Grupo conseguiu registrar ao canto da Jubarte em janeiro, mas a temporada das baleias no estado vai de junho a novembro, quando os animais migram para se reproduzir. Pesquisadores fazem registro raro de uma baleia cantando no litoral do Espírito Santo
Alguns animais utilizam seu canto para atrair parceiros, para afastar predadores. Mas seja qual for o motivo, “soltar a voz” acaba sendo uma ferramenta importante para a comunicação.
O “baleiês”, que pode atingir quilômetros no meio da imensidão azul do mar, já é captado há anos por pesquisadores e até hoje desperta curiosidade.
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E uma baleia “cantora” fez sua “turnê” fora de época no litoral do Espírito Santo e lançou um “hit” (ouça no começo da reportagem), que foi registrada por pesquisadores do Jubarte Lab, um grupo científico que estuda as baleias.
O litoral do Espírito Santo é rota das baleias, que migram em grupos durante o período reprodutivo, de junho a novembro. Mas, enquanto os pesquisadores monitoravam golfinhos que passavam durante o verão nas praias capixabas, se depararam com a Jubarte “artista solo”.
Segundo o pesquisador e biólogo marinho Joe Barreto, a baleia pode estar “atrasadinha” em relação a temporada de 2022 ou bem adiantada para a nova temporada de reprodução de 2023.
“Não podemos dizer que ela estava perdida, porque essa é uma região onde ela ocorre, se reproduz, nasce. O que acontece é que ela está fora da época dela comum de se estar.”
“Pode ser que no final de temporada ela tenha ficado um pouco mais tempo e começou a migrar para o sul somente agora. Ou também algo mais raro ainda, que ela esteja chegando já para a temporada reprodutiva que vai começar em 2023”, disse o biólogo.
Baleia que passou na Grande Vitória na temporada reprodutiva de 2022.
Reprodução/Leonardo Merçon
Joe acredita que o animal podia estar usando o canto para se comunicar com outra baleia da mesma espécie que estava mais longe.
“Ela pode sim estar tentando se comunicar com outra baleia, já que o canto dela pode ser ouvido há quilômetros de distância.”
“É comum escutar as baleias ao longo da temporada reprodutiva, o fato raro é que nós registramos essa baleia jubarte em janeiro. Nós já monitoramos essa região nessa época do ano, mas não tínhamos encontrado. Não é comum que elas apareçam no verão. Nessa época, a maioria já está na Antártida se alimentando e só depois começam a migração”, explicou Joe.
O poder do canto
Baleias jubarte passam pelo litoral do Espírito Santo durante período reprodutivo
Reprodução/Bruna Rezende
O canto é usado pelas baleias para atrair parceiros durante o período reprodutivo.
“Diferentes espécies se comunicam em diferentes frequências. O animais emitem sons para se comunicar. No caso da baleia-jubarte, o macho utiliza o canto para atrair as fêmeas”, explicou Joe.
Outra curiosidade apontada pelo biólogo é que as baleias cantoras vão mudando seu canto ao longo dos anos.
“As baleias acabam trazendo pra gente o seu ‘hit do momento’. Isso porque o padrão de cantos ao longo dos anos vai ficando mais complexo.
“Cada baleia tem a sua forma de cantar e o seu padrão de canto. Ela mantem um mesmo padrão em uma temporada e na próxima pode ser que ele já mude, na temporada seguinte ele não vai ser igual”, comentou o especialista.
De acordo com a pesquisadora Lilian Sander, especialista em acústica de cetáceos, as baleias-jubarte são conhecidas como baleias cantoras, e são uma espécie que justamente consegue segurar as “notas mais altas”.
“Os sons de comunicação das baleias em geral se apresentam em uma banda de frequência baixa, podendo chegar a valores infrasônicos. A baleia-jubarte, conhecida como baleia cantora, possui vocalizações extremamente variadas, que incluem canções longas e complexas. Os sinais são emitidos em longas sequências. Além disso, as baleia possuem um canto mais grave que dos golfinhos”, disse Lilian.
Monitoramento acústico
Quando baleias chegam muito perto de embarcações é possível ouvir elas cantando
Reprodução/Filipe Moraes
O JubarteLab é um hub científico formado por um grupo de pesquisadores parte do projeto Amigos da Jubarte. O grupo monitora a região da Grande Vitória para poder entender melhor o comportamento de animais aquáticos, principalmente baleias e golfinhos.
O monitoramento é feito com drone e também são captados os sons produzidos pelos animais.
“Esse monitoramento é chamado de monitoramento acústico passivo. Ele é feito em 20 pontos da região da Grande Vitória, de Guarapari até a Serra. Um microfone subaquático consegue captar esses sons de diferentes frequências”, explicou Joe.
O biólogo contou que o “show” das baleias pode ser ouvido ao vivo durante o monitoramento dos pesquisadores.
“As baleias se comunicam em uma frequência mais baixa, e grande parte da frequência que elas se comunicam é possível escutar com o ouvido humano. Já os golfinhos se comunicam em frequências muito mais altas, que a maioria desses sons o ouvido humano não escuta, é inaudível para nós. Para isso, a gente usa programas específicos, para perceber que espécie é, determinada também pela frequência esse som”, disse Joe.
Baleias jubarte macho cantam para atrair as fêmeas
Reprodução/ Filipe Moraes
Durante o período de observação das baleias, de junho a novembro, algumas baleias que chegam muito perto das embarcações acabam dando uma “palinha” para as pessoas que estão no barco.
“É possível ouvir em dois momentos. Um quando as baleias estão bem próximas das embarcações […] se elas estão em comportamento reprodutivo […] quando vários ou um macho perseguem a fêmea para reproduzir. Quando isso acontece, dá pra ouvir do barco os machos cantando. E o outro caso é se qualquer pessoa mergulhar a um ou dois metros de profundidade em uma área que tenha baleia jubarte na época reprodutiva, é possível sim ouvir sem ajuda de hidrofone o canto da jubarte de forma natural”, explicou o coordenador do projeto Amigos da Jubarte, Thiago Ferrari.
O coordenador reforçou que durante os passeios o mergulho próximo aos animais não é permitido por lei.
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