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Pulguinha-d’água: conheça o microcrustáceo que habita buracos de árvore na Mata Atlântica


Espécie habita cavidades no Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais. Cavidades de árvores são habitat para o microcrustáceo Micromoina arboricola
Yasmine Antonini
Uma nova pesquisa investigou a distribuição do microcrustáceo Micromoina arboricola, conhecida como pulguinha-d’água, uma espécie rara que habita cavidades de árvores cheias de água na Mata Atlântica.
Entre as várias estruturas, incluindo cascas, raízes, galhos e folhas, os buracos de árvores cheios de água se destacam como microhabitats importantes e complexos que oferecem condições muito específicas, podendo variar em tamanho, altura do solo e profundidade.
Essas cavidades nos troncos são preenchidas com água apenas em certas épocas do ano, criando um ambiente especial e desafiador para os organismos que ali vivem. Um habitat com pouca luz, água mais ácida e muita matéria orgânica, o que deixa a água turva e escura.
Pulguinha-d’água (Micromoina arboricola)
Bruna Rayari e Débora Lima
Durante a pesquisa, os cientistas investigaram uma floresta localizada no Parque Estadual do Rio Doce – que abrange as cidades de Dionísio (MG), Marliéria (MG) e Timóteo (MG) – analisando cavidades de árvores para identificar fatores que influenciam a presença e densidade da espécie nesses microhabitats.
Antes do trabalho, em um artigo publicado em 2013, a ocorrência do pequeno crustáceo só havia sido registrada em um único buraco de árvore da Mata Atlântica. No entanto, o novo estudo ampliou a distribuição da pulguinha.
Publicado em outubro, o artigo aponta que o microcrustáceo ocorreu em seis de oito cavidades (75%) analisadas, incluindo na árvore onde a espécie foi encontrada e descrita pela primeira vez. O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
“Esse animal faz parte de uma cadeia alimentar muito particular, eles compõem o que a gente chama de zooplankton, e serve de alimento para lavas de insetos, lavas de peixe, girinos, etc”, explica Yasmine Antonini, uma das autoras do artigo.
A presença da Micromoina arboricola está especialmente associada a buracos situados em alturas mais baixas das árvores. Cavidades mais elevadas tinham menor densidade do crustáceo, sugerindo que fatores abióticos, como radiação solar, influenciam sua distribuição.
‘Ovos de resistência’
Por que a pulguinha colonizou esses microhabitats é uma dúvida que os cientistas ainda não sabem responder, mas eles têm uma ideia de como isso ocorreu. A espécie coloca ovos microscópicos e muito resistentes, que podem se aderir ao corpo de diferentes animais.
“Vamos imaginar que um beija-flor vai tomar água nessa coleção de água parada. Ele vai enfiar o bico nela e esses ovos se aderem no corpo dele quando ele vai tomar água em uma outra cavidade, então ele acaba transferindo esses ovos de resistência de uma cavidade para outra”, exemplifica a especialista.
Pulguinha-d’água (Micromoina arboricola)
Raquel Casino
“O que intrigou bastante a gente é que, no caso do Parque do Rio Doce, esse grupo de zooplankton é estudado há mais de 30 anos e ninguém nunca detectou esse animalzinho nas lagoas do parque. O parque tem mais de 40 lagoas”, afirma Yasmine.
A descoberta evidencia a importância dessas coleções de água parada para manutenção da espécie e para preservá-las, é preciso preservar florestas antigas com árvores que possuem cavidades. A ocorrência da pulguinha em apenas seis cavidades de uma extensa área de quase 5 mil m² alerta para a raridade dela no ambiente.
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