembro do Ayres chegar chateado, com raiva, mal-humorado. Também pelas experiências de vida, né? Então ele traz uma leveza muito grande para o ambiente de trabalho, ele é uma pessoa muito divertida. Quantas vezes a gente não escutou a mesma piada do Ayres e riu do mesmo jeito, a gente para pra ouvi-lo, né?”, comentou.
Em qualquer situação, o Ayres sempre tem uma piada para contar. Miriam Moura, jornalista e amiga dele, relembra uma delas.
“Eu me lembro de uma história que ele contava do irmão dele falecido, o Álvaro, que aqui em Rio Branco a esposa dele sempre queria viajar para fora do estado. Um dia ele chegou em casa, mandou a esposa fazer as malas dela, falou que iriam viajar. A esposa, claro, arrumou toda a mala e eles colocaram no carro: ‘vamos começar a nossa viagem’. Aí ele começou a rodar a cidade, passou por várias ruas […] rodou, rodou, rodou a cidade e voltou para casa. Aí ela falou: ‘mas a gente não ia viajar?’. Ele disse: ‘mas a gente não viajou? A gente foi para Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro. Tu não viu que a gente viajou? A gente conheceu vários estados num dia só’ [em alusão às ruas da capital]. O Ayres contando na redação, meu Deus do céu, eu nunca esqueço essa história”, diz.
Em casa, Ayres se preocupa com o bem-estar da família. Ele é casado, pai de três filhos e tem quatro netos.
“As pessoas ficavam muito surpresas, principalmente pelo jeito dele, porque elas veem uma pessoa séria no jornal, né? E todo mundo falava assim: ‘nossa, seu pai é brincalhão, ele é engraçado, ele não é tão alto quanto no jornal e, nossa, ele fica do teu lado o tempo todo, te dando carinho, né?’ E ele é um pai presente. E isso me marcava bastante, ele ser sempre presente”, disse Luiza Rocha, filha de Ayres.
Infância
José Ayres de Souza Rocha viveu a infância em uma casa na Rua Silvestre Coelho, no bairro Bosque, em Rio Branco. O pai dele, o paraense Álvaro Vieira da Rocha, e a mãe Raimunda de Souza Rocha, de Xapuri, no interior do Acre, tiveram nove filhos biológicos e duas filhas adotivas. Ayres é o caçula.
Ayres Rocha, na infância, fantasiado de Chico Anysio
Arquivo pessoal
O menino que se vestia de personagens do Chico Anisio tinha a proteção dos irmãos até nas travessuras. Isto é o que conta a irmã dele, Elaina Rocha. Na mesma sala, a família se reunia para ouvir os discos do rei Roberto Carlos.
“Quando o papai chegava do trabalho, o Ayres continuava debaixo da casa, de joelhos, e essa aqui corria com a folhinha, colocava debaixo da língua e dizia: ‘maninho, fica com essa folhinha debaixo da tua língua que ela vai te salvar, mamãe e papai vão esquecer de tudo que tu fez’. E ele dizia: ‘tomara, porque olha como eu estou’, aí ele começava a se tremer”, relembra.
O menino Ayres Rocha ao lado das irmãs
Arquivo pessoal
Em 2014, uma notícia deixou os irmãos preocupados. Ele passou pelo tratamento do câncer de próstata.
“Desabou o mundo quando ele disse que estava com câncer. Pra nós foi como se tivesse jogado um balde de água fria. E todo mundo ficou doente junto com ele”, disse Elaina.
Hoje, com seu testemunho de vitória, incentiva outras pessoas a cuidarem da sua saúde.
“Ele me deu um apoio muito bom, contou a situação dele que teve também, fez o tratamento, estava bem, então eu não ficava desesperado e tal, graças a Deus que foi um conselho que eu botei na minha cabeça que até hoje está servindo”, disse Francisco Gomes, aposentado, que também trata o câncer de próstata.
Aposentadoria
Após mais de três décadas de trabalho, Ayres deixa a bancada para ter mais momentos com a família, curtir o time do coração, Vasco da Gama, e claro, as praias.
“Feliz também por sua aposentadoria. Eu vou te fazer um convite. Olha o solzão que faz aqui na Bahia, vem pra cá! Agora você tem tempo, agora tá tranquilo, vem que eu tô lhe esperando meu querido”, disse Jéssica Senra, apresentadora do Bahia Meio-Dia e parceira de bancada do JN.
Dos colegas, ficam as homenagens e as reverências ao profissional e amigo.
“Parabéns por tudo que você ajudou a construir, você ajudou a construir grandes amizades acima de tudo. É uma pessoa que merece aí essa aposentadoria, vamos dizer assim, com muito respeito”, disse Luís Augusto, ex-diretor de jornalismo da Rede Amazônica.
“Para essa nova fase, Ayres, eu só tenho que te dizer que foi um prazer, uma honra poder trabalhar com você, conviver com você na redação, aprender com você. Eu tenho muito orgulho, muito orgulho mesmo, de ter passado pela Rede Amazônica e poder ter convivido aí com um profissional tão talentoso e tão carismático como você”, contou Júnia Vasconcelos, repórter.
Antes do último boa noite na televisão, o nosso ‘tchau’, e o reconhecimento para o apresentador que nos informou, fez rir e também chorar.
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