Pesquisadores vão usar robôs de moreias e siris para estudar reação dos animais. Aspectos como mudança de cor e movimentação são analisados. Polvo se confunde com o ambiente, na Praia do Leão
Tatiana Leite/Divulgação
Um grupo de pesquisadores está em Fernando de Noronha para comprovar se os polvos são seres sencientes – isto é, são capazes de ter sensações e emoções. Avaliações feitas na Inglaterra de estudos em laboratórios que indicam que os polvos são capazes sentir agora serão aplicadas no ambiente natural para entender melhor as espécies.
Inicialmente, os estudiosos achavam que os animais invertebrados, como os polvos, não tinham a capacidade de sentir dores e guardar memória, mas algumas pesquisas têm indicado o contrário.
“Os pesquisadores na Inglaterra fizeram o levantamento de vários estudos e apresentaram a legislação que indica que os polvos podem sentir emoção. A pesquisa em Noronha é a oportunidade de comprovar em ambiente natural o que foi visto em laboratório”, explicou a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Tatiana Silva Leite, que coordena o estudo.
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Pesquisadores estão em Noronha para trabalho de campo na pesquisa do polvo
Ana Clara Marinho/TV Globo
Tatiana estuda os polvos em Fernando de Noronha há 20 anos. Ela, inclusive, descobriu uma nova espécie, a Octopus insularis , que apresenta comportamento diurno.
Um fator que favoreceu a escolha de Fernando de Noronha foi a limpidez da água – o que facilita o trabalho da nova pesquisa.
“Se a gente conseguir comprovar em ambiente natural que o polvo possui senciência, será a primeira vez que a gente vai revelar para o mundo as emoções internas desse animal”, declarou Tatiana Leite.
Professora Tatiana Leite mostra o protótipo de moreia
Ana Clara Marinho/TV Globo
Para comprovar a teoria, pesquisadores fazem testes
Um robô em formato de moreia, confeccionado em 3D, é usado para avaliar a reação do polvo à possibilidade de ser atacado;
A emoção positiva é avaliada quando o animal visualiza o robô de um siri – que faz parte da cadeia alimentar do polvo;
A emoção neutra é estudada apresentando um objeto novo, que ele não conheça.
Tudo é filmado e o animal não é manipulado, apenas observado.
Os resultados prévios indicaram que existe diferença de comportamento entre animais da mesma espécie.
“Alguns desses animais são mais ousados; têm menos medos. Outros, são mais tímidos”, afirmou a bióloga Michaella Andrade, estudante de doutorado da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Emoção expressa por cores
Michaella declarou que o estudo quer entender como os polvos expressam as emoções. Um dos aspectos observados é a relação entre a mudança de cor do animal e as sensações.
“Nós observamos, nos estudos preliminares, que os animais tímidos ficam com coloração mais pálida quando estão em momentos de medo. Eles apresentam postura de braços abertos, para afugentar o humano ou outro animal”, disse a bióloga.
Em situações de brigas ou disputas entre animais a cor também muda.
“Em caso de briga entre polvos, eles usam coloração escura. Geralmente o animal que está batendo no outro fica mais escuro”, revelou Michaella Andrade.
A professora Tatiana Leite contou que o polvo tem células com pigmentos de tinta.
“Essa espécie que estudamos tem cinco tipos de cores: preto, branco, laranja, amarelo e vermelho. Além dessas cores, eles podem refletir a cor do ambiente, uma variedade enorme”, indicou a pesquisadora.
Tatiana explicou que o animal expele tinta quando está estressado.
“Ele joga tinta para disfarçar; o predador vai em direção à tinta e o polvo vai para o outro lado. A tinta também deixa o predador meio zonzo”, informou.
Pesquisadores fazem estudo do polvo
Ana Clara Marinho/TV Globo
A pesquisa de campo em Fernando de Noronha também conta com a participação do professor Cristiano Albuquerque, da Universidade Federal Rural do Semiárido de Mossoró (UFERSA) e da aluna de pós-graduação de neurociências, Mizziara de Paiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A pesquisa conta com o apoio do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio). O trabalho deve ser realizado por quatro anos no arquipélago de Fernando de Noronha.
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Estudo internacional para comprovar se polvos têm sentimentos é realizado em Fernando de Noronha
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