Segundo Monique de Almeida, filho de 16 anos estava envolvido com o tráfico e não voltou mais para casa após ser perseguido pela PM. Militares afirmam que fizeram disparo em direção a ele, mas tiro não atingiu o garoto, que teria pulado no Rio Paraibuna. Desde então, ele não foi mais visto. Jonathan ao lado da mãe durante comemorações de fim de ano
Monique Almeida/Arquivo Pessoal
Há dois meses, a autônoma Monique Barreiros de Almeida, de 36 anos, busca respostas sobre o desaparecimento do filho em Juiz de Fora. Jonathan Almeida Estellai, de 16 anos, saiu de casa no dia 14 de fevereiro para ir até o Bairro Vila Ideal, região ocupada pela Polícia Militar (PM) desde o ano passado para conter conflitos e crimes violentos.
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A mãe do adolescente contou ao g1 que o filho tinha envolvimento com o tráfico de drogas há cerca de um ano e que ele já era “conhecido no meio policial”, tendo sido apreendido quatro vezes.
A PM foi procurada, mas não enviou reposta até a publicação desta reportagem.
“Ele costumava vender entorpecentes no Bairro Vila Ideal e ia um dia sim e outro não. Saía de casa bem cedo, no Bairro Bandeirantes, mas até 22h estava de volta. Nesse dia ele não voltou mais”, contou.
Monique conta que chegou a mandar mensagens no celular do filho por volta das 23h, mas não teve resposta. No dia seguinte, dois amigos do filho foram até a casa dela para saber o paradeiro de Jonathan. Foi aí que ela soube da abordagem policial sofrida por ele.
Testemunhas contaram à mãe do adolescente que indivíduos fardados chegaram no local em que ele estava, em um Celta branco e atiraram. Jonathan, então, fugiu e pulou no Rio Paraibuna.
“Ele não sabia nadar. No início achei que ele teria morrido afogado no rio, mas fui lá, e as pessoas me disseram desse carro branco, que chegou atirando. Os bombeiros fizeram 15 dias de buscas, e o corpo dele não foi encontrado. Me pergunto como um menino que não sabe nadar pula no rio e ainda conversa com os policiais. Na ocorrência feita por eles fala que meu filho se negou a sair”, contou.
A reportagem teve acesso à ocorrência citada por Monique. No documento, um Boletim de Ocorrência (BO) Simplificado, registrado pelos policiais que fizeram a abordagem a Jonathan, a versão apresenta é que, durante patrulhamento no Bairro Vila Ideal, o garoto fugiu ao ver as viaturas.
“Durante a fuga, o suspeito levou as mãos na cintura e puxou um objeto semelhante a uma arma de fogo, se virando para os policiais militares, momento que o militar mais próximo, para salvaguardar a sua vida e a do demais militares que perseguiam o suspeito, efetuou um disparo de arma e fogo que a princípio não atingiu o suspeito, que novamente voltou a evadir correndo pela rua, atravessando a via sentido a margem do Rio Paraibuna”, descreve o documento.
Ainda no boletim, consta que o adolescente pulou no rio, foi acompanhado pelos militares pela margem e que “várias vezes foi orientado a sair do rio”, até que os policiais o perderem de vista. O documento ainda cita que uma viatura do Corpo de Bombeiros esteve no local e realizou buscas, sem sucesso.
O documento registrado às 21h18 do dia 14 de fevereiro ainda informou que “até o presente momento ninguém foi localizado, não sabendo dizer se o indivíduo continuou a nadar sentido o rio ou se alcançou o outro lado para atingir ponto de fuga comumente usados pelos autores do tráfico na região”.
Os policiais afirmam no boletim que parte da ação foi gravada.
Jonathan Almeida Estellai, de 16 anos, desaparecido em Juiz de Fora
Monique Almeida/Arquivo Pessoal
Ministério Público apura o caso
O caso do desaparecimento é acompanhado pelo promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) Hélvio Simões Vidal. Para ele, o fato de o adolescente ter sumido em um bairro onde é “corriqueiro a realização de operações e no mesmo momento onde ocorria uma é o que gera uma estranheza”.
Sobre as investigações do caso, o promotor afirma que é uma situação grave porque não tem o corpo para apurar a causa da morte.
“Eu, na verdade, não sei se ele morreu afogado, se foi em consequência deste disparo feito contra ele ou até se morreu mesmo. A mãe quer uma resposta.”
As imagens gravadas pelos militares durante a abordagem já foram solicitadas pelo promotor ao 2º Batalhão de Polícia Militar.
“Eu não sei se essa ação foi autorizada pelo comando ou uma ação comum que a polícia pode fazer, porém eu tenho comprovação desse Celta branco em que os ocupantes efetuaram disparos. O fato é que a polícia lá esteve e o que me estranha é que a PM não lançou um reds público e sim um reds interno. O que eu quero saber é isso”, finalizou.
Uma reunião entre a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal e a família do adolescente está prevista para a tarde desta quinta-feira (13).
O caso é investigado pela Polícia Civil, que informou. em nota, que o caso segue em apuração pela 6ª Delegacia, com o delegado Hamilton Junior, “que está tomando todas as medidas necessárias para elucidar o fato”.
A Polícia Militar também foi procurada, mas não respondeu o g1 até a publicação desta reportagem.
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