• New Page 1

    RSSFacebookYouTubeInstagramTwitterYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTubeYouTube  

SP ganhou bibliotecas nos últimos anos, mas taxa por 100 mil habitantes é menor do que em outras capitais da América Latina


Cidade tem menos de uma biblioteca para cada 100 mil habitantes, já a Cidade do México tem 3,1, e Buenos Aires, 2,7. Frequência em bibliotecas é baixa, e retirada de livros, mais baixa ainda. Para especialista, família, escola e bibliotecas formam tripé para melhorar hábito de leitura. Cidade de SP tem menos de uma biblioteca por 100 mil habitantes
Nos últimos anos, São Paulo ganhou 12 bibliotecas, chegando a um total de 106 unidades abertas a todo tipo de público, mas a maior e mais populosa cidade da América Latina tem menos de uma biblioteca por 100 mil habitantes _ 0,86. Neste domingo (23), comemora-se o Dia Mundial do Livro, data escolhida pela Unesco para incentivar a leitura.
A taxa é menor do que a das outras cidades mais populosas do continente, como Cidade do México, que tem 3,1 bibliotecas para cada 100 mil habitantes, e Buenos Aires, com taxa de 2,7.
O levantamento foi feito pelo g1 com dados da Secretaria da Cultura da Cidade de São Paulo, do World Cities Cultures Forum e do Sistema de Información Cultural, do México.
Além de ter uma taxa baixa para a população, algumas bibliotecas não estão funcionando. No caso das municipais, 47 das 54 estão abertas.
Mesmo nas que estão com portas abertas, o número de frequentadores está diminuindo. No primeiro bimestre de 2023, 120.365 pessoas visitaram as bibliotecas municipais, um número menor, se comparado aos mesmos períodos dos anos anteriores à pandemia de Covid-19, quando registraram uma média bimestral de 227,7 mil pessoas em 2019 e de 200,6 mil pessoas em 2018.
Em 2019, a quantidade de visitas anual foi de 1.366.036 milhão de pessoas (53 bibliotecas), e, em 2018, 1.203.581 milhão (54 bibliotecas).
Em 2021, com a capital voltando a funcionar presencialmente aos poucos, 49 bibliotecas voltaram a abrir, mas a frequência no ano foi de apenas 588.126 pessoas. Cerca de 700 mil visitas a menos do que em 2019, antes da crise sanitária.
Maa das bibliotecas municipais de São Paulo
Livros
São Paulo também carece de livros. Segundo dados da Rede Nossa São Paulo, a média é de 0,21 livro por habitante, sendo que 61 distritos estão abaixo dessa média. Apenas os distritos de República, Liberdade, Pari e Santo Amaro têm mais de um livro por habitante.
Segundo dados do Instituto Pró-Livro (IPL), apenas 17% dos paulistanos afirmam frequentar bibliotecas, sendo que cerca de 40% disseram ter bibliotecas próximas de casa.
Para Zoara Failla, coordenadora do Instituto Pró-Livro, existem alguns motivos que causam a situação atual:
dificuldade de acesso às bibliotecas;
bibliotecas que estejam abertas;
que tenham um modelo mais acolhedor para o leitor;
a própria “formação do leitor” desde a infância.
O problema é agravado quando a análise mostra que a frequência nas bibliotecas não traduz o hábito de leitura. Na Biblioteca Mário de Andrade, a maior do estado e que está localizada no Centro de São Paulo, por exemplo, a frequência de visitas em 2023 é de cerca de 12 mil pessoas por mês, enquanto os empréstimos de livros mensais são 2,9 mil.
O g1 visitou a biblioteca e conversou com algumas pessoas que estavam no local. Entre os entrevistados, a maioria diz que utiliza a biblioteca por causa do ambiente silencioso e pelo wi-fi gratuito.
Pessoas utilizam espaço na Biblioteca Mário de Andrade, em SP, para trabalhar e estudar
Celso Tavares / g1 SP
Fabiano Camargo é de Pouso Alegre, Minas Gerais, e está em São Paulo há cerca de nove meses. Ele contou que, quando visitou a biblioteca Mário de Andrade para estudar, se surpreendeu ao observar o ambiente e ver mais pessoas com celulares e notebooks do que livros.
“Ali fora todas as mesinhas estão ocupadas, mas ninguém está com livro. O objetivo principal da biblioteca, que é você chegar aqui, escolher um livro e levar para casa ou ler, aqui, eu acho que é pouco utilizado, pelo menos esta é a impressão que eu tive.”
Fabiano Camargo, estudante de pós-graduação
Celso Tavares / g1 SP
Entre os entrevistados pelo g1, apenas dois estavam lendo livros. Um deles é Pedro de Souza Lima, de 75 anos, que tem deficiência visual. Ele é aposentado e começou a ler após perder 90% da visão.
Pedro contou que nunca leu muito, mas, depois de perder a visão, começou a ler “para ocupar a mente”. Uma funcionária do centro de tratamento em que ele é paciente o levou para uma biblioteca próxima.
A partir de 2018, Lima passou a frequentar a Biblioteca Mário de Andrade e se apaixonou pelos livros clássicos de literatura. Ele lê com auxílio de um dispositivo com inteligência artificial chamado Orcam MyEye, tecnologia israelense que transforma textos em áudios e é importada para o país desde 2018. Atualmente, Lima frequenta a biblioteca todos os dias sozinho, exceto aos finais de semana.
Pedro Souza Lima utiliza o Orcam MyEye diariamente na biblioteca Mário de Andrade, em SP
Celso Tavares / g1 SP
A segunda leitora é Evelyn Souza Lima, estudante que mora próximo à biblioteca e contou que visita o local todos os dias depois da escola.
“Eu tenho dificuldade de focar no livro se eu estou em casa porque tudo me distrai. Se eu estou no colégio, tudo me distrai, em qualquer lugar, tudo me distrai, mas aqui eu fico concentrada porque está todo mundo quieto lendo ou trabalhando… Eu tinha perdido o costume [de ler], tinha mais quando era criança. Só que eu estava meio frustrada, aí resolvi voltar a ler para voltar a ter o hábito de leitura, e eu consegui vindo aqui”, disse Evelyn.
Evelyn Souza Lima, estudante, mora na região do Centro de SP e frequenta a Biblioteca Mário de Andrade diariamente
Celso Tavares / g1 SP
Solução para mais leitores
Segundo Zoara, coordenadora do IPL, o crescimento do número de leitores está baseado em três pilares:
ações das famílias;
das escolas;
das bibliotecas,
Família
Ao “compararmos os leitores com os não leitores, percebemos que, quando a gente pergunta para os leitores quem foi que despertou seu interesse, a família aparece em primeiro lugar, considerando mãe e pai. A gente verificou que têm mais leitores entre aqueles que ganhavam livros de presente. Mas que família é essa? Uma família leitora, que tem livros em casa, que leva seus filhos à livraria e, infelizmente, a gente tem aí 20% das famílias brasileiras com esse perfil. E os outros?”
Escola
Para Zoara, “se o interesse não despertar na família, ele deveria acontecer na escola. Infelizmente, as escolas não estão despertando esse interesse nessa garotada. Então, quando você tem atividade de leitura dentro de uma sala de aula, ela vira uma tarefa. Acho que dentro de uma sala de aula já deveria ter esse despertar da curiosidade de você ir atrás de um livro, ensinar como se encontra o livro do teu interesse. Essas experiências, essas práticas, são poucas escolas que desenvolvem”.
Segundo a pesquisa mais recente do Instituto Pró-Livro, ao comparar a aprendizagem entre escolas que têm e que não têm bibliotecas, os alunos que têm essa opção estão 1,5 ano à frente na aprendizagem dos que não têm.
Bibliotecas
Zoara afirma que as bibliotecas também deveriam promover ações que chamem a comunidade do seu entorno. “A gente precisa pensar em um modelo de biblioteca que acolhe, voltado para a comunidade e voltar para a formação leitora, para o despertar o interesse à leitura. Eu acho importante que a biblioteca se preocupe com essa formação dessa garotada. É importante criar um espaço lúdico para a garotada dentro das bibliotecas, como a gente vê nessas grandes livrarias, porque as crianças ficam fascinadas com essa experiência de folhear um livro, de descobrir um livro, e isso fica na memória afetiva dela.”
Livros na Biblioteca Mário de Andrade, em SP
Celso Tavares / g1 SP
* Com supervisão de Cíntia Acayaba

Adicionar aos favoritos o Link permanente.