Pressionado pela reforma previdenciária, o presidente francês defendeu a autonomia da Europa em relação aos EUA e recebeu críticas de seus aliados Presidente francês, Emmanuel Macron, durante evento em visita à Holanda em 11 de abril de 2023
Peter Dejong/AP
Atacado pela reforma previdenciária que empreende na França, o presidente Emmanuel Macron buscou na China a popularidade perdida em casa. Ao reforçar que a União Europeia não deveria agir como um vassalo dos EUA num conflito por Taiwan, ele foi incensado em Pequim, onde teve seus dias de glória, rotulado como estadista brilhante pela mídia local.
O presidente francês defendeu a autonomia estratégica da UE em relação aos EUA. Suas declarações balançaram os alicerces da aliança transatlântica num momento essencial, em que os EUA se empenham internamente para fornecer assistência militar à Ucrânia, e a China mantém a pressão sobre Taiwan com exercícios militares ao seu redor.
“Ser aliado não significa ser vassalo. A França não tem lições a aprender com ninguém, seja no teatro ucraniano, no teatro do Sahel ou no teatro de Taiwan”, atestou.
O presidente francês Emmanuel Macron e o presidente chinês Xi Jinping revelam uma placa durante a primeira reunião do conselho comercial França-China em Pequim em 2019
Ludovic Marin/Pool/AFP
Macron estendeu a posição da França à da Europa e acabou criticado por falar pelo bloco sem ter mandato para isso. A reação foi forte na Alemanha, que busca sintonia com os EUA. Antes de iniciar uma visita a Pequim, a ministra das Relações Exteriores, Anne Baerbock, deixou claro a convicção europeia comum de que seria inaceitável uma mudança unilateral no status quo no Estreito de Taiwan, especialmente uma escalada militar.
O governo americano recebeu o apoio irrestrito do primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, que está em Washington. “Em vez de construir uma autonomia estratégica em relação aos EUA, proponho uma parceria estratégica com os EUA”, respondeu.
A Casa Branca procurou amenizar as opiniões de Macron, ressaltando o relacionamento bilateral com a França. Mas o pré-candidato presidencial Donald Trump aproveitou para tachar o francês de puxa-saco da China.
Guarda de honra erguem bandeira de Taiwan em Taipei
Jameson Wu/REUTERS
Taiwan é considerada pela China como parte de seu território, mas se autogoverna com Constituição própria e líderes eleitos. Os EUA estão comprometidos com o princípio de “uma só China”, mas mantêm apoio ao status quo de Taiwan. O presidente Biden prometeu intervir militarmente para proteger a ilha, caso seja atacada.
Embora a sua retórica em relação aos EUA tenha sido firme, Macron reforçou que a posição da França e da Europa em relação a Taiwan permanece a mesma. “Somos pelo status quo. Esta política é constante e não mudou”, explicou, já em solo europeu, em entrevista coletiva concedida em Amsterdã, ao lado do premiê Mark Rutte.
Macron enfrenta protestos e greves em casa, deflagrados pela proposta de aumentar a idade da aposentadoria dos franceses de 62 para 64 anos, que foi aprovada sem o consentimento do Parlamento e pode ser bloqueada pelo Conselho Constitucional. As pesquisas mostram que o índice de desaprovação do presidente está em 70%. Ao que parece, ele conseguiu ampliar também a insatisfação entre os aliados americanos e europeus.
Manifestantes usam máscaras do presidente francês Emmanuel Macron e da primeira-ministra francesa Elisabeth Borne durante uma manifestação
Lewis Joly/AP
Macron buscou na China a popularidade perdida na França
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