A maioria das coisas da exposição que inaugura o Museu Virtual Sebastião Tapajós veio do acervo pessoal de Tanya Macião, viúva do violonista. Acervo conta de maneira impecável a trajetória do músico paraense
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O Instituto Sebastião Tapajós (IST) lança neste sábado (15), novidades no site dedicado à obra do violonista paraense. A celebração terá uma cerimônia simples e presencial, no Theatro Victória, em Santarém, oeste do Pará, onde vivia o violonista, mas o público do mundo todo já terá acesso a um Museu Virtual, que inaugura com uma exposição site do IST. A ação ocorre na véspera da data de nascimento do músico, que faria 81 no dia 16 de abril, e marca o aniversário de 6 anos do instituto.
A maioria das coisas da exposição que inaugura o Museu Virtual Sebastião Tapajós veio do acervo pessoal de Tanya Macião, que foi esposa de Sebastião e é a guardiã desse legado. Durante o processo do levantamento dos materiais foram encontradas muitas coisas que nem ela mesma lembrava que tinha, como uma caixa cheia de recomendações, malas antigas carregadas de memória.
“Eu convivi com um gênio, mas que era uma pessoa simples, humilde e amorosa. E é isso que se reflete neste acervo, onde destacamos esta genialidade de compositor, simples e grandioso como o rio tapajós que ele dizia ser”, comentou Tanya. Para ela, a disponibilização do acervo de Sebastião Tapajós na internet uma forma de dar oportunidade a todos de conhecer um pouco da vida e obra do músico.
“São partituras, fotos, instrumentos que ele usou, está tudo lá. Isso vai dar às pessoas a oportunidade de conhecer o dia-a-dia do trabalho dele também. Sebastião faz parte da história da música brasileira e saber quem ele foi é conhecer também a história do país. Isso é fundamental não só para a nossa educação, mas também um exemplo para os nossos jovens. Para que eles tenham uma inspiração na vida de que com trabalho e amor ao que se faz, tudo é possível”, concluiu Tanya.
Obra de Sebastião Tapajós poderá ser conhecida por todos em museu virtual
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A ideia de trabalhar e organizar a obra de Sebastião Tapajós nasceu em 2017, quando também foi fundado o Instituto que leva seu nome. Amigos e familiares estavam reunidos na casa do violonista quando a entrega de uma caixa vinda da Alemanha, enviada pelo empresário do músico na Europa, Klaus Schneider, mudou o rumo da conversa.
“Era uma caixa com 10 LPs, e entre eles, grandes clássicos da música do Sebastião Tapajós, como Guitarra Crioula, Guitarra Latina e Terra, entre outros. E foi naquele momento que entendemos que a obra dele precisava ser cuidada de forma que não só fosse dado acesso a pesquisadores, como também fosse um incentivo para que novos talentos conhecessem sua obra. E foi assim que no dia 16 de abril de 2017, fundamos o Instituto Sebastião Tapajós”, lembrou um dos diretores e sócio fundador do IST, Jackson Rêgo Matos.
Dois anos se passaram com muita luta para firmar o instituto. Finalmente, em 2019, foi possível dar início ao projeto que será entregue agora ao público, com apoio de emenda parlamentar do então Deputado Federal e atual prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.
Rio Tapajós entra em ação e acelera o processo
Um incidente natural ocorrido em março do ano passado, no quintal da casa de Sebastião Tapajós, em Santarém, acabou acelerando o processo de organização do acervo.
De acordo com a presidente do IST, Cristina Caetano, o acervo recebeu tratamento sob todos os critérios museológicos, medida que já estava prevista e ficou mais rigorosa ainda depois desse incidente. Invadido por muita lama, foi por um triz que documentos e outros itens não foram danificados, pois a lama ameaçou invadir a sala, onde sempre ficou grande parte de seu acervo. Localizada nos fundos da casa e de frente para o rio que inspirou o músico durante sua vida, com a enxurrada, ela quase inundou.
“Além da lama que se aproximava, formou-se uma cratera no quintal. Houve problemas de ordem estrutural também por conta de outra obra realizada ao lado da casa dele. Foi tudo desesperador, houve risco de desabamento. Foi aí que retomamos o contato com o atual prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, que quando estava deputado federal nos direcionou uma emenda que foi finalmente executada em 2022, após este incidente. Edmilson foi visionário, porque é difícil que as pessoas tenham essa sensibilidade para entender o valor de uma obra como essa”, disse Cristina Caetano.
Vários momentos marcantes da trajetória de Sebastião Tapajós foram selecionados em fotos
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Entusiasta e admirador da obra do músico, Edmilson Rodrigues estará presente na pequena cerimônia deste sábado, que reunirá também a diretoria do IST, amigos, colaboradores e parceiros como a Ufopa. Para ele, o Instituto Sebastião Tapajós faz justiça à obra do violinista e efetivamente a eterniza dando para sempre a qualquer cidadão do mundo a possibilidade de conhecer a obra extraordinária do músico brasileiro.
“Sebastião Tapajós é um gênio brasileiro e um dos mais importantes músicos do universo. São poucos que extrapolam na espécie de normalidade criativa. E é emocionante perceber que ele conseguiu conciliar um talento de grande força criativa, uma formação técnica do mais alto nível com base teórica rigorosa, um estilo de singularidade extrema, e portanto, uma carreira classificável de nível clássico e formação erudita. Mas, ao mesmo tempo, desenvolveu uma produção de caráter popular como pouquíssimos músicos em toda a história da humanidade”, comentou o atual prefeito de Belém.
Processo de atualização do site será contínuo
Foi em 2022, que começou o trabalho focado no acervo. Em parceria com o programa Luz Ação na Amazônia, um projeto de extensão da Ufopa, coordenado por Jackson Rêgo Matos, quatro bolsistas da instituição foram selecionados para atuarem no trabalho com o acervo. Foram contratados profissionais da museologia e da área de conservação, além do designer para a criação do ambiente virtual da exposição. Para coordenar a pesquisa, foi convidado o historiador Dr. e professor da Ufopa, Gefferson Ramos.
“Esse museu será alimentado aos poucos, além do que já vai trazer, nesta inauguração. Este site, a partir do incrementos que ele for recebendo, será um instrumento de educação musical, pois além de tudo há partituras do artista que estarão disponibilizadas aos estudiosos e aos amantes da música. As pessoas também vão encontrar informações seguras e precisas sobre a obra e trajetória do músico. E não será uma coisa estática. Queremos que as pessoas entendam que o site estará sendo alimentado por outros itens que também venham a ser doados”, explicou o professor Gefferson.
Ele se refere a acervos privados referentes a Sebastião Tapajós, que por ventura possam ser doados, para serem tratados e disponibilizados no site de forma pública. “Este lançamento do museu portanto, não é um ponto de chegada, mas sim de partida, um instrumento agregador sobre essa obra”, concluiu.
Um trabalho de fôlego e apaixonado
O acervo de Sebastião Tapajós está dividido por categorias. Há a parte musica com partituras, discografia, capas de LPs, cartazes, mas também há cartas, livros e muitos documentos. De acordo com Antonio Neto, especialista em conservação e restauro em acervos de suporte em papel, a parte documental foi encontrada em bom estado, mas estava muito desorganizada.
“Quando fui fazer o projeto de conservação encontramos tudo muito desorganizado e para realizar o trabalho de conservação e acondicionamento desses documentos todos, é necessário minimamente organizar. Então essa foi a parte mais demorada, porque de forma geral, tudo estava em um bom estado, fizemos pequenos reparos”, disse Antonio Neto.
O especialista conta ainda que o acervo traz muito material de divulgação sobre shows, turnês, press release, folder, cartaz, parte de hemeroteca, com recortes de jornais e revistas, além de documentos que falam sobre a historia da carreira dele, como autorizações de direitos autorais, além dos discos, tanto os gravados no Brasil, quanto na Alemanha. “Ele viajava muito pra lá, onde tinha empresário. Há discos com dedicatórias de outros artistas também. Ele fazia muito esse intercâmbio com outros músicos”, completou Neto.
Sebastião Tapajós deixou obra extraordinária
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O acervo conta de maneira impecável a trajetória do músico. “Tem pouca coisa pessoal, é essencialmente um acervo que conta uma historia profissional, anos 1960, com os Mocorongos, ainda em Belém. E tem material da época em que ele foi se aprimorar tecnicamente na Europa. É uma trajetória muito bem sucedida e que chegou também ao Japão, Espanha, além da Alemanha. Percebe-se que foi um artista mais valorizado fora de seu país. Embora ele tenha feito inúmeros shows e turnê, os discos dele eram mais vendidos no exterior”, conclui.
O longo processo museológico e de digitalização
Fred Teixeira assina a construção do ambiente virtual, que abriga o acervo. “Teremos uma exposição de longa duração, com highlights do acervo, imagens que foram digitalizadas e são raras e acho que será a primeira vez que o grande público vai ter acesso”, diz Fred, que embora já conhecesse Sebastião Tapajós, acabou realmente mergulhando na obra dele por causa desse projeto.
“A partir desse contato com a obra e neste universo mais ligado a Santarém, fiz um mergulho muito incrível nesse rio que é Tapajós. Fiz um trabalho de consultoria, auxiliei no processo de digitalização de tudo isso. Estar dentro desse projeto e acompanhar esses desafios mais ligados a virtualidade foi um prazer pra mim, além de desenvolver a identidade visual do IST, nesta nova fase, com o museu, o instituto e também o festival de violão”, contou.
A museóloga Sandra Rosa, mestre em Ciência da Informação, foi responsável pelo diagnóstico das condições do acervo após a enchente na casa do músico. No final de julho de 2022, ela já estudava o acervo e fez, na ocasião, um levantamento da tipologia e outras demandas. Somente em outubro deu inicio ao processo de musealização do acervo.
“Essa metodologia consiste no processo de aquisição, conservação, pesquisa, documentação e comunicação. O acervo nesse período já estava no Instituto Sebastião Tapajós para processo de conservação e restauro e posteriormente digitalização. E então pude elaborar a proposta de documentação em plataforma digital, que consistiu na elaboração do plano de classificação do acervo pelo thessauro museológico, elaboração da ficha catalográfica e metodologia de preenchimento”, conta Sandra.
O processo de digitalização foi realizado junto com os bolsistas, que passaram por treinamentos e oficinas. Foi possível então fazer o plano de classificação e nomeação dos itens por códigos conforme a tipologia do acervo. Foi somente em janeiro deste ano que iniciou o processo de documentação e pesquisa dos documentos e objetos para construção do acervo digital.
“Essa atividade foi desenvolvida com os bolsistas e a museóloga, durante o mês de janeiro e fevereiro, quando estive no Instituto para organização do espaço, sendo reserva técnica, laboratório de pesquisa, sala de exposição em construção e administração. Em março, minha atividade se desdobrou entre a documentação e a comunicação, sendo a exposição virtual e acervo digital junto com os bolsistas, coordenador do projeto e profissional do desenvolvimento da plataforma do museu virtual”, finalizou.
A museóloga segue no projeto para finalizar a demanda de documentação no ambiente digital, junto aos bolsistas.
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