Gestão municipal informou que, nos endereços, serão construídos um bosque e um ecoponto, mas não informou para onde foram levadas as famílias que estavam nesses lugares. Pessoas em situação de rua reclamam que estão sendo retiradas dos viadutos
A Prefeitura de São Paulo cercou dois viadutos na cidade, e pessoas em situação de rua estão reclamando que, agora, têm que deixar os locais onde vivem.
O primeiro fica nas alças de contorno do Viaduto Ministro Aliomar Baleeiro, no bairro do Cursino, na Zona Sul. A gestão municipal instalou grades na área. Uma placa indica que lá será criado o Bosque Beija-Flor.
Segundo funcionários da obra, além das grades, haverá um portão com uma chave, e as pessoas em situação de rua terão que sair para que todo o espaço seja limpo.
A prefeitura também está fechando o espaço de um viaduto que fica na altura do número 100 da Avenida Rubem Berta, na Vila Mariana, também na Zona Sul, que fica a 5 quilômetros do futuro Bosque Beija-Flor.
A gestão municipal retirou as famílias que trabalhavam com reciclagem debaixo do viaduto. Algumas delas atravessaram a rua e ficaram do outro lado da calçada, mas não sabem até quando permanecerão no local.
O Viaduto 11 de Junho já está com boa parte cercada pelos tapumes. Um homem que preferiu não ser identificado diz que a prefeitura ofereceu vaga num abrigo, mas ele não quis ir.
“Ali era bom, porque a gente conseguia guardar nossos materiais. Muitas pessoas recebem doação porque vem doação para cá”, contou.
Agora, ele tem que conviver com as blitze da prefeitura. Ele diz que até o colchão dele foi levado embora:
“Eu estou quase há uma semana dormindo só no tapete puro, aí meu corpo começou a acordar todo doído”.
Moradia popular
Quem já viveu debaixo de um viaduto diz que, além de todas as condições ruins do dia a dia, a incerteza de não ter para onde ir é apavorante. A consultora de imóveis Talita da Silva ficou 10 anos na rua. Há um mês, ela, o marido e um filho conseguiram um local para morar.
É um pequeno apartamento que foi comprado pela Paróquia do Padre Julio Lancellotti em conjunto com um fundo imobiliário. A família vai pagar um aluguel social depois de algum tempo. Ela e o marido já conseguiram emprego.
“Você entra aqui e fala: ‘Pô, eu estou num sonho, num paraíso, não consegui acordar ainda’. Todo dia acordar e falar: vamos vencer, vamos para a luta, a gente não pode parar”.
Liliane Gonçalves, dona de casa, também saiu debaixo de uma ponte para morar em um dos apartamentos. Ela diz que, agora, está mais fácil conseguir um emprego.
“A gente ia atrás de um serviço, pedia um endereço. Quando a gente falava que morava debaixo da ponte, nunca retornavam. Agora, a gente tem um endereço, né”.
O que diz a prefeitura
A prefeitura da capital informou que realiza a implantação do Bosque Urbano Beija-Flor, nas alças de acesso ao Viaduto Aliomar Baleeiro, e a previsão de conclusão é no final de abril.
Disse também que, na altura do Viaduto 11 de Junho, está sendo construído o Ecoponto Rubem Berta. A previsão de término do serviço é agosto de 2023.
No entanto, a gestão municipal não informou para onde foram levadas as pessoas em situação de rua que estavam nesses locais.
Prefeitura cerca dois viadutos em SP, e pessoas em situação de rua reclamam ao ter que deixar locais onde vivem
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