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Conheça o que há por trás da receita da Forno de Minas, empresa de pão de queijo que pode se tornar 100% canadense


Dona Dalva e os filhos foram pioneiros na venda do produto, no início dos anos 1990. A canadense McCain, especialista em batatas fritas, adquiriu 100% das ações da marca; transação é analisada pelo Cade; Venda de pão de queijo congelado se tornou hit a partir dos anos 90
Redes sociais/Reprodução
Tirar da embalagem, colocar na assadeira, botar para assar e, em menos de uma hora, pão de queijo “quentin” na mesa. O quitute congelado (hoje presente no carrinho de compras de todo brasileiro) começou a ser comercializado nos anos 90, graças à habilidade de Maria Dalva Couto, mais conhecida como Dona Dalva.
A ideia, uma alternativa para gerar renda para a família, se tornou um império do pão de queijo. Agora, ele está prestes a deixar de ser mineiro e se tornar 100% canadense. Na semana passada, a gigante de alimentos McCain, especialista em batatas fritas, anunciou a aquisição de todas as ações da Forno de Minas.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do governo federal, informou que o pedido está em análise. O prazo para a confirmação da transação e o valor do negócio não foram divulgados.
Receita de família
Hélida Mendonça, Dalva Couto e Helder Mendonça (esq. para dir.), fundadores da Forno de Minas
Divulgação
Como em toda casa mineira, o quitute sempre foi tradição na família Mendonça. Os irmãos Helder e Hélida contaram que a mãe, Dona Dalva, sempre fazia a receita para o final de semana. Não demorou muito para ela ter a ideia de congelar os pães de queijo para que fossem assados dias depois (mais prático, né?).
“A gente tinha o hábito de ter pão de queijo pronto. Ficava na geladeira, resfriado, sempre fresquinho. Quando minha mãe começou a trabalhar, fazia a receita uma vez por semana e congelava as bolinhas. Depois, colocava no forno. Funcionava muito bem”, contou Helder.
O hábito salvou as finanças da família, após o confisco da poupança durante o governo Collor, no início da década de 1990. Já viúva, Dona Dalva passou a vender os pães de queijo congelados para vizinhos e amigos. A estratégia deu tão certo que, meses depois, ela abriu uma lojinha na avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
A família não tinha ideia que, anos mais tarde, aquela lojinha, batizada de Forno de Minas, estaria presente em todo o Brasil e em mais 18 países.
Os tabuleiros se transformaram em uma produção mensal de 3,5 toneladas de pães de queijo 🧀, com a ajuda de quase 1,3 mil funcionários, agora lotados em uma unidade industrial em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
É sobre queijo! 🧀
Negócios com empresas estrangeiras não são novidade para a Forno de Minas. Em 1999, a fábrica foi vendida para a norte-americana Pillsbury, em uma negociação de valores milionários, jamais revelados.
Mas quando ela foi incorporada pouco tempo depois pela General Mills, a receita desandou. Para reduzir os custos de produção, os americanos trocaram o tradicional queijo curado por aromatizantes. Só sobraram 2% dele 🧀 (!) para contar a história.
O resultado não poderia ser diferente: o consumidor que prezava pela qualidade abandonou o produto nas gôndolas dos supermercados. A queda brutal nas vendas fez com o que negócio deixasse de prosperar.
“As pessoas abordavam a mamãe e diziam que havíamos vendido a Forno de Minas, mas sem vender a receita. Ela ficava arrasada”, afirmou Helder.
Sem a receita esperada e com o negócio em crise, a General Mills decidiu fechar a Forno de Minas. Medida que colocou a família Mendonça de volta ao negócio, após uma oferta de compra dos ativos e da marca.
“Eu admito que existe essa tentação [de reduzir custos], muitas vezes, para um executivo que tem que mostrar resultado. Isso pesou na decisão da General Mills, mas a Forno de Minas perdeu muito mercado. A marca foi muito criticada, o que culminou com o fechamento”, contou Helder.
Dez anos depois – em 2009, Helder, Dalva e Hélida retomavam o negócio. Pagaram um valor que correspondia a uma pequena parcela do preço pelo qual venderam.
“Contratamos cerca de 300 funcionários, imediatamente. O desafio era começar um negócio com despesa grande e receita zero. Mas a gente voltou a reconquistar a liderança, com 50% de share na venda de pão de queijo. Somos líderes em todas as regiões do Brasil. A marca foi reconquistando a força e reconhecimento do consumidor”, afirmou Helder.
O segredo do sucesso
A reportagem desafia o leitor a encontrar um segredo mais exposto do que esse. O pão é de QUEIJO 🧀 ! Se a receita não vai com o principal ingrediente, nem adianta. O paladar é exigente.
Para garantir o sucesso da receita, Dona Dalva e os filhos investiram no próprio laticínio. O queijo passa por um processo de maturação de 10 a 12 meses antes de ir pra fábrica.
Uma receita exclusiva, com adição extra de queijo, celebrou os 30 anos da Forno de Minas e teve grande aceitação no mercado.
“Quando a Forno [de Minas] ia fazer 30 anos, chamamos minha mãe e falamos: ‘Dona Dalva, pode fazer o pão de queijo que quiser fazer. Esse pão de queijo de 30 anos vai com a sua assinatura. Não precisa preocupar. Use o queijo que quiser, na quantidade que quiser. É o seu produto’. Ela fez tão equilibrado, com queijo ainda mais maturado, que nós cansamos de comemorar os 30 anos. A aceitação foi muito elogiada”, disseram Helder e Hélida.
Prestes a completar 81 anos, Dona Dalva só deixou de frequentar a fábrica em função da pandemia da Covid-19. Mas ela não deixa de estar nas reuniões com os times de desenvolvimento e qualidade, por meio da internet.
“As coisas acontecem em ciclos. Nós estamos encerrando um deles, com mais maturidade, até mesmo com o compromisso e responsabilidade com os nossos funcionários, pelo fato de a empresa sair das nossas mãos, uma empresa familiar, para uma multinacional que opera em mais de 50 países. São mais oportunidades”, finalizou Helder.
Minas x Canadá
Toda essa revolução chamou a atenção da McCain. Há cinco anos, os estrangeiros compraram 49% das ações da Forno de Minas.
O sucesso da transação fez com que os investidores buscassem os outros 51%, ainda neste mês de abril. Dessa forma, passam a ter o controle total da empresa mineira, com 100% do capital. O valor dessa aquisição não foi divulgado.
“A grande diferença da McCain é que eles sabem do valor desse produto como um ícone, como a nossa gastronomia é muito forte, muito relevante para o brasileiro. Muito reconhecida. A gente sempre reconheceu como os nossos consumidores são donos da marca. As pessoas não são simplesmente consumidoras da Forno de Minas”, disse Helder.
A família que controla a produção de uma das receitas de pães de queijo mais tradicionais do mundo garante que nada vai mudar.
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