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Entre o ‘modo trapaça’ de Trump e a defesa da normalidade por Kamala, como chegam os candidatos ao Dia D das eleições nos EUA


Aliados de republicano exibem confiança exacerbada e preparam terreno para a rejeição generalizada diante de uma vitória da democrata. Kamala Harris e Donald Trump
Reuters
“Lixo” é a palavra adequada para definir a corrida eleitoral americana mais competitiva e radicalizada das duas últimas décadas, que supostamente termina nesta terça-feira (5). A vice-presidente democrata Kamala Harris e o ex-presidente republicano Donald Trump chegam ao Dia D do voto empatados nos estados decisivos, sem que nenhum dos mais respeitados pesquisadores se arrisque a apontar um claro vencedor.
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O exército de aliados fanáticos de Trump, ao contrário, exibe a confiança exacerbada do triunfo, preparando o terreno para uma rejeição generalizada e incrédula de seus partidários diante de uma vitória de Kamala.
O ex-presidente embarcou no modo trapaça e, sem apresentar evidências, aponta o dedo para os democratas na manipulação de votos e máquinas eleitorais. Nos últimos comícios, ele se dedicou a minar a confiança pública na eleição. Paralelamente, seus estrategistas preparam uma avalanche de processos para contestar, nos tribunais, possíveis derrotas nos estados cruciais.
Num repeteco de 2020, a campanha republicana vem intensificando a disseminação de vídeos virais e denúncias de supostas irregularidades nos ritos mais corriqueiros do processo eleitoral, concentrando-se na Pensilvânia, o epicentro desta disputa.
Por estas razões, a tensa apuração desta noite se dará sob uma inundação de desinformação e suspeitas infundadas de fraudes. Trump se disse pronto para declarar vitória no máximo até as 23h, enquanto os prognósticos apontam para a demora na contagem dos votos e na divulgação do resultado. Quanto mais incerto o panorama, maiores serão as especulações de fraude alimentadas pelos simpatizantes do candidato republicano.
O manual do universo MAGA (sigla em inglês de “Faça a América Grande Novamente”) reproduz a linguagem de mentiras e ofensas declamadas em tom vulgar pelo ex-presidente e amplificadas pela mídia ultra-radical que o cerca.
Na reta final, Trump ficou mais raivoso e concentrou-se na própria base. Sugeriu que a ex-deputada republicana Liz Cheney, que apoia Kamala, deveria ter armas apontadas para o seu rosto, e fez alusões semelhantes à imprensa. “Eu não me importo se alguém atirar em jornalistas”, considerou.
Vingança e retaliação
A retórica violenta e degradante desta eleição não pareceu abalar os eleitores do ex-presidente, mas provocou repulsa em republicanos moderados. Integrantes de seu governo, como John Kelly, ex-chefe de Gabinete, e Mark Miley, ex-Chefe do Estado Maior do Exército, o retrataram como fascista.
Donald Trump em comício na Carolina do Norte
REUTERS/Brian Snyder
Para Trump, a vitória nesta eleição se resume a vingança e retaliação. Se eleito, ele irá atrás de seus detratores. Demitirá o procurador especial Jack Smith, que o acusou de reter documentos confidenciais do governo e de empenhar-se para anular a eleição de 2020, abrindo o caminho para encerrar dois de seus processos criminais. E foi claro na intenção de recorrer às Forças Armadas para perseguir seus oponentes, que chama de inimigos internos.
Por essas e outras, o ex-presidente imprimiu o tom conturbado e explosivo da disputa. Essa eleição, sem dúvida, é sobre Trump; ele extrapolou limites e incorporou a vulgaridade.
Continuidade e conciliação
Catapultada acidentalmente para a liderança da campanha democrata quatro meses antes do pleito, a vice-presidente de Biden precisou se apresentar a uma parcela do eleitorado e se jogou freneticamente na cruzada pelo voto. Kamala Harris é a candidata da continuidade, da conciliação e da normalidade. Oferece poucas surpresas, mas isso diz muito sobre o futuro dos EUA e do mundo.
Seus discursos são didáticos e repetitivos — a favor da união e contra o caos e a violência política. Kamala injetou ânimo e energia a uma campanha democrata que se revelou desajustada sob a liderança de Biden.
Kamala Harris durante evento de campanha no Michigan, neste domingo (3).
Leah Millis/Reuters
A animação dos primeiros comícios comandados pela candidata que poderá ser a primeira mulher de origem asiática e caribenha a tornar-se presidente, contudo, se acomodou. A vice-presidente ficou a reboque, ora reagindo às barbaridades que saiam de sua boca, ora deixando que ele próprio se emaranhasse nelas.
Kamala fez das ameaças à democracia e da defesa da liberdade reprodutiva os eixos de sua candidatura. Ela ganhou vantagem junto ao eleitorado feminino, com uma vantagem de 11 pontos neste segmento sobre Trump, segundo a pesquisa ABC/Ipsos divulgada no domingo. Estima-se que este seja o seu maior trunfo.
Bajulado por figuras machistas que vão do bilionário Elon Musk ao ex-lutador Hulk Hogan, o ex-presidente correu atrás do voto das mulheres, de uma forma torta: anunciou que, se voltar à Casa Branca, as protegerá “quer gostem ou não”. A promessa soou mais como ameaça do que proteção. O candidato republicano desfruta da vantagem entre o eleitorado masculino — 5 pontos, de acordo com a mesma pesquisa ABC/Ipsos.
Nesta escolha rotulada entre a marxista de esquerda radical e o tirano fascista, entre a vice-presidente que defende a ordem constitucional e o ex-presidente que quer atropelar as instituições, a única certeza desta eleição é que o vitorioso governará um país dividido.
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