Emiliano Lasalvia
Milhares de pessoas se mobilizaram neste sábado (2) em Buenos Aires na Marcha do Orgulho anual organizada pela comunidade LGBTQIAPN+ da Argentina, com shows, desfile de carros alegóricos e protestos contra as medidas de ajuste fiscal do presidente Javier Milei e o aumento dos discursos de ódio.
Entre glitter, bandeiras multicoloridas e drag queens, viram-se cartazes com frases como “Visível e Gay, não como Milei” e “Muito Sexo Gay”, em referência a uma declaração de agosto na qual o presidente comparava o progressismo a uma prisão onde havia muitas relações homossexuais.
Por trás do clima festivo, com música alta e roupas coloridas, os slogans eram direcionados ao governo, tanto pelo ambiente hostil denunciado por muitos quanto pelos cortes orçamentários que afetam a prevenção e o tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, entre outras questões.
“Vamos marchar como uma resposta política, com uma proposta política e como um grande exercício e urgência de visibilidade. Existimos, resistimos, estamos e estaremos”, declarou o ativista LGBTQIAPN+ Lucas Gutiérrez à AFP.
No seu primeiro ano de governo, Milei dissolveu órgãos como o Ministério das Mulheres, Gêneros e Diversidade e o Instituto Nacional contra a Discriminação (Inadi) e reduziu fundos em políticas públicas de saúde como parte de seu plano “motosserra” para alcançar o superávit fiscal.
“No contexto político em que estamos, me parece que esta é uma das marchas mais importantes”, diz Emilce Gorosito, uma funcionária pública de 36 anos que desfilou na marcha com um traje prateado deslumbrante: “Hoje em dia, nosso presidente está atacando nossos direitos”, afirma.
“É a quarta vez que venho e, para mim, como identidade travesti trans, é extremamente importante, porque é voltar à rua onde nascemos, onde nos formamos, onde nos ensinaram que precisamos sair para conquistar direitos”, conta Gorosito à AFP.
“Não há liberdade sem direitos nem políticas públicas” e “Não há liberdade com ajuste e repressão” são os lemas da mobilização, acompanhados da exigência de “Lei Integral Trans e Lei Antidiscriminatória já”.
– “Que nos deixem ser” –
Lucas Bouder, um coordenador de viagens de 25 anos, percorreu 250 km desde a cidade de Junín para participar da marcha. Ele se sente feliz por estar “cercado de tanto brilho e cor” e diz que a mobilização deste ano é especialmente importante para combater o aumento dos “discursos de ódio”.
Em agosto, o ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, declarou no Congresso que seu governo rejeitava “a diversidade de identidades sexuais que não se alinham com a biologia”, declarações que foram repudiadas por grande parte do espectro político.
A Federação Argentina LGBTQIAPN+ então rejeitou as declarações de um ministro que “deveria estar protegendo” os direitos humanos fundamentais “em vez de violá-los”.
“Quando não há uma mensagem que ajude a apagar todo esse ódio e, pelo contrário, o incentiva, é quando mais precisamos estar aqui unidos, pedindo por nossos direitos e que nos deixem ser, basicamente; não pedimos muito”, diz Bouder à AFP.
– Escassez –
“É negativo o descaso e a violência com que as pessoas estão sendo tratadas hoje, as minorias de todo tipo”, comenta Claudio Gronski, um contador de 60 anos que participou da marcha com sua barba multicolorida.
“Hoje não estão distribuindo medicação para o HIV, não estão distribuindo preservativos; é algo que nos faz retroceder a uma época inicial de intolerância que não deveria existir”, diz à AFP.
A Frente pela Saúde das Pessoas com HIV, Hepatite e Tuberculose alertou em um comunicado que o orçamento apresentado pelo governo para 2025, que está sendo analisado no Congresso, prevê um corte de 76% para a resposta ao HIV, hepatites virais, doenças sexualmente transmissíveis e tuberculose.
“Durante 2024, devido à paralisação das compras públicas, temos enfrentado a falta de alguns medicamentos, o que forçou mudanças de tratamento, além da escassez de preservativos e de reagentes para exames de carga viral”, destacou o comunicado.