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Dalai Lama: como o beijo na boca de menino pode afetar a escolha de seu sucessor e o conflito com a China

O atual Dalai Lama fugiu para a Índia em 1959 e é considerado por Pequim um líder separatista, o que faz com que eventuais críticas a ele sejam interessantes para a China. ”
De Nobel da Paz e admirado por autoridades e famosos mundo afora, o atual Dalai Lama, líder político e religioso do Tibete, viu sua imagem ruir com a repercussão de um vídeo nesta semana. Nas imagens que circularam causando indignação e revolta, ele puxa o rosto de um menino para beijá-lo na boca em um evento público e, de acordo com a agência de notícias Reuters, pede para que ele chupe sua língua.
Para além das consequências que o ato pode ter para a imagem de líder religioso, de defensor da paz, da compaixão e da solidariedade, o vídeo pode ter impactos geopolíticos que vão da escolha do sucessor ao avanço do poderio Chinês.
O atual Dalai Lama fugiu para a Índia em 1959 e é considerado por Pequim um líder separatista, o que faz com que eventuais críticas a ele sejam interessantes para a China.
“Saíram algumas críticas, por exemplo no China Daily e no Global Times, que são os dois maiores jornais da China e são considerados por alguns como porta-vozes do governo chinês”, conta Paulo Menechelli, pesquisador da diplomacia cultural da China e cofundador da rede Observa China, em entrevista ao podcast O Assunto.
“Um deles apresenta de forma bastante curiosa a questão com uma charge que teria um agente ali, aquela imagem do Tio Sam como se ele tivesse ligando pra alguém dizendo ‘avise o nosso agente ali, o nosso ativo ali, em referência ao Dalai Lama, pra ele só usar a língua dele quando for do nosso interesse’. É uma crítica bastante dura e contundente.”
Vídeo mostra Dalai Lama tentando encostar língua em rosto de menino
“E a legenda era que depois de décadas direcionando recursos para financiar o Dalai Lama, agora os Estados Unidos talvez estariam passando por um processo aí de remorso do comprador ou de arrependimento por uma por uma aquisição. Essa faz parte de uma narrativa chinesa de que o Dalai Lama fomenta a independência da região autônoma do Tibete por interesses inclusive estrangeiros”, completa Menechelli.
Tenzin Gyatso foi designado para o posto de Dalai Lama em 1937, quando tinha 2 anos — atualmente ele tem 87. Seus seguidores acreditam que o Dalai Lama é a reencarnação de buda. Para averiguar isso, são feitos testes e processos desde a infância, como explica Marcelo Lins, apresentador e comentarista da Globonews também em entrevista ao podcast O Assunto.
“Quem quer que tenha visto essas imagens, vai notar que ali também é quase que um pedido de um senhor de quase 90 anos para um menino novo para que se aproxime e toque na sua língua. Ou seja inadmissível, condenável. A assessoria do Dalai Lama divulgou pedido de desculpas, mas creio que isso não bastou. E aí coloca-se uma dúvida: estará o Dalai Lama ainda em condições de liderar os seus seguidores? Me parece sinceramente que não.”
Ouça a íntegra do episódio aqui.

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