Em Araraquara, Ednan Dalle Piagen mantém uma geladeira solidária há quase 10 anos e ajuda alimentar mais de 300 pessoas ao dia. Projeto é comunitário e recebe doações da população. Comerciante de Araraquara instala mais de 1 mil geladeiras solidárias ao redor do mundo
Os olhos de Ednan Dalle Piage brilham ao falar sobre o projeto da Geladeira Solidária de Araraquara (SP). O comerciante se dedica em alimentar e ajudar o próximo há quase uma década, e o sentimento de gratidão está em sua narrativa e trajetória.
A geladeira funciona 24h, nunca desliga e recebe diariamente 300 marmitas doadas pela população, alimentando moradores em situação de rua e famílias carentes da cidade.
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E não para por aí, o projeto ganhou o mundo e existe em mais de mil cidades no mundo, como França, Estados Unidos, Chile e Romênia, sendo a da Morada do Sol a mais antiga em atividade. A iniciativa é reconhecida mundialmente como Freedge.
Ednan e um amigo são responsáveis por ajudar a instalar os eletrodomésticos comunitários em centenas de países, seja com doações de parceiros ou financiando. Em Araraquara, a geladeira está instalada em uma calçada em frente à Praça Faveral, na vila José Bonifácio.
“Ela está em atividade no mundo há muitos anos, e instalamos 1.050 mil no total. Tem em vários bairros de periferia da França, Argentina, Angola, Romênia. Mas a de Araraquara é a mais antiga em atividade e é diferente de todas porque é a única do mundo que já tirou 56 moradores da rua, porque não damos só comida, fazemos um trabalho social também. Percebemos que ao longo dos anos é possível com pouco mudar e transformar a vida de várias pessoas”, contou Ednan.
Família solidária: Ednan Piage e dona Elza Mendonça abastecem a Geladeira Solidária de Araraquara
Amanda Rocha/g1
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Ceia de Natal
Na noite de Natal, uma ceia comunitária será realizada na praça Faveral para pessoas em vulnerabilidade social. A ação acontece todos os anos e reforça a dedicação e o compromisso do comerciante em levar esperança a quem tem fome.
Elza Mendonça confere e organiza os produtos da geladeira em Araraquara
Amanda Rocha/g1
“O sentimento que sinto é gratidão, é inacreditável que com o pouquinho de cada um mudamos a vida de alguém que estava sem esperança, e esse é nosso foco no final do ano, atender as crianças e famílias que vem até aqui e passar o Natal juntos, entregar brinquedos, panetones, chocotones. Percebemos que as pessoas vem doando cada vez mais, e mesmo passando por pandemia, o projeto deu continuidade e aumentaram as doações”, contou.
Família solidária
O braço direito de Ednan é a sua mãe, Elza Dias Mendonça, de 68 anos. Dona Elza contou que embora seja um projeto solidário, a ação também enfrenta muita crítica e oposição.
“É muito gratificante, mas recebemos muitas críticas dizendo que ajudamos vagabundos. Para gente não interessa isso, se a pessoa é isso ou aquilo, fico mais feliz em doar do que receber. Um abraço que recebo já é gratificante, não preciso de mais nada. É uma coisa tão boa, eu não quero nada em troca, quero realizar o hoje, porque amanhã só a Deus pertence”, contou emocionada.
A geladeira fica em frente à antiga padaria da família, que ampliou o comércio e mudou de endereço para alguns quarteirões abaixo. Mas, para não perder o ponto e continuar com o trabalho voluntário, Ednan manteve o aluguel do espaço e o transformou em um depósito.
Dona Elza e Ednan são comerciantes e mantém a geladeira solidária em Araraquara. Pães e doces da padaria também são doados por eles.
Amanda Rocha/g1
A ideia da dupla é fazer franquias com o novo empreendimento e investir em outros projetos sociais na cidade. Dois já estão em atividade no Jardim das Hortênsias e Parque São Paulo, na periferia de Araraquara. Aulas gratuitas de balé, canto coral e inglês são oferecidas para crianças e adolescentes dos bairros.
“Meia cidade me apoia, e meia cidade não. Falam que sou aliado do tráfico, escuto muita besteira. Eu cuido das crianças, muitas já tiveram os pais presos e alguém tem que pensar nelas. E sem comida não tem jeito de viver. Muita gente doa comida, mas dar a cara pra bater, sou eu e um amigo. A gente vive num país cristão, mas o que é ser cristão? Jesus ensinou a amar, mas distorceram muito a fala dele. Temos que fazer o bem, e incentivar”, finalizou.
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