Já o registro de, pelo menos, três mortes entre civis. Líder paramilitar afirma que entregará chefe do exército sudanês à Justiça ou ‘será morto’. O principal grupo paramilitar do Sudão afirma ter assumido o controle do palácio presidencial, da residência do chefe do exército, do aeroporto internacional de Cartum (capital do país), além de aeroportos nas cidades de Merowe e El Obeid neste sábado (15), em uma aparente tentativa de golpe.
Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti e líder das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), nome do grupo paramilitar, disse que, com a tomada de poder, ou entregará o chefe do exército sudanês à Justiça ou “será morto”.
Veja o que se sabe sobre o conflito até o momento:
O exército do Sudão afirma que, além de tomar o controle de diversos locais, a RSF tentou atacar suas tropas e, por isso, a força aérea do país está conduzindo operações contra o grupo;
A RSF, que analistas estimam ter cerca de 100 mil homens, diz que suas forças foram atacadas primeiro, quando o exército cercou uma de suas bases e abriu fogo com armas pesadas;
Testemunhas relatam tiroteios pesados em diversas partes do país, aumentando o medo de um conflito generalizado;
Médicos sudaneses informaram às agências de notícias que confrontos ocorreram em bairros residenciais e que civis ficaram feridos – já o registro de três mortes;
Um jornalista da Reuters viu canhões e veículos blindados nas ruas da capital e ouviu tiros de armas pesadas perto do quartel-general do exército e da RSF;
Imagens de emissoras sudanesas mostraram uma aeronave militar no céu acima de Cartum, mas agências de notícias internacionais ainda não conseguiram confirmar o material;
Os confrontos também estavam ocorrendo na sede da TV estatal do Sudão, disse brevemente um âncora que apareceu na tela.
A estatal Saudi Arabian Airlines disse que uma de suas aeronaves Airbus “sofreu um acidente” no aeroporto de Cartum, sem fornecer mais detalhes, e suspendeu voos que tenham origem ou destino no Sudão.
Histórico
A RSF foi formada por milícias acusadas de crimes de guerra no conflito de Darfur. Em junho de 2019, as forças de segurança lideradas pelo grupo invadiram um acampamento pró-democracia de Cartum e quase 130 pessoas morreram, de acordo com uma contagem de médicos ativistas.
Um confronto prolongado entre a RSF e o exército pode piorar significativamente a situação de segurança em um vasto país que já enfrenta o colapso econômico e os surtos de violência tribal.
Hemedti é vice-líder do Conselho Soberano, chefiado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, desde 2019.
Os partidos políticos civis que assinaram um acordo inicial de compartilhamento de poder com o exército e o RSF os conclamaram a cessar as hostilidades. A embaixada russa também pediu o fim da violência.
As hostilidades seguiram-se a dias de tensão entre o exército e o RSF, o que poderia minar os esforços de longa data para devolver o Sudão ao governo civil após lutas pelo poder e golpes militares.
Hemedti, que já foi um dos líderes de milícia mais temidos e implacáveis em Darfur, colocou-se na vanguarda de uma transição planejada para a democracia, perturbando outros governantes militares e desencadeando uma mobilização de tropas na capital Cartum.
A divisão entre as forças veio à tona na quinta-feira, quando o exército disse que movimentos recentes, particularmente em Merowe, por RSF eram ilegais.
A RSF chamou as ações do exército de “ataque bruto” que deve ser condenado. Hemedti disse que o grupo paramilitar informou os mediadores locais e internacionais sobre os acontecimentos.
A RSF, que junto com o exército derrubou o autocrata de longa data Omar al-Bashir em 2019, começou a redistribuir unidades em Cartum e em outros lugares em meio a negociações no mês passado sobre sua integração nas forças armadas sob um plano de transição que levaria a novas eleições.
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O que dizem as autoridades mundiais
O Egito, um dos estados árabes mais influentes, expressou grande preocupação com os confrontos e pediu a todas as partes que tenham moderação, disse o Ministério das Relações Exteriores.
O embaixador dos EUA no Sudão, John Godfrey, disse que a escalada das tensões para os combates diretos era “extremamente perigosa” e pediu urgentemente à liderança sênior que pare os confrontos. Godfrey disse que ele e a equipe da embaixada estavam abrigados no local.
O chefe de política externa da União Europeia, Joseph Borrell, pediu no sábado a todas as forças envolvidas para interromper a violência no Sudão imediatamente e disse em um tweet que todos os funcionários da UE no país estavam seguros.
Grupo paramilitar do Sudão toma palácio presidencial e conflitos armados se espalham pelo país
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