Pedido é do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. Assunto foi comentado durante coletiva de imprensa do político em Santos, no litoral de São Paulo. Autoridade Portuária de Santos abandona nomenclatura em inglês após pedido de Márcio França
Silvio Luiz/A Tribuna Jornal
A Autoridade Portuária de Santos, responsável pela administração do porto no município, abandonou a nomenclatura em inglês Santos Port Authority (SPA). A mudança foi feita após um pedido do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. “Negócio que nos diminui”, afirmou o político, sobre a denominação em língua estrangeira, em entrevista coletiva na última quinta-feira (20).
O ministro comentou, na ocasião, que respeita o idealizador da nomenclatura em inglês, mas a considera “uma coisa péssima”. Ainda de acordo com França, a língua portuguesa deve ser valorizada. “Acho que o nome não tem que ser em inglês, [dá a] sensação de uma coisa que nos diminui. Estamos no Brasil, as pessoas não têm orgulho?”, questionou.
A nomenclatura antiga [Santos Port Authority] era o nome fantasia da Autoridade Portuária. A SPA foi registrada e lançada em outubro de 2019, com o pretexto de se “alinhar ao padrão mundial de comunicação observado nos grandes portos, prática comumente utilizada mesmo em países de língua não inglesa”, conforme divulgado no site da própria entidade à época.
Nova diretoria da SPA foi indicada pelo ministro Márcio França
Santos Port Authority/Divulgação
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Nova diretoria
O advogado e ex-secretário de Justiça da Prefeitura de São Paulo Anderson Pomini encabeça a lista e deverá assumir como novo diretor-presidente da SPA. Abaixo os demais nomes:
Bernadete Bacellar do Carmo Mercier, é advogada e deve assumir a Diretoria de Administração e Finanças
Antônio de Pádua de Deus Andrade está cotado para Diretoria de Operações
Eduardo Lustoza, o engenheiro deve assumir a Diretoria de Desenvolvimento de Negócios e Regulação
Carlos Eduardo Bueno Magano pode ficar à frente da Diretoria de Infraestrutura. Ele e o ex-presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp)
O que dizem os especialistas?
Especialistas portuários ouvidos pelo g1 se posicionaram sobre as nomeações (veja abaixo).
Ao g1, o consultor portuário Ivam Jardim ressaltou que as cinco nomeações foram definidas pelo ministro pessoalmente e fazem parte da política do Ministério. “Desde o início, sem surpresa, o setor foi comunicado em diversas entrevistas de que haveria composição política, porém, respeitando e se buscando um perfil de pessoas técnicas que possam manter o bom nível de gestão e a evolução da governação da SPA”.
Jardim disse que está confiante com as nomeações. “Poderão fazer um bom trabalho, principalmente se atuarem em constante comunicação com o Secretário Nacional de Portos, Secretário Executivo e Ministro, [com] uma gestão local alinhada com as políticas públicas nacionais”.
Para ele, os quatro meses foram necessários. “São as forças políticas que dão sustentação ao governo e que estão conversando para fazer as suas indicações nos mais diversos cargos do Governo Federal (…) Dessa forma, é importante uma boa definição, mesmo que demore um pouco [mais] do que o esperado”.
Quem está atualmente no cargo, de forma interina, será exonerado com a nomeação. Segundo Jardim, os novos diretores terão a oportunidade de indicar os servidores que os apoiarão nos cargos de superintendência, gerência e outras vagas. “Importante destacar que muitos funcionários de carreira e concursados da Autoridade Portuária deverão ficar, pois são extremamente competentes”.
Direção permanente
Já para o especialista portuário Sérgio Aquino, o ideal é que a direção do Porto tenha longevidade e permanência, ou seja, que não seja alterada com as eleições presidenciais. Para que isso ocorra, ele ressaltou a importância da recuperação do Conselho de Autoridade Portuária (CAP).
“[O ideal] é que a administração do Porto seja considerada um tema de interesse de Estado e não de Governo [federal]. É assim que funciona nos portos do mundo, [que] são administrações municipais ou estaduais, não se troca administradores porque trocou governo. O ideal é que no Brasil a gente crie condições para essa perenidade de administrações”, defendeu Aquino.
Sobre as indicações feitas por França, Aquino afirmou que alguns deles já estiveram na administração do Porto e com passagens positivas. “Por exemplo, o Magano e a Bernardete, que já tiveram passagens muito positivas. Com relação ao presidente, não é possível a gente emitir ainda qualquer avaliação com relação ao currículo (…) a gente não tem ainda vivência dele no setor portuário para poder fazer essa análise”.
No entanto, Aquino ressaltou que não é a primeira vez que gestores da SPA não possuem experiência portuária anterior. “O próprio presidente do governo anterior também não tinha experiência (…) e a grande maioria dos dirigentes na administração do governo anterior também não tinham experiência efetiva na área, então acho que nesse momento o Ministro tem acertado nas indicações”.
Para ele, a expectativa do setor está relacionada com a recuperação da competência da administração portuária local. “Sabemos que no regramento que existe, a administração portuária local está totalmente submissina e subordinada de Brasília”.
“É muito importante que se recupere a competência da administração portuária local (…) e que a administração possa atender as necessidades locais. Não é possível entender um Porto que tem mais de R$ 1 bi em caixa ter graves problemas nos acessos terrestres e ainda não ter uma solução perene de dragagem. Avançamos bastante no acesso ferroviário, mas na parte terrestre a gente ainda tem grandes problemas”, finalizou.
Entenda as indicações
Segundo apurado pelo g1, o ministro de Portos e Aeroportos Márcio França, indicou cinco nomes, que foram aprovados pela Casa Civil do Governo Federal e, agora, serão analisados pelo Comitê de Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração da própria SPA. A etapa antecede a nomeação.
Márcio França (à esq), Pomini (centro) e Geraldo Alckmin (à dir)
Reprodução
Experiência
Pomini é uma pessoa de confiança de França, além de ser ligado ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Ele deixou a prefeitura da capital em 2018, quando anunciou apoio à candidatura do atual ministro ao governo do Estado.
Bernadete já foi superintendente e gerente jurídica da antiga Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), atual SPA. Também já foi secretária de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de São Vicente e assessora da França quando ele era deputado federal.
Lustoza é mestre em Engenharia Mecânica e já atuou em empresas do Porto.
Magano é engenheiro civil e ex-presidente do Sopesp. Ele já foi diretor da Codesp e de grandes companhias portuárias.
Andrade é pós-graduado em Engenharia de Produção e em Segurança do Trabalho. Teve passagens como diretor de Engenharia da antiga Codesp e ministro da Integração Nacional no Governo de Michel Temer (MDB).
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