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Painel RBS: especialistas apontam causas da violência e possíveis soluções para levar segurança às escolas


Participaram do painel a psicanalista e doutora em Educação Claudia Flores Rodrigues; a doutora em Educação Cris Vieira, criadora da Code Inteligência; o tenente-coronel da Brigada Militar, sociólogo e especialista em Segurança Pública Dagoberto Albuquerque da Costa; e o médico psiquiatra Pedro Lima, do Hospital Moinhos de Vento. Painel RBS sobre segurança nas escolas
Andressa Ternes/g1
A segurança nas escolas foi tema do Painel RBS, realizado nesta quinta-feira (20), em Porto Alegre. O evento, uma parceria do Grupo RBS com o Hospital Moinhos de Vento, reuniu especialistas para falar sobre os caminhos para a prevenção da violência, a origem do problema e as soluções possíveis.
Os convidados discutiram as possíveis causas da violência em ambiente escolar e sugeriram caminhos para levar segurança e tranquilidade a estudantes, professores, funcionários, pais e responsáveis. Veja abaixo.
O debate foi mediado pela jornalista Cristina Ranzolin e transmitido ao vivo pelo g1 e pela GZH. Participaram do painel a psicanalista e doutora em Educação Claudia Flores Rodrigues; a doutora em Educação Cris Vieira, criadora da Code Inteligência; o tenente-coronel da Brigada Militar, sociólogo e especialista em Segurança Pública Dagoberto Albuquerque da Costa; e o médico psiquiatra Pedro Lima, do Hospital Moinhos de Vento.
Possíveis causas
Na avaliação de Cris Vieira, a insegurança nas escolas é um problema provocado por diversos fatores. Em sua fala inicial, a educadora ressaltou o impacto da pandemia na relação das famílias com a escola.
“A gente vem de um momento muito difícil de pandemia. Crianças muito ansiogênicas, pais, mães e familiares que ficaram num estado de extrema vulnerabilidade social, psíquica, emocional, e mais uma série de coisas que vêm acontecendo com a escola. Um certo descrédito da sua relevância, daquilo que a escola e a educação como um todo vêm produzindo ou não. A relação da família com a escola, que mudou tremendamente. Eu lembro que a relação que as nossas famílias tinham com a escola era muito mais próxima do que é hoje. Outro fator que acho que é importante a gente citar é que, por exemplo, temos um profissional que é importantíssimo dentro da escola pública, que é o orientador educacional. E não existe mais concurso para esse profissional, que é o que faz a relação da escola com a família, com aquele aluno e que tem formação para isso. Há muitos anos que não existe. Acho que é importante a gente perceber que existe uma série de fatores que a gente precisa analisar, e um dia essas coisas iam acontecer. Não é a escola que faz parte da escola, é a vida que está dentro das escolas”, disse.
Cris Vieira, doutora em Educação e criadora da Code Inteligência
Reprodução/RBS TV
Já Claudia Flores Rodrigues falou sobre a importância de uma relação próxima entre pais e filhos. Segundo ela, estudantes têm ficado desassistidos, o que gera uma necessidade de colaboração entre famílias e escolas.
“Nós precisamos sentar com os pais, conversar sobre esse e tantos temas. Por conta da vida como ela é, por conta da contemporaneidade, os pais tendo que trabalhar muito, os filhos ficam muito tempo desassistidos. Quem tem a possibilidade de ter alguém para acompanhar os filhos, excelente, mas quem não tem precisa deixar os filhos sozinhos em casa com outros, com irmãos, é a realidade que a gente tem nas escolas. A gente não pode pensar em quem é o culpado, preciamos acolher e ajudar. Os pais também estão atrapalhados. Vem de muito tempo essa problemática, não é agora”, apontou.
Claudia Flores Rodrigues, psicanalista e doutora em Educação
Reprodução/RBS TV
O médico Pedro Lima afirma que a revolução digital mudou o comportamento das pessoas, potencializando comportamentos extremistas.
“Esse fenômeno, eu acredito que tem muita relação com a revolução digital, sobretudo com as redes sociais. E isso acontece por que exatamente? O que é moral e o que não é moral, que é aceitável e o que não é aceitável para a sociedade não é uma coisa que o nosso cérebro nasce com aqueles parâmetros. Esses parâmetros são estabelecidos através da cultura e da sociedade. Muitas vezes, numa situação, matar uma pessoa é altamente imoral, por exemplo, sair na rua e matar uma pessoa, mesmo acidentalmente, é uma coisa que as pessoas vão sentir extremamente culpadas, mas se estiver numa guerra lá defendendo o seu lado, pode até ganhar uma medalha, é uma coisa desejável, eu mesmo mato. Então, todos esses nossos circuitos que determinam os nossos comportamentos, eles seguem padrões sociais e culturais. E esses padrões sociais e culturais dependem da nossa ecologia, dependem muito da tecnologia, do ambiente que a gente está. No momento em que existe uma ruptura tecnológica, como aconteceu, que é imensa, intensa. A cultura não dá mais respostas àquilo. Aquela pessoa com quem a gente estar discutindo no WhatsApp não tem rosto, ela não é uma pessoa. As pessoas extravasam. Aí, as redes sociais juntam pessoas que pensam parecido. E todo o viés de confirmação, que é aquela coisa de prestar atenção só no que você acredita e não prestar atenção no que não acredita, isso é extremamente potencializado”, diz.
Pedro Lima, médico psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento.
Reprodução/RBS TV
Dagoberto Albuquerque da Costa lista quatro pontos que devem ser considerados para evitar casos de violência em escolas. O primeiro ponto é a segurança física nas escolas. O segundo fator é a presença de uma pessoa que faça o controle de entrada e saída do colégio, não necessariamente um policial.
“Nas escolas particulares, ainda conseguimos ter. Nas escolas públicas, é muito difícil. O terceiro ponto é vigilância eletrônica. Também é algo que nas escolas estaduais e municipais a gente não vê. Controle de acesso por identificação de digital, crachá de acesso, catracas. Isso também é um acesso que inibe esse tipo de crime. O quarto ponto é controle de redes sociais. Geralmente, quem perpetra algum tipo de crime nas escolas deixa algum sinal. Ele avisa um colega, ele avisa algum amigo, ele entra em algum grupo de internet e dá algum sinal, algum aviso. Então, nós precisamos capacitar as pessoas no ambiente escolar (…) a detectar esse tipo de ameaça”, cita.
Dagoberto Albuquerque da Costa, tenente-coronel da BM, sociólogo e especialista em Segurança Pública
Reprodução/RBS TV
Possíveis soluções
O tenente-coronel Dagoberto Albuquerque da Costa diz que a presença policial pode servir como medida paliativa.
“Como medida paliativa, um policial na frente da escola é essencial e primordial, principalmente porque os ânimos estão muito aflorados nesses dois últimos meses, principalmente depois daquela ocorrência em Blumenau. Então a presença física de um policial ajuda, inibe e até de certa forma acolhe a comunidade escolar, mas ela não é o ponto”, afirma.
Para Claudia Flores Rodrigues, em alguns lugares, isso a presença de agentes pode ser bem recebida, já em outros, as crianças podem sentir medo.
“Ontem uma colega falou o seguinte: ‘quando eu chego aqui, as crianças adoram ver o policial, mas lá onde eu trabalho em outro lugar, quando as crianças veem o policial elas já têm medo’. Elas estão acostumadas a ver o policial prender e ter toda aquela confusão”, comenta.
A especialista também defende que as comunidades escolares sejam locais de pertencimento e acolhimento.
“O desejo de pertencimento a gente precisa resgatar. E também trabalhar com a questão da frustração, porque diante de um jogo, do próprio Instagram, tu trabalha pouco a questão da frustração. Se não está bem, tu coloca um filtro. Também acabamos nos anestesiando pelas redes sociais. Pensar também sobre quanto tempo e a qualidade do que a gente está fazendo com as redes sociais. Isso nos mobiliza a pensar também. Quando falei em pertencimento, como fazer com que a gente se sinta pertencente a uma comunidade, me remete ao que o Baumann dizia: a gente precisa ter essa sensação de pertencimento, porque tu tendo uma comunidade, aquela comunidade diz muito de ti e tu faz tudo por ela. A escola é uma comunidade, e se essa comunidade for um lugar de acolhimento, muitas vezes é preciso não julgar, ouvir. Tanto o professor, quanto o aluno. A escola é um lugar de violências, violências veladas ou escrachadas, e essa violência não é só do aluno em relação ao professor, muitas vezes é do professor em relação ao aluno, dos pais em relação ao professor, isso é uma questão que a gente precisa olhar. É uma violência que tá aí. Isso nos fala muito do quê? Do adoecimento das famílias, dos professores, da sociedade em geral”, fala.
O médico Pedro Lima defende foco na empatia, para com que as crianças aprendam a lidar com o convívio em sociedade, e em uma solução social para o problema da violência.
“A grande solução apra a segurança é um solução que envolve a sociedade. A gente não pode transformar tudo num bunker. Porque isso não tem como. Eu sei que a proposta policial tem que ser essa, tem que ter controle. Mas a solução que eu acredito tem que ser social”, afirma.
Cris Vieira concorda com soluções sociais, que aproximem a comunidade do dia a dia da escola.
“A escola precisa ser a instituição legitimada socialmente de aprendizagem, e, se a gente tiver que trabalhar com a aprendizagem da comunidade, isso é algo que a escola pode e deve fazer. Por que a gente precisa trabalhar com uma cultura em que a gente vá fazer reuniões intermináveis com os pais para falar de casos que poderiam ser tratados no individual? Por que não chamamos os pais para trazer temáticas, estudos, conhecimento para as pessoas? A escola para mim é um espaço de aprender e ensinar, e é também daquele sujeito e de toda a sociedade. Se não é na escola que vamos aprender coisas sobre vida, onde vai ser? Acho que temos que trazer a ideia desta confiança naquilo que a escola pode oferecer, nos mecanismos que a escola vai criar de proteção desta criança e isso é que a gente precisa respaldar. Quando um pai diz, e eu vi nos comentários que apareceram, ‘eu tô com medo, não vou levar meu filho na escola’, isso vem de onde? A gente não pode respaldar, porque estamos fomentando uma cultura e dando notoriedade e colocando fermento no contrário. Temos que acreditar que a escola, como espaço de formação e aprendizagem, vai criar mecanismos para resolver essa situação, mas sozinha ela não vai funcionar. Precisamos do apoio dos pais, dos responsáveis, dos avós, do estado, do governo, de tudo aquilo que a gente puder lançar mão para nos ajudar”, afirma.
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