Polícia Civil do Espírito Santo constatou que a substância contribuiu para a morte de DJ capixaba, combinada com outras drogas. Anvisa listou o bromazolam como proibida e circulação virou tráfico. Bromazolam: substância é proibida pela Anvisa em todo o Brasil após apreensões no ES
Reprodução/Polícia Civil
Identificada pela primeira vez em 2022 em apreensões no Espírito Santo e durante a investigação da causa da morte de uma pessoa encontrada em um motel, na Serra, Grande Vitória, o bromazolam, apesar de pouco conhecida, já entrou na lista de substâncias proibidas da Agência de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa).
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A nova droga ainda tem efeitos desconhecidos, mas foi uma das responsáveis pela morte de um DJ, de 37 anos, no Espírito Santo. A substância foi encontrada no corpo do homem combinada com outras drogas, como álcool, sertralina, viagra e cocaína.
O g1 fez um ponto a ponto do que se sabe sobre esta substância até agora.
Nova droga identificada
Apesar de nos Estados Unidos a substância já ser tratada como alerta na saúde pública, o bromazolam ainda não tinha sido registrada oficialmente em circulação no país. Foi durante a investigação da morte de um DJ no Espírito Santo que a polícia identificou a nova droga no corpo do homem, juntamente com outros entorpecentes.
Primeira morte no Brasil
Na investigação, após acharem traços do bromazolam no corpo do DJ encontrado morto num motel na Serra, Grande Vitória, a polícia constatou que a droga contribuiu para a morte do rapaz. Esse foi o primeiro caso de morte por bromazolam registrado no Brasil.
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Ajuda de polícia e outros profissionais
O bromazolam é uma substância de controle especial, incluída na lista de substâncias psicotrópicas (B1) desde 1/12/2022, mas não é comercializa no mercado farmacêutico. As substâncias controladas pela Portaria SVS/MS 344/1998 também se enquadram no conceito de drogas, estabelecido pela Lei nº 11.343/2006.
Na investigação da morte do DJ no motel, a Polícia Civil constatou que o homem não tinha sinais de violência no corpo e, no local do óbito, havia indícios do uso de substâncias ilícitas. A partir disso, na época, levantou-se a hipótese de uma intoxicação.
O corpo então foi encaminhado ao Departamento Médico Legal (DML), onde a médica legista Ana Paula Knak fez a necropsia do cadáver, coletando sangue, urina e conteúdo estomacal para enviar ao laboratório.
“Identificamos a substância [bromazolam] na amostra que foi encaminhada pela medicina legal. Para nós foi uma novidade, porque era uma substância que até então nunca tínhamos identificado no laboratório de toxicologia”, pontuou a perita Daniela de Paula, chefe do Departamento de Laboratórios Forenses.
Parcerias com universidades
Como não havia relatos dessa substância no Espírito Santo, os peritos do estado começaram a pedir ajuda das polícias civil e federal de outros estados, mas ninguém tinha apreendido algo do tipo até aquela época.
A partir daí, a equipe buscou parcerias com universidades para confirmar o que era a substância encontrada.
“Para que a gente pudesse definir este caso, foi importante a participação do professor José Luiz da Costa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pois lá ele tinha o padrão dessa substância, que é importante para que a gente possa fazer a comparação. Utilizando isso, foi possível concluir e definir quanto tinha no organismo daquele indivíduo”, detalhou Daniela.
Comunicado à Anvisa
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Reprodução/TV Gazeta
Com a descoberta da causa da morte e outras apreensões que aconteceram logo em seguida, em julho e dezembro de 2022, a perícia do Espírito Santo comunicou o perigo para a Anvisa, responsável por realizar a listagem das substâncias proibidas e que têm um controle especial no nosso país.
O comunicado foi feito em novembro, e, em dezembro, o bromazolam entrou para a lista, segundo a perita Daniela.
“O que a gente sabe é que não é uma substância de uso terapêutico para tratar doença nem nada do tipo. Não é comercializada no mundo. E geralmente ela não é encontrada nas vítimas de forma isolada, com o uso sozinho, como foi o caso dessa vítima da Serra, que não tinha só isso na corrente sanguínea dele. Então, não dá para afirmar que foi somente o bromazolan que causou esse óbito, mas ele contribuiu”, disse a médica legista Ana Paula Knak.
Outras apreensões
De acordo com a Polícia Civil, dois dias depois da morte do homem no motel, 3.596 selos contendo um pó foram encontrados com um suspeito em Guarapari. Ele estava com outras drogas, por isso acabou preso. Os selos foram encaminhados para a perícia no dia 20 de julho e aí, juntamente com pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), descobriram que se tratava do bromazolam.
Ainda de acordo com a polícia, em outubro teve mais apreensão, mas de pouca quantidade, na Praia da Costa, em Vila Velha. Em fevereiro deste ano, outra pequena quantidade foi achada com um suspeito em Guarapari.
Quando a circulação do bromazolam virou tráfico?
Como se tratava de uma substância relativamente nova, a polícia ainda não havia registrado casos de pessoas com a droga, nem os selos como ela é comumente encontrada. Logo depois da morte do DJ, na Serra, em julho de 2022, a polícia fez outras apreensões.
Bromazolam: substância é proibida pela Anvisa em todo o Brasil após apreensões no ES
Reprodução/Polícia Civil
Depois de comunicar à Anvisa, o órgão então incluiu a droga na lista de substâncias ilegais. Foi só a partir daí, com a contribuição da Polícia Civil do Espírito Santo, que fez as apreensões e alertou a entidade, que estar em posse da substância passou a considerado tráfico.
“Até aquele momento (antes de estar na lista), o bromazolam, se fosse pego com um traficante, não seria considerado tráfico. Acho que foi essa a contribuição que o Espírito Santo deu, porque permite que, agora, as apreensões já sejam caracterizadas como tráfico de drogas”, afirmou a a médica legista Ana Paula Knak.
Como a droga é usada?
O perito Victor da Rocha Fonseca, do Laboratório de Química Forense, no exterior, as pessoas comercializam no formato de pó ou comprimido. Nas amostras encontradas no Espírito Santo, elas vieram de forma diferente, em selos.
“São selos em papel. Desses selos, são extraídos pequenos selos e a pessoa faz a ingestão sublingual. Eles colocam esse papel em contato com a mucosa, embaixo da língua, vai ter a absorção da substância que vai ser direcionada à corrente sanguínea”, relatou o perito.
Efeitos desconhecidos e combinada com outras drogas
Segundo o perito do Laboratório de Química da Polícia Civil Forense do Espírito Santo, Victor da Rocha Fonseca, os efeitos desta droga ainda são desconhecidos. Além disso, ela é usada combinada com outras substâncias, como a cocaína e o fentanil, podendo causar reações ainda maiores.
Ela é da mesma classe de medicamentos do Rivotril, Clonazepam, então são depressoras do sistema nervoso central. Têm uma efeito de sedação e são antidepressivos”, disse o perito.
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