Capital tem 8 estações fixas de monitoramento da qualidade do ar, e uma móvel. A única capaz de medir a presença dessas micropartículas fica em Irajá, mas não funciona desde fevereiro. Como está o ar que você respira na cidade do Rio de Janeiro? É difícil de saber, já que nenhuma das oito estações de monitoramento da prefeitura consegue medir a quantidade de uma micropartícula encontrada, principalmente, na fumaça dos veículos e que pode causar problemas sérios de saúde.
O ar que respiramos tem o chamado material particulado fino — partículas microscópicas liberadas pela queima de combustíveis e que não ultrapassam a espessura de um fio de cabelo (MP 2,5).
A inalação dessa poeira invisível é ainda mais danosa para as crianças, e pode causar pneumonia, asma e outras doenças respiratórias.
“Esse é o poluente mais danoso para a saúde porque a partícula é tão fina que ela entra pela via respiratória, chega até o final do alvéolo e chega na corrente sanguínea. Então, o dano não é só no pulmão. O dano dela vai ser em todos os órgãos e sistemas do corpo. Por isso ela é tão danosa. O feto dentro do útero da mãe não está protegido dessa partícula”, diz a diretora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Araújo.
A cidade do Rio tem 8 estações fixas de monitoramento da qualidade do ar, e uma móvel. A única capaz de medir a presença dessas micropartículas fica em Irajá, na Zona Norte da cidade. Mas ela não está funcionando desde fevereiro.
No site da Secretaria de Meio Ambiente é possível ver que nas estações de monitoramento aparece a sigla NM — isso quer dizer que a micropartícula poluente não é monitorada.
Em Irajá, a presença da MP 2,5 é analisada em apenas alguns dias do mês de janeiro. Mas de fevereiro em diante, os boletins aparecem com a sigla ND — não disponível.
“Infelizmente, o ar ambiental ainda é uma matriz muito negligenciada porque a gente não consegue ver essa poluição, sentir essa poluição invisível. E falta, na realidade, uma iniciativa de você fazer um plano de monitoramento, colocar estações de monitoramento em especial, inclusive para esse poluente”, diz o professor Kleyton Martins.
“É um descaso e uma irresponsabilidade porque a população segue sem ter conhecimento da qualidade do ar que ela respira e se o ar não estiver bom do ponto de vista de toxicidade para saúde, essa população ela tá adoecendo. Além dela não ter conhecimento disso e não poder fazer absolutamente nada para se proteger, o governo, obviamente, sem o monitoramento e sem o diagnóstico, não tem nenhuma ação para fazer”, fala Evangelina.
O Inea, órgão ambiental do estado, divulga diariamente boletins da qualidade do ar em todas as regiões do Rio. Mas os dados apurados não são suficientes.
O boletim apresenta o índice de qualidade do ar e o poluente em maior quantidade, mas não mostra a concentração dele.
“Desde 2018 não se tem relatório de qualidade anual do Inea. Então, não se sabe, desde então, o que aconteceu com a qualidade do ar no estado. E todas as informações em tempo real que deveriam ser aqui e agora, para que a população pudesse examinar esse dado e tomar alguma iniciativa, ela não é mais informada pelo Inea”, diz Evangelina.
Sem dados governamentais, um grupo de pesquisadores da UFRJ e da Universidade Veiga de Almeida mediu a presença dessas micropartículas em seis bairros da cidade (Del Castilho, Campo Grande, Bangu, Tijuca, Madureira e Irajá).
Durante oito meses, equipamentos portáteis analisaram a qualidade do ar nas proximidades de creches e escolas desses bairros.
Irajá e Campo Grande registraram os piores índices. Em 40% das análises, os níveis de poluição estão acima dos limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Cabe destacar que os limites estabelecidos pela OMS são mais restritivos que os limites estabelecidos pela resolução Conama, que é a que rege a qualidade do ar no país. Então, a gente descobriu que, muito embora a gente tenha valores compatíveis com a resolução Conama, eles estariam defasados, ultrapassando os valores recomendados pela OMS”, diz o professor Martins.
O que dizem os citados
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente disse que a estação de Irajá está passando por manutenção e deve voltar a funcionar até junho.
A secretaria disse ainda que está prevista a instalação de dois novos equipamentos para medição até maio.
Já o Inea disse que os dados da qualidade do ar são divulgados no site, mas que estão trabalhando para melhorar a qualidade e frequência das informações. E que o governo está desenvolvendo um novo portal de qualidade do ar, com previsão de conclusão para junho.
Como está o ar no Rio? Governo e prefeitura não medem partícula poluente que faz mal à saúde
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