Pelo segundo dia consecutivo, um grupo de ativistas se reuniu para protestar contra a derrubada das árvores nesta sexta (8). Guarda Civil Metropolitana foi acionada para o local. Moradores denunciam corte das árvores na Av. Sena Madureira
Após recomendação do Ministério Público para paralisar a obra imediatamente, a Prefeitura de São Paulo derrubou árvores do canteiro central da Rua Sena Madureira, na Zona Sul da capital, na manhã desta sexta-feira (8). (Veja vídeo abaixo)
No vídeo, parte de uma árvore de grande porte é cortada e amassa o tapume de ferro da obra, além de quase acertar carros que estavam passando na via.
Pelo segundo dia consecutivo, um grupo de ativistas se reuniu para protestar contra o abate das árvores, usando apitos e carregando cartazes com os dizeres: “Não ao corte das árvores”. Equipes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) também foram acionadas para impedir a aproximação dos manifestantes do local da obra.
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Árvore é derrubada na rua Sena Madureira, Zona Sul de SP
O Ministério Público recomendou à prefeitura que paralise, imediatamente, as obras “considerando-se as discussões ambientais, viárias e contratuais que se sobrepõe às obras que estão em andamento, até que se produzam estudos técnicos mais detalhados pelos órgãos públicos competentes acerca dos impactos socioambientais e urbanísticos que eventuais construções e intervenções possam ocasionar na degradação do referido bioma.”
Moradores da região contaram à TV Globo que desde às 5h30 os funcionários da prefeitura estão no local cortando as árvores.
Manifestantes fazem protesto contra corte de árvores na Rua Sena Madureira
Reprodução/TV Globo
Na quinta (7), a vereadora eleita Renata Falzoni (PSB) foi arrastada e imobilizada por guardas civis quando tentava impedir o corte das árvores. Ela relatou ao g1 ter sofrido lesões na coxa esquerda durante o incidente. O ex-deputado federal e ex-secretário municipal do Meio Ambiente Eduardo Jorge (PV) também foi contido por agentes.
Segundo a vereadora, ao chegar ao local, ela e outros manifestantes abraçaram as árvores na tentativa de impedir a derrubada. Mesmo assim, quatro foram abatidas.
Renata informou que acionou o Ministério Público e órgãos ambientais e patrimoniais para tentar interromper o corte. Ela descreveu como “indescritível a dor” de ver árvores de grande porte sendo cortadas com motosserras.
“Como cidadã, estou perplexa”, declarou a Renata, criticando o projeto do túnel na área, que, segundo ela, inviabiliza um corredor de ônibus e uma ciclovia, e ainda interrompe o curso de um rio. Ela classificou a obra como um “crime de mobilidade, urbanístico, ambiental e social”.
Durante o protesto, uma pessoa foi detida e levada ao 16º Distrito Policial. Cerca de 30 agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar (PM) estão no local para controlar a situação. Aproximadamente 40 manifestantes permanecem na área, incluindo representantes da comunidade local e assessores de políticos que questionam a legalidade dos cortes de árvores.
Vereadora eleita e ex-candidato a presidente são detidos em protesto contra remoção de árvores na Sena Madureira
Reprodução
Obra da prefeitura
A Prefeitura de São Paulo iniciou na quarta (6) a obra para a construção de dois túneis na Rua Sena Madureira, na Zona Sul. Operários começaram a derrubar as árvores do canteiro central apesar de protesto feito por moradores.
Com base num estudo de uma consultoria ambiental, a gestão não reconhece a área como sendo de preservação permanente, diferentemente do que afirmam documentos assinados pelo próprio município.
Do alto, é possível ver o clarão em alguns pontos da rua da Vila Mariana. Os cortes no canteiro central começaram hoje, e os tapumes, que cercam a obra, viraram alvo de protesto de moradores do entorno.
O projeto da gestão Ricardo Nunes (MDB) prevê melhorias para o trânsito na região, mas também o corte de 172 árvores, e a remoção de cerca de 150 famílias que vivem em duas comunidades da região.
A obra vai criar uma ligação entre a Rua Sena Madureira e a Avenida Ricardo Jafet. Para isso, serão construídos os dois túneis que, juntos, somam um 1,6 km de extensão.
O primeiro vai da Rua Botucatu até a altura da Rua Mairinque. E o segundo, da Rua Mairinque até a Rua Embuaçu, passando por baixo da Rua Domingos de Morais. De acordo com a Prefeitura, a construção vai reduzir os congestionamentos e beneficiar mais de 800 mil pessoas que circulam pelos bairros da Vila Mariana, Ipiranga e Jabaquara.
Para abrir caminho para os carros, 78 árvores nativas devem desaparecer, além de outras 94 espécimes exóticas. Os cortes foram autorizados, mediante compensação ambiental, pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, mas moradores do entorno estão fazendo uma série de protestos contra o desmatamento.
Imagem mostra Renata Falzoni abraçada a árvore para evitar remoção
Reprodução/ Arquivo pessoal
A arquiteta e urbanista Elisa Ramalho Rocha, integrante do Conselho de Meio Ambiente da Vila Mariana, conta que essas árvores fazem parte de um corredor verde que interliga os parques Ibirapuera e da Aclimação:
“Importante para ave-fauna, importante para manter a temperatura, importante para promover a biodiversidade entre essas duas áreas verdes. Deveria ser valorizada a existência desse corredor. A gente precisa preservar e enriquecê-lo com outras árvores nativas, em vez de removê-lo”, afirmou.
O túnel também vai passar por uma área que, desde a revisão da Lei de Zoneamento, no ano passado, é reconhecida como ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental).
Em um mapa de 1930 da cidade, disponível no site Geosampa, é possível ver que, por ali, passa o Córrego Embuaçu. O próprio estudo de impacto ambiental, que serviu como base para Prefeitura liberar a obra, destaca a “relevância dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos na área”.
O documento ressalta ainda “a importância de preservar os espaços verdes próximos a corpos d’água, que tem papel vital na manutenção da biodiversidade, no controle de temperatura e na melhoria da qualidade do ar”.
O Córrego Embuaçu era um dos últimos a céu aberto na cidade, mas, já no início da obra, parte dele foi concretada.
A Prefeitura não reconhece a área como APP (Área de Proteção Permanente). Para Elisa Ramalho Rocha, um erro: “Existe uma nascente e um curso d’agua no local. De acordo com a legislação federal, não há dúvidas de que nós temos sim uma APP naquele local”, explicou.
Polêmica também na habitação
A obra também prevê a remoção de duas comunidades instaladas há pelo menos quatro décadas na região: a Souza Ramos e a Luiz Alves. Segundo os moradores, 150 famílias vão ter que se mudar. Elas reclamam que não foram avisadas oficialmente, e que ninguém apresentou um plano de remanejamento.
“Foi pela chegada dos tratores que a gente viu que estava acontecendo alguma coisa”, disse a babá Márcia de Lima, que vive há 35 anos no local. Ela tinha a esperança de, na verdade, ver a casa regularizada, já que a revisão da Lei de Zoneamento também reconheceu a área como de Interesse Social. “Nosso sentimento é de desespero. Nossa habitação é a única coisa que a gente tem”, completou ela.
Contrato já foi alvo de denúncia de corrupção
A obra tinha sido contratada em 2011, pela gestão de Gilberto Kassab. Era para ter ficado pronta em 2012, mas não ficou, e o prefeito seguinte, Fernando Haddad, largou mão do projeto quando assumiu, em 2013.
Desde então, a obra estava parada. Nesse meio tempo, veio à tona uma denúncia de corrupção envolvendo a construção. Em 2018, em um desdobramento da operação Lava-Jato, o ex-presidente da empresa Galvão Engenharia, Dario Queiroz Galvão Filho, revelou ter pagado R$ 1 milhão em propina a Gilberto Kassab para ganhar a licitação e o contrato. Kassab sempre negou.
O caso foi investigado e arquivado pelo Supremo Tribunal Federal, por falta de provas. É este mesmo contrato que a gestão Ricardo Nunes retomou no mês passado. A continuidade do acordo, com adequações e atualizações, foi discutida na Câmara Municipal e aprovada pelo Tribunal de Contas do Município. O argumento da Prefeitura é de que a entregar a obra novamente à Galvão Engenharia sai mais barato do que fazer uma nova licitação. Em valores atualizados, o túnel deve custar R$ 531 milhões – 140% a mais que o valor original da obra, que continua exposto no canteiro da Rua Sena Madureira.
O que diz a Prefeitura
A gestão Ricardo Nunes garante que nenhuma família ficará desalojada, e que os moradores terão duas opções: receber uma indenização ou aceitarem a realocação em uma nova moradia. O local dessa nova habitação não foi revelado, na nota enviada à TV Globo. A Prefeitura disse também que vai preservar 362 árvores existentes no local, e compensar os cortes previstos com o plantio de 266 mudas, dentro do perímetro da obra. Segundo a administração municipal, não foi confirmada a existência de nenhuma nascente hídrica na área, o que implicaria na preservação permanente do espaço.