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Pirarucu se espalhou por 230 pontos em quase todas as regiões no brasil


Pisciculturas são responsáveis por 80% das introduções e os escapes de estações de reprodução são o principal problema de invasões biológicas da espécie. Pirarucu se espalhou por quase todas as regiões do Brasil
Nanimiranda/Inaturalist
Desde o século XVIII, esse “gigante” nativo da bacia Amazônica, vem sendo predado de uma forma tão intensa que foi parar na lista de espécies ameaçadas.
Se por um lado o pirarucu (Arapaima gigas) corre o risco de desaparecer dos rios onde sempre existiu, por outro, se espalhou por quase todas as regiões do Brasil.
Um estudo feito pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná aponta que a espécie foi introduzida em 230 localidades do país. Cerca de 80% dessas introduções foram feitas por pisciculturas, a maior parte localizada fora da área de ocorrência da espécie. Há registros no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
Pirarucu ameaça espécies nativas no Rio Grande, em SP
Esses piscicultores são autorizados a criarem algumas espécies de peixes não-nativos, desde que sigam uma série de exigências. Vale ressaltar que a criação de peixes também é importante para garantir a segurança alimentar de milhões de pessoas.
Além de um alto valor no mercado, outro atrativo econômico que impulsiona a produção do pirarucu é o crescimento rápido, cerca de 80 centímetros por ano. A espécie também é tolerante a baixas condições de qualidade da água, o que facilita o manejo.
O problema é que esse “bom negócio” econômico, pode se tornar um “péssimo negócio” ambiental, quando pisciculturas com manejos inadequados permitem o escape do pirarucu para os rios.
Nova modalidade de pesca garante renda a pescadores ribeirinhos em SP
O Terra da Gente já mostrou esse problema no rio Grande, na divisa de São Paulo com Minas Gerais. A principal hipótese é que houve um escape de pirarucu em uma área de psicultura localizada no distrito de São João do Marinheiro, em Cardoso. “Debaixo d’água é mais difícil perceber o problema. Se forem poucos indivíduos espalhados pelo rio, raramente, os ribeirinhos vão perceber o peixe. Mas quando o pescador começa a capturar o pirarucu com frequência, é sinal que já tem muito por ali. Já podemos dizer que há uma invasão biológica”, comenta Jean Vitule, pesquisador da Universidade do Paraná.
Para um peixe se tornar invasor, a espécie tem que primeiramente se estabelecer no meio ambiente e depois se disseminar. “O pirarucu é um predador basicamente piscívoro. Uma espécie que come muito peixe e pode comer até mamíferos e roedores pequenos que passam pela água. Até uma ave que caía perto e fique se debatendo, o pirarucu pode predar. Agora imagine o que ele é capaz de fazer com os peixes nativos? Pode acabar com tudo”, alerta Vitule.
Entenda o risco da ‘fusão invasora’
Arquivo TG
O risco da “fusão invasora”
O rio Grande tem mais de mil e trezentos quilômetros de extensão e durante esse trajeto a paisagem foi modificada para a construção de doze reservatórios hidrelétricos. Os peixes nativos que fazem migração e dependem das correntezas sofreram com essas mudanças.
Espécies de outras regiões foram introduzidas ao longo desse percurso, o que provocou um processo de fusão invasora. “É possível que duas, ou, mais espécies exóticas se ajudem e, portanto, acabem facilitando a invasão uma da outra. Aumentam as chances de sobrevivência desses invasores e também os impactos ecológicos. Dependendo da quantidade e de quais espécies forem introduzidas, elas facilitam novas invasões, o que chamamos na biologia de hipótese de fusão invasora”, explica Vitule.
No reservatório de Água Vermelha, no rio Grande, além do pirarucu, também foi introduzido outro peixe amazônico, o tucanaré. Apesar de serem dois predadores vorazes, a menor espécie vira presa fácil e favorece a maior. “Em um rio do Amazonas já foi registrado um pirarucu de quase 300 quilos, um bicho que certamente tem cerca de cem anos. Portanto, um organismo de longevidade grande. Quando você introduz juntos: o tucunaré e o pirarucu, essas espécies invasoras estão coexistindo em um novo ambiente, isso é arriscado e perigoso”, explica Vitule.
A introdução de espécies exóticas em ambiente natural é um “jogo de azar” em que o “apostador” tem a impressão de estar ganhando, mas de repente, perde tudo. Em um primeiro momento, o rio cheio de espécies invasoras, pode dar a impressão de fartura, mas a longo prazo, pesquisadores acreditam que podemos até “perder os rios” nessa “aposta”. “Nós cientistas sabemos pouco sobre os potenciais efeitos e interações entre o conjunto de espécies exóticas invasoras que estamos colocando nos rios e isso só vem aumentando. O ponto chave é que estamos criando armadilhas ecológicas e novas interações que não sabemos os riscos e efeitos a longo prazo”, conclui Vitule.

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