Luiza Marchiori, primeira skatista trans a competir no Brasil, se tornou alvo de diversas acusações este ano. A atleta de Florianópolis é investigada após ao menos cinco mulheres denunciarem violência doméstica e sexual.
Aos 30 anos, Luiza Marchiori estreou na categoria feminina em 2024. A skatista é bicampeã brasileira e heptacampeã estadual de Santa Catarina, títulos que ganhou quando ainda competia na categoria masculina.
Segundo informações da Folha de S. Paulo divulgadas nesta sexta-feira (8), os inquéritos contra a atleta incluem violência psicológica, violência doméstica, ameaça, lesão corporal dolosa e importunação sexual contra uma vítima menor de idade.
As denúncias foram registradas na DPCAMI (Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso) de Florianópolis entre junho e julho deste ano. Os inquéritos correm em sigilo.
Entenda as acusações contra Luiza Marchiori, skatista de Florianópolis
Quatro das cinco vítimas seriam ex-namoradas de Luiza Marchiori, que se relacionaram com ela antes da transição, entre 2011 e 2021. Ainda conforme a Folha de S. Paulo, a skatista teria forçado as companheiras a se vestirem com roupas masculinas, como cuecas e bermuda.
Ela também teria proibido o uso de maquiagens e acessórios, além de coagi-las a cortar o cabelo curto. A polícia enquadrou os relatos como violência psicológica contra a mulher.
Segundo reportagem, a denunciante menor de idade teria conhecido Luiza Marchiori aos 14 anos, quando a skatista tinha 22 anos. Ela passou a acompanhar a adolescente em torneios, com autorização dos pais.
Luiza, no entanto, teria constrangido sexualmente a jovem. Ela a teria coagido a dormir na mesma cama e tocar em seu órgão genital.
A advogada Bruna Brigoni, que representa cinco vítimas, disse à Folha de S. Paulo que mais de dez mulheres a procuraram quando as denúncias começaram a surgir nas redes sociais. “A grande maioria passou por agressões físicas”, afirmou a advogada.
Os inquéritos apontam que Luiza Marchiori tinha ciúmes excessivos, era controladora e hostil. Uma das vítimas contou que a skatista tinha ciúme de seu cachorro e chegou a agredi-lo.
“Um dia ela ficou descontrolada, veio para cima e eu vi que ela ia espancar meu cachorro. Peguei ele no colo e ela começou a dar chineladas e socos no cachorro e em mim”, relatou a ex-namorada.
Gritos, xingamentos, cárcere privado e ameaças eram constantes. As vítimas passaram a compartilhar relatos no TikTok, o que chamou atenção para o caso.
“Desde o início eu queria denunciá-la, mas achava que meu depoimento sozinho não teria força”, completou uma das ex-companheiras de Luiza.
Outra denunciante, cuja filha tinha 3 anos na época do relacionamento, registrou no boletim de ocorrência que a criança foi alvo de gritos, privação de sono e tortura psicológica pela skatista.
O que diz a defesa de Luiza Marchiori?
A skatista de Santa Catarina se pronunciou através das redes sociais nesta sexta-feira (8). Ela disse que as acusações seriam motivadas por transfobia e teriam começado no primeiro campeonato em que competiu na categoria feminina
“Estou sendo vítima de um boicote extremamente gigantesco, absurdo. Tudo começou quando eu transicionei”, disse.
“Ser mulher trans não é fácil, agora ser uma mulher trans atleta é muito mais difícil. Como não conseguiram de maneira nenhuma me tirar das competições, me tirar do feminino, começaram os ataques na internet”, completou.
A advogada Larissa Krétzër, que representa Luiza Marchiori, afirmou ao ND Mais que se trata de um “complô” e que a defesa nega todas as acusações.
Leia a nota na íntegra:
“Inicialmente, repisa-se que a defesa nega todas as acusações. Luiza prestou depoimento em dois inquéritos em andamento e está sendo alvo de um complô para intimidá-la no esporte.
Desde que Luiza realizou sua transição de gênero e decidiu competir no skate, os ataques começaram. É um caso claro de ataque transfóbico. Inclusive, a defesa teve acesso a manifestações públicas de transfobia de uma das suas concorrentes, antes da lavratura do boletim de ocorrência de supostos abusos sexuais pela própria.
Destacamos ainda que, as denúncias visam prejudicar a carreira da atleta, especialmente em um momento em que ela se consolida no esporte como a primeira mulher trans.
Ademais, Luiza atualmente faz tratamento psiquiátrico por conta da exposição e das falsas acusações, com síndrome do pânico e medo de sair em público.”