Longe do glamour dos estados americanos, no Brasil as cidades têm atrativos na natureza, no artesanato e na cavalgada – e não dão a mínima atenção para as eleições nos EUA. Cidade menos populosa do MA leva nome da maior cidade dos EUA; conheça a Nova Iorque maranhense
Divulgação
No próximo dia 5 de novembro, a disputa pela presidência dos EUA será acirrada entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris. Mas nos municípios brasileiros da Califórnia, Flórida e Nova Iorque, ninguém está preocupado com quem será eleito presidente dos Estados Unidos, apesar das cidades levarem o nome de três importantes estados americanos.
O g1 procurou moradores das cidades brasileiras para saber sobre as semelhanças com os estados americanos, e a relação com as eleições.
Califórnia (do Paraná)
Município de Califórnia, localizado no norte do Paraná
Prefeitura Municipal de Califórnia
O município de Califórnia completará 69 anos no próximo mês e conta com quase 9 mil habitantes, segundo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Assim como nos Estados Unidos, a Califórnia paranaense é marcada pela cultura interiorana, com forte apelo ao campo e ao estilo country. Mas quando o assunto é a eleição nos EUA, ninguém está interessado.
“Não tem nada dos Estados Unidos [por aqui]. Nós somos de Califórnia, né? Nós tivemos aqui a eleição nossa e não teve nenhuma reportagem dos Estados Unidos de alguém apoiando Califórnia [no Paraná]”, brincou um vereador.
Flórida (no Paraná)
Localizada no norte do Paraná, a cidade de Flórida tem 2.652 habitantes.
Prefeitura Municipal de Flórida
Já a cidade de Flórida tem 64 anos e, de acordo com o Censo Demográfico 2022, possui 2.652 habitantes que não estão preocupados se o próximo presidente americano será Donald Trump ou Kamala Harris.
Veja também: ‘Só se fala em outra coisa’: cidades do Paraná que possuem nomes de estados americanos não estão nem aí para as eleições dos EUA
A cidade levou o nome do estado norte-americano porque os fundadores acharam o clima e a vegetação parecidos, tanto no Paraná quanto nos EUA. O estilo country também é evidente.
A agente administrativa Bruna Caroline Tows da Silva mora em Flórida há 11 anos e conta que isso fica evidente quando se observa o evento mais tradicional da cidade: a cavalgada.
“A cavalgada acontece duas semanas antes das festividades de emancipação política da cidade, que é em julho. É uma festa tradicional que movimenta bastante a cultura aqui da cidade. Na cavalgada, as pessoas se vestem com um estilo country, com bota, chapéu, cintos com fivelas e é muito legal”, conta.
O que as cidades do PR com nomes de estados americanos pensam sobre eleições dos EUA?
Nova Iorque (do Maranhão)
Enquanto isso, no interior do Maranhão, há um município que leva o nome do estado de Nova Iorque, que também possui a mais populosa e famosa cidade dos Estados Unidos, de mesmo nome. Mas, ao contrário da New York americana (a mais de 4 milhões de km de distância), a cidade maranhense é a menor do estado.
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Localizada na divisa entre Maranhão e Piauí, chamada de região ‘Meio Norte’, próxima ao sertão nordestino e a cerca de 565 km de São Luís, Nova Iorque é a cidade maranhense com o menor número populacional.
Times Square, em Nova York, em foto de abril de 2022
Ramey Logan/Wikimedia Commons
São cerca de 4.320 habitantes que povoam uma área de, aproximadamente, 968 km, segundo o IBGE. Enquanto a Nova York dos EUA tem cerca de 8,7 milhões de habitantes.
“Às vezes, tem gente que visita por causa do nome da cidade. Um dia desses atendi alguns bolivianos. Temos alguns lugares com nomes que remetem à cidade dos Estados Unidos”, afirma Gilvan Saraiva, presidente da colônia de pescadores de Nova Iorque do MA e morador há 48 anos.
Lugar pacato
Cidade menos populosa do MA leva nome da maior cidade dos EUA; conheça a Nova Iorque maranhense
Divulgação/Prefeitura de Nova Iorque
Longe do glamour da Times Square, da Wall Street e dos arranha-céus, no Brasil a Nova Iorque conta com casas e praças simples, com uma população que vive da pesca e de produtos artesanais, produzidos por microempreendedores e trabalhadores autônomos. Além disso, o turismo também uma importante fonte de renda na região.
Banhada pelo Rio Parnaíba, a cidade fica no Sul do Maranhão e é um lugar tranquilo, que oferece aos moradores e visitantes as belezas naturais de rios e uma “praia” artificial que leva o nome de Praia do Caju, formando por uma barragem.
Nova Iorque, no Maranhão, carrega algumas referências da Nova York americana
g1
Nesse pequeno paraíso no interior do Maranhão, as ligações com Nova York ficam apenas no nome. Por lá, todo o burburinho em torno das eleições de 5 de novembro são apenas vistos pelo noticiário da TV, mas não causam nenhum tipo de comoção para a comunidade local.
“Aqui a população sabe da Nova York dos Estados Unidos pelo noticiário mesmo, apenas. Mas, temos as ilhas Manhattan, uma estátua da liberdade em um resort, que remetem aos Estados Unidos”, comenta a secretária de Turismo do município, Deborah Franco.
Secretária de Turismo de Nova Iorque do MA, Deborah Franco, em frente a ‘Times Square’ montada para a realização de uma ação de marketing feita por um banco, na cidade
Arquivo pessoal
História sobre o nome da cidade
A história da cidade de Nova Iorque tem início no século XIX, quando a região integrava a cidade de Patos Bons e tinha como moradores uma família portuguesa os habitantes de uma fazenda de nome Sussuapara. A fazenda desapareceu com o assassinato de seu proprietário.
Mas é a partir de 1871 que o local começa a se desenvolver mais, com a chegada do americano Eduardo Burnet, que era de Nova York, nos EUA, e daria o nome de sua terra natal para a região na qual passou a morar, no interior do Maranhão.
Em 2017, a TV Mirante visitou a cidade de Nova Iorque no Maranhão. Veja, no vídeo abaixo, relatos de moradores e imagens da antiga e da nova cidade.
Repórter Mirante apresenta a Nova Iorque do Maranhão
Segundo a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Burnet era engenheiro e foi para a região por determinação do governo imperial brasileiro, para fazer a limpeza do Rio Parnaíba, que era obstruído por cachoeiras, que impediam a navegação e o desenvolvimento comercial da área.
Eduardo Burnet se instalou na região e construiu uma casa de telha, dando início a um comércio. Já em 1996, o americano fundou uma vila, que foi chamada de Vila Nova e foi desmembrada de Patos Bons.
Com o crescimento da vila, que ficava às margens do rio Parnaíba e chegou a ser o centro do comércio de alimentos entre o Maranhão e Piauí, Burnet decidiu mudar o nome para Nova Iorque, em homenagem à sua terra. Junto aos brasileiros Bernardino do Espírito Santo e Silva, Justino Neiva de Souza e João Henrique Ferreira, a região foi prosperando e sendo mais povoada.
A vila tornou-se, oficialmente, Cidade de Nova Iorque em 29 de março de 1938, por meio de um decreto-lei.
Das inundações à cidade projetada
Cidade menos populosa do MA leva nome da maior cidade dos EUA; conheça a Nova Iorque maranhense
Divulgação/Prefeitura de Nova Iorque
Por volta de 1926, o rio Parnaíba inundou a localidade que, até então, era vila. Uma pesquisa feita com moradores da cidade em 2005, por Helen Lopes de Sousa, Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco, aponta que choveu quatro dias e quatro noites sem parar.
A população foi pega de surpresa pelo transbordamento do rio e se viu obrigada a abandonar suas casas. A força das águas foi tanta, que todas as residências, prédios públicos e comércios foram arrastados pela correnteza.
“A situação foi doida, pois a água vinha, vinha. Quando ela vinha de novo, ficava na frente lá de casa. Meu pai dizia: menina, eu vou mudar porque essa água ta vindo muito depressa. Ele tinha bote, canoa e passou a noite toda mudando o povo e quando foi pela manhã, a água já cobria por cima a cidade, dentro da cidade. Foi rápida a enchente. Era como água do riacho rebolando tudo, não ficou nem uma casa, só restaram duas casas que ficava no alto. Isso foi em março de 1926. Durante três dias, cinco dias, oito dias a água ficou parada. Acabou com Nova Iorque”, relato de Dona Mariquinha, em 2005, quando ela tinha 94 anos de idade.
Com a inundação, a população se mudou para a parte mais alta, que não havia sido atingida pelas águas.
Planta original da Velha cidade de Nova Iorque.
Planejamento físico – COHEBE, 1967. P. 20.
Já em 1968, sendo considerada cidade, Nova Iorque sofreu uma nova inundação, dessa vez por causa da construção da Barragem de Boa Esperança, sendo que o município foi tomado pelas águas da represa.
Depois dessa nova inundação, o Governo Federal destinou recursos para construir uma nova sede, em um local distante, pois a área onde a cidade estava corria risco de sofrer outras inundações. Assim renasceu Nova Iorque, um município totalmente planejado como cidade de pequeno porte, onde todas as ruas são interligadas ao Centro.
Cidade de Nova Iorque no Maranhão vista de satélite.
Reprodução/Google Earth
Ligações com a Nova York americana
Empire State Building, em Nova York, nos EUA, em foto de novembro de 2023
Andrew Parlette/Wikimedia Commons
Além de ter o mesmo nome, aportuguesado, da cidade americana, Nova Iorque do Maranhão também traz algumas referências à maior cidade dos EUA, como as ilhas chamadas de Manrrattan, em homenagem à Manhattan, o bairro mais antigo e povoado de Nova York. As ilhas são propriedades particulares, mas que podem ser visitadas pelos turistas.
Outra referência com Nova York é uma réplica da Estátua da Liberdade em frente a um hotel da cidade, que chama a atenção dos turistas.
Cidade menos populosa do MA leva nome da maior cidade dos EUA; conheça a Nova Iorque maranhense
Divulgação/Prefeitura de Nova Iorque
Estátua da liberdade em frente a hotel no município de Nova Iorque do Maranhão
Divulgação/Hotel New York
Em julho de 2023, o governo do Maranhão assinou uma ordem de serviço para que fosse feita a reforma da praça central da cidade e, também, a construção de uma réplica da estátua da Liberdade, medindo 8,4 metros da base ao topo. O objetivo era incentivar ainda mais o turismo na região, mas a estátua não foi construída.
Maquete da praça central de Nova Iorque com o monumento da estátua da Liberdade.
Reprodução/Governo do Maranhão
Ao g1, a Secretaria de Estado de Governo (Segov) informou que a reforma da Praça Central foi iniciada em agosto de 2023 e concluída em novembro do mesmo ano. Já a instalação da réplica da estátua da Liberdade não foi realizada, pois, “não houve empresas interessadas” no processo licitatório para aquisição da escultura. A Segov disse ainda que, na segunda tentativa, a empresa interessada não apresentou a documentação necessária para firmar o contrato.
“Um novo certame foi realizado e a empresa vencedora teve contrato homologado neste mês de outubro, obedecendo todos os trâmites legais. Com o contrato firmado, a estátua será produzida e colocada em seguida na Praça Central”, afirmou a Segov.
O que fazer em Nova Iorque
Lago da Boa Esperança em Nova Iorque, no Maranhão.
Rafaella Franco
O principal ponto turístico da cidade maranhense é a Praia do Caju, que é, na verdade, parte de um lago artificial de água doce, o Lago da Boa Esperança, formado pela construção da Barragem de Boa Esperança, que inundou a cidade.
Após a inundação, parte das águas do Rio Parnaíba ficaram represadas, virando o maior lago artificial do estado e um dos maiores do Brasil. Por baixo das águas do Lago da Boa Esperança, ainda se encontra parte da antiga cidade de Nova Iorque submersa.
Praia do Caju em Nova Iorque no Maranhão.
Divulgação/Redes sociais
A Praia do Caju, maior atrativo do Lago da Boa Esperança, fica a aproximadamente 2 km do Centro da cidade e atrai um grande número de turistas de cidades do Maranhão e de outros estados, que vão em busca de tranquilidade, principalmente, entre os meses de junho e outubro, com o fim das chuvas na região.
Outro atrativo é as Ilhas de Manhattan, que ficam no meio do Lago da Boa Esperança. Quem decide visitar o lugar, conta com um maravilhoso passeio de barco, além de poder curtir um lindo pôr do sol no meio do lago.
Ilhas de Manhattan, que ficam no meio do Lago da Boa Esperança, na cidade de Nova Iorque no Maranhão.
Reprodução/TV Mirante
Uma outra atração turística é o passeio de barco sobre a velha Nova Iorque que ficou submersa. Em algumas partes, o Lago da Boa Esperança chega a uma profundidade de 45 metros, onde há vestígios da cidade inundada, além de florestas de babaçu e carnaubais.
A cidade também fica mais movimentada no mês de junho, quando é comemorado o festejo de Santo Antônio, padroeiro de Nova Iorque.
Já no mês de setembro, é realizado o Festival de Caju, considerado o maior evento do calendário da cidade, que é prestigiado por pessoas de várias cidades vizinhas.
Apesar da maior parte do turismo ser oriundo das belezas naturais da cidade, a Prefeitura de Nova Iorque não esconde que seria interessante ser mais visitada por causa do nome do município.
“A gente atrai aqui mais turistas pela Praia do Caju do que pelo nome propriamente dito assim em Nova Iorque? Mas, mas ainda assim existe essa conexão com os Estados Unidos. Nós temos aqui um resort com a Estátua da Liberdade, temos aqui o nome da Lotérica Manhattan, Condomínio Manhattan, Ilhas Manhattan … e também essa possível estátua que a gente está aguardando”, finaliza Deborah, secretária de Turismo do município.
