Segundo estudo, 80% das famílias nessa faixa de renda são chefiadas por mulheres. Pesquisadoras apontam necessidade de políticas de qualificação e incentivo a pequenos negócios
Atendimento na Central do Cadastro Único de Piracicaba
Divulgação/ Prefeitura de Piracicaba
Das 221,2 mil pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza na Região Metropolitana de Piracicaba (RMP), 89,5 mil são crianças, adolescente com menos de 15 anos ou idosos com mais de 65, o que representa 40,5% do total. Além disso, 80% das famílias nessa faixa de renda são chefiadas por mulheres.
Os dados são do Cadastro Único (CadÚnico), do Ministério da Cidadania, e foram apresentados em um estudo do Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba. De acordo com o levantamento, 401 mil pessoas estavam inscritas no CadÚnico – porta de entrada para os programas sociais do governo – em fevereiro de 2023, um volume 6,6% maior do que em dezembro de 20222. Entre os inscritos, 55% se encontram em situação de extrema pobreza.
Conforme é possível ver no quadro abaixo, as cidades com maior percentual da população nessa faixa de renda são Mombuca (SP), Elias Fausto (SP), Conchal (SP), Santa Maria da Serra (SP), Capivari (SP), Charqueada (SP) e Rafard (SP).
“Nesses, é comum que a atividade econômica seja menos dinâmica. São municípios que também possuem dificuldade em gerar empregos formais e, quando geram, a maior parcela são empregos de baixa qualidade e com menor remuneração”, aponta análise assinada pelas pesquisadoras Cristiane Feltre – professora da Escola de Negócios da PUC-Campinas – e Eliana Tadeu Terci – professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP.
Em relação às crianças, adolescente e idosos pobres ou extremamentes pobres, as professoras pontuam que são faixas populacionais em situação de baixa ou nenhuma elegiblidade para o mercado de trabalho. E que, entre os elegíveis em questão de idade, a maioria possui sequer o ensino médio incompleto.
“Na RMP, a maior parte dos empregos formais são ocupados por pessoas que possuem pelo menos o ensino médio completo, o que para a maioria das pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza é uma barreira à inclusão no mercado de trabalho formal”, explicam.
Em números, 55% da população da RMP em empregos com carteira assinada têm ensino médio completo, 5,5% tem o médio incompleto, 18,5% tem o ensino fudamental concluído, 17,5% possui ensino superior finalizado e 3,4% está com a graduação incompleta.
Cenário agravado para população feminina
Segundo o estudo, a inserção no mercado de trabalho é ainda mais dificultada para as mulheres. Na RMP, segundo as estatísticas, 40% das vagas formais são ocupadas por elas. Das pessoas minimamente elegíveis para o mercado de trabalho e que sobrevivem com menos de R$ 210 mensais, 65% são mulheres. Menos de 35% delas exerceram atividade remunerada nos últimos 12 meses.
Quando se observa o núcleo familiar, essa diferença se torna ainda mais evidente. Das famílias inscritas no Cadastro Único na faixa de renda citada, 80% são chefiadas por mulheres, ou seja, têm uma mulher como a principal provedora financeira.
“Os empregos em tempo parcial e com horários flexíveis têm como característica remunerações menores e mais instáveis. Nessa condição, mulheres acabam optando por esse tipo de trabalho, mantendo os benefícios de transferência de renda, que geram maior segurança financeira, pois são oferecidos com regularidade”, aponta trecho da análise.
Atendimento no CadÚnico de Piracicaba
Edijan Del Santo/EPTV
Qualificação e apoio a pequeno negócio
Para as autoras do estudo, medidas do poder público como o Benefício da Prestação Continuada e o Benefício Eventual, que coexistem com uma rede que angaria recursos, alimentos, roupas e outros itens para famílias carentes amenizam a situação de pobreza, mas não têm o poder de retirar essas pessoas dessas condições.
“Mesmo para aquela população que é elegível para o mercado de trabalho, as condições econômicas regionais, o nível de instrução, a estrutura familiar, a necessidade de permanência no domicílio para cuidar de crianças ou idosos, os afazeres domésticos, o histórico de violência, o abuso de drogas ou mesmo a estigmatização carcerária podem criar uma barreira para sua inserção no mercado formal”, elencam.
As professoras sugerem políticas públicas que priorizem manutenção de adolescente no ensino médio técnico, medidas que promovam os pequenos negócios, cooperativas e fortalecimento da cultura local nas comunidades mais atingidas pela pobreza.
“Para a outra parcela, que possui os níveis educacionais mais absorvidos pela atividade econômica, são necessárias políticas de treinamento e qualificação adequados à demanda por mão de obra local”, completam.
Já no caso da desigualdade em relação à população feminina, elas indicam políticas de garantia de que as crianças e adolescentes tenham condições de frequentar a escola e a disponibilidade de benefícios sociais com condicionalidades.
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