Vítor de Paula Veloso é fã da banda. Menores de 10 anos não estão autorizados a participar do evento, que será realizado no Mineirão. Vitor, de cinco anos, é fã do Kiss
Arquivo pessoal
“Vitinho, o Kiss vem a Belo Horizonte. Só que a mamãe vai ter que pedir autorização do juiz para você ir ao show, porque só pode entrar adulto”, disse a funcionária pública Patrícia de Paula Tocafundo, de 42 anos.
E essa não foi aquela promessa de mãe inspirada no clássico “na volta a gente compra”. Ela apresentou à Vara da Infância e Juventude de Minas Gerais uma série de motivos para o menino de cinco anos não ficar de fora da turnê de despedida da banda norte-americana, que se apresenta em Belo Horizonte nesta quinta-feira (20). A classificação etária do show é dez anos.
“Em outubro de 2020, com quase três anos, o Vítor foi diagnosticado com Linfoma de Burkitt, um câncer altamente agressivo. (..) ficou internado no Hospital Felício Rocho por nove meses (…) lutou bravamente contra o câncer e ficou conhecido como o ‘menino do rock’, ‘o bebê rock’, ‘o menino que ama o Kiss’”, diz trecho do documento.
Os duros momentos no hospital – mais de 270 dias entre poucas altas e muitas internações – foram aliviados por acordes de guitarra e muito rock ‘n roll. Os super-heróis, tão amados pelas crianças dessa idade, nunca mexeram tanto com o garotinho quanto os integrantes de cara pintada e língua à mostra que formam a banda de hard rock. Seu grande ídolo? O vocalista, baixista e fundador do grupo: Genne Simmons.
A cara pintada compõe o visual
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Neste tratamento complexo contra o linfoma de Burkitt, a música sempre foi remédio. Preso ao berço – ligado por fios que o conectavam a máquinas – cantava e dançava as músicas – se equilibrando no colchão. No pequeno tablet que o acompanhava no quarto, desenhos infantis dividiam espaço com clipes da banda. E não é preciso dizer quem acumulou mais horas de exibição.
Vitinho só aceitava largar o tablet para pegar outro brinquedo: a guitarra. Ela também o acompanhou durante todo o tratamento.
“Ele teve que passar por uma cirurgia no abdômen e ficou internado no CTI. Ele não queria se levantar da cama, ficou vários dias sem mover. Até que o cirurgião autorizou a entrada da guitarra no CTI. Neste dia ele ficou extremamente feliz e se levantou. Começou a tocar e a movimentar o corpo ouvindo os clipes da banda no tablet. Fazia show para a equipe do CTI”, relembra Patrícia.
Cura
Vitor comemora a cura do câncer vestido de integrante do Kiss
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Foram nove longos meses até que a turnê pelo Hospital Felício Rocho ganhasse um show de despedida. Foi durante uma das etapas mais esperadas do tratamento oncológico, um momento simbólico em que o paciente se despede da equipe médica e toca um sino para dizer: “eu venci”.
E para um momento especial, uma roupa especial. Ou seria fantasia? A verdade é que os pais de Vitinho correram parar deixar tudo preparado para o grande dia. Na internet conseguiram uma “roupa de morcego”, parecida com os figurinos da banda. Encontraram também uma bota preta de cano alto. Para terminar, correram até a Galeria do Ouvidor, no centro de Belo Horizonte, para comprar acessórios: miçangas, pingentes, tachas de metal. Pronto, lá estava o pequeno grande fã vestido como seus ídolos – no estilo para se despedir de uma temporada de muitos desafios.
E de onde veio essa paixão?
Pai de Vitor tem coleção dos álbuns do Kiss
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O pai de Vítor, o também funcionário público Breno Silva Veloso, 43, tinha a idade do filho quando ganhou o primeiro disco de vinil da Banda Kiss. E depois vieram tantos outros. Hoje a família guarda uma coleção de mais de mil unidades, entre álbuns dos “artistas da cara pintada” e outros clássicos do rock.
Ouvir os discos do pai sempre foi uma das brincadeiras preferidas de Vitinho. Neste vídeo, quando ele ainda estava aprendendo as primeiras palavras, o nome da banda preferida do pai – que depois também tornaria sua grande paixão – sai facilmente e com muita empolgação. Veja vídeo abaixo:
Linfoma de Burkitt
Há dois anos em casa, Vitinho volta de tempos em tempos ao hospital para fazer exames e matar a saudade de seus fãs, ou melhor, da equipe que cuidou dele. E será assim por pelo menos cinco anos – período com maior risco de a doença voltar. Os médicos também investigam possíveis efeitos colaterais provocados pelas medicações que teve que tomar nos momentos mais difíceis da doença.
O linfoma de Burkitt é um câncer raro que ataca as células e tem alta taxa de duplicação, podendo aumentar rapidamente de tamanho. Ele é um subtipo de linfoma não-Hodgkin que pode aparecer em pessoas de qualquer idade, mas é mais comum em crianças e jovens adultos (até 25 anos).
Os sintomas mais comuns deste tipo de câncer são:
Ínguas no pescoço, axilas e/ou virilha
Febre
Suor excessivo à noite
Perda de peso sem causa aparente
“Além do tamanho dos linfonodos, temos também os sintomas chamados de ‘B’: febre mais para o final do dia, que não passa de 39°C e que não está associada a nenhuma infecção, sudorese à noite e uma perda de peso de mais de 10% do peso habitual sem intenção”, explica o oncohematologista Jayr Schmidt Filho, líder do Centro de Referência de Neoplasias Hematológicas do A.C.Camargo Cancer Center.
Luciana Tucunduva, médica hematologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, explica que o Burkitt não tem uma causa direta.
“É um erro nas células quando estão sendo produzidas. Ele é agressivo, se desenvolve rápido, mas com chance de cura muito alta”.
Acidente de trânsito
Neste ano a família de Vitinho viveu outro grande susto. O menino foi atropelado ao atravessar a rua em Pedro Leopoldo – Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele ficou ferido com fratura exposta na perna, teve que passar por cirurgia e colocar cinco pinos – que já foram retirados.
Os pais contam aliviados que o filho já consegue caminhar sozinho e teve alta médica para aproveitar o show da banda do coração. Estar no Mineirão cara a cara com os ídolos será a celebração de mais um recomeço.
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