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Primo de cantora que morreu na queda do voo Rio-Paris diz que tribunal foi parcial ao absolver Airbus e Air France: ‘Injustiça’


Decisão da Justiça da França absolveu, na segunda-feira (17), as duas empresas pela morte de 228 pessoas. Advogado e primo de Juliana de Aquino discorda da sentença. Família da vítima é de Olímpia (SP). Juliana de Aquino lançou CD e trabalhava como cantora
Reprodução
A absolvição da Air France e da Airbus não surpreendeu a família da cantora Juliana de Aquino, de 29 anos, vítima da queda do voo AF 447 Rio-Paris. O acidente ocorreu em junho de 2009 e matou 228 pessoas.
Ao g1, o primo de Juliana, o advogado Luiz Carlos Roberto, de 59 anos, disse que, apesar de manter a esperança de que houvesse a condenação das empresas pela variedade de provas, a família imaginava que a Justiça francesa decidisse pela absolvição.
VÍDEO: Relembre a queda do voo AF 447 da Air France em 2009
Como profissional que atua na área, Luiz Carlos destacou que o próprio Ministério Público da França opinou pela absolvição, o que, de certo modo, influenciou na decisão final da Justiça.
“Discordo da decisão, haja vista que tanto a Air France e a Airbus assumiram a negligência e imperícia, comprovados nos autos do processo. Houve parcialidade e injustiça nessa decisão dos jurados, já que as provas são maduras o suficiente para reconhecer a tipicidade do homicídio culposo”, disse o primo de Juliana, cuja família é natural de Olímpia (SP).
Advogado José Luiz Roberto é primo de Juliana de Aquino, vítima do voo 447 que caiu em 2009
José Luiz Roberto /Arquivo pessoal
Segundo a imprensa francesa, não cabe recurso à decisão emitida na segunda-feira (17). Mesmo se a Justiça aceitasse mais recursos, Luiz Carlos afirmou que a família não recorreria à decisão, por considerar que não há nada que traga Juliana de volta à vida.
“O dano é irreparável. O sofrimento fala por si só. A Justiça enviou um dinheiro pelo dano material, que foi partilhado entre os irmãos de Juliana, porque os pais não querem dinheiro. Isso não traz a Juliana de volta”, lamentou.
Tribunal da França inocenta Air France e Airbus por acidente com o voo 447
Carreira profissional
Nascida em Brasília (DF), Juliana iniciou a carreira profissional aos quatro anos e estudou piano no Instituto de Música do Distrito Federal. Na Europa, a cantora se destacava nas apresentações e faria um teste para o Circo de Solei.
O voo Air France 447 saiu do aeroporto do Galeão com destino a Paris no dia 31 de maio de 2009
Jornal Nacional/ Reprodução
Aos 15 anos, Juliana estreou a carreira solo e, em 2001, lançou o seu primeiro CD. Vegetariana e apaixonada por filmes, a cantora teve oportunidade de atuar na Alemanha, na produção de “O Rei Leão”, entre 2003 e 2007.
Apegada à família, a Juliana sonhava em ter filhos, mas priorizava solidificar a carreira. Antes do acidente, a cantora trabalhava em Stuttgart, na Alemanha, no musical Wicked.
Juliana de Aquino lançou CD e trabalhava como cantora
José Luiz Carlos /Arquivo pessoal
Segundo Luiz Carlos, Juliana voltou ao Brasil para visitar a família e morreu enquanto retornava a Paris. Por desejar que o sofrimento terminasse, o advogado destacou que, na época do acidente, os pais da cantora autorizaram que as buscas pelo corpo fossem encerradas.
“A família não gosta de lembrar, é um sofrimento que ressurge em duplicidade, porque toda vez que recebemos uma notícia sobre a situação, a gente revive o momento. Não tem como apagar, somente aprendemos a lidar com essa perda. Ela fez um voo para a eternidade”, disse.
Equipe da Marinha do Brasil faz o resgate em alto-mar, em junho de 2009, dos destroços do avião da Air France que desapareceu na costa nordestina do Brasil
Agência Estado
Absolvição
A Airbus e Air France eram julgadas por homicídio involuntário. O tribunal de Paris responsável pelo caso absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido “falhas”, não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade” segura com o acidente.
Ou seja, a Justiça disse entender que nenhum problema técnico do avião provocou a queda da aeronave – que caiu sobre o Oceano Atlântico em 1º de junho de 2009 após passar por uma turbulência severa.
Arte voo af 447 Vale este
Arte G1
Desde então, comitês de investigação tentam achar o motivo da queda. Em 2011, investigadores franceses, com base em uma busca com submarinos, afirmaram que os pilotos responderam “com falha” a um problema envolvendo sensores de velocidade congelados.
Por conta disso, a aeronave entrou em queda livre e não conseguiu responder aos alertas de estol – quando o avião perde a capacidade de voar.
Ao anunciar o veredito, o juiz do tribunal criminal de Paris listou vários atos de negligência de ambas as empresas, mas disse que eles ficaram “aquém da certeza necessária para estabelecer responsabilidade firme pelo pior desastre aéreo”.
Ainda assim, a sentença destacou o debate que se gerou após a queda da aeronave sobre problemas técnicos tanto da Airbus quanto da Air France com os sistemas que geram as leituras de velocidade.
Este foi o primeiro julgamento da França por homicídio involuntário corporativo, para o qual a multa máxima é de 225 mil euros (cerca de R$ 1,21 milhão).
Ambas as empresas se declararam inocentes.
Posição das empresas
Após o julgamento, a Air France disse, em nota, se solidarizar com os parentes das vítimas.
“A empresa sempre lembrará a memória das vítimas deste terrível acidente e expressa sua mais profunda compaixão a todos os seus entes queridos”, disse o comunicado.
A Airbus também manifestou solidariedade, mas, em nota, chamou a decisão de “congruente”.
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