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Cotação do dólar atinge o maior valor da história do real, mesmo com intervenções do Banco Central


Enquanto não recebe um sinal concreto de compromisso com o equilíbrio fiscal, o mercado de câmbio sofre os efeitos da desconfiança. Apesar de leilões do BC, dólar fecha no maior valor da história
Enquanto não recebe um sinal concreto de compromisso com o equilíbrio fiscal, o mercado de câmbio sofre os efeitos da desconfiança. O Banco Central do Brasil fez nesta segunda-feira (16) dois leilões de dólares na tentativa de conter a disparada da moeda. Mas não adiantou. A cotação fechou no maior valor da história.
Toda roda de negócios é como uma roda de conversa. Se a linguagem é o câmbio, quem sente firmeza na economia do Brasil troca dólar por real. Quem enxerga motivos para desconfiar, compra dólar, considerada a moeda mais segura do mundo. O economista Rodrigo Marchatti explica o movimento do dólar nas últimas semanas:
“Perde fundamento e as pessoas, algumas que estão posicionadas vão para o desespero e vendem a qualquer preço, não tomam as decisões pautadas… Há dois, três dias, eu achei que dava para comprar nesse preço. Passaram três dias e aquilo só andou contra, as pessoas meio que vão jogando a toalha. As pessoas que eu digo são, principalmente, tesourarias, os fundos de investimento, os grandes tomadores de posição desse mercado financeiro. E isso gera um efeito manada. As pessoas veem o dólar disparando e mais pessoas físicas vão querer mandar dólar para fora, ou comprar dólar, e aí o Banco Central tem que trazer um pouco de calma”, afirma Rodrigo Marchatti, economista e diretor da Veedha Investimentos.
Foi um “muita calma nessa hora”: a maior venda direta de dólares à vista desde a pandemia. Quando a situação preocupa, inundar o mercado ávido por dólares é o jeito que o Banco Central tem para intervir dentro da regra do sistema flutuante de câmbio.
Cotação do dólar atinge o maior valor da história do real, mesmo com intervenções do Banco Central
Jornal Nacional/ Reprodução
São dois tipos de leilões: à vista é uma. O Banco Central usa dinheiro das reservas internacionais para uma venda direta só para as instituições cadastradas, explica Luiz Fernando Figueiredo, o ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho da JiveMaua Investments.
“São os bancos que têm o que eles chamam de ‘carteira de câmbio’. Ou seja, eles são autorizados a operar o mercado de câmbio”.
Outra forma é chamado o leilão de linha, sempre programado com alguma antecedência. O Banco Central vende dólar com o compromisso de recomprar no futuro – tipo um empréstimo. Luiz Fernando Figueiredo explica a atuação do Banco Central nos leilões:
“As ofertas são feitas todas de maneira eletrônica. Ele analisa as ofertas e ele faz a quantidade que ele quiser, pode cortar… Às vezes, em um leilão de venda, os compradores põem um preço muito baixo e ele simplesmente não aceita”, diz Luiz Fernando Figueiredo.
No fim do ano, os leilões são mais comuns porque há mais pressão no mercado, mais procura por dólares. Investidores estrangeiros e empresas multinacionais instaladas no Brasil compram moeda americana para mandar os lucros para casa. E o Banco Central sabe disso.
“Está tendo uma pressão muito grande, é final de ano, que é sempre uma época sazonalmente com mais saídas”, afirma Luiz Fernando Figueiredo.
O Banco Central tem uma reserva de mais de US$ 370 bilhões. Se ele fala que vai vender, o mercado para para olhar. Tesourarias de empresas, casas de câmbio, corretoras de valores, bancos: todos os agentes desse mercado já esperavam para as 10h20 a venda de US$ 3 bilhões no leilão anunciado na sexta-feira (13). Só que o BC surpreendeu: meia hora depois da abertura, às 9h35, anunciou um outro leilão extraordinário: encharcou o mercado com US$ 1,6 bilhão, e a moeda americana que subia, passou a cair.
Cotação do dólar comercial nesta segunda-feira (16)
Jornal Nacional/ Reprodução
O peso da mão o Banco Central fica explícito no gráfico. De quase R$ 6,10 para R$ 6,02. Essa descida de preço foi logo depois do primeiro leilão à vista, que pegou os investidores no susto. O segundo leilão ajudou a sustentar valor. Mas a moeda americana foi ganhando força. No fim do dia, o dólar fechou na maior cotação da história: R$ 6,09.
Parece que o debate ainda pode estar longe do fim. Fôlego para defender o real, a autoridade monetária tem. Mas é preciso esfriar os ânimos depressa, diz o economista Rodrigo Marchatti, CEO da Veedha Investimentos:
“A reserva internacional hoje coloca o Brasil num patamar muito melhor que outros países emergentes. O Banco Central resolveu usar toda a artilharia que ele tem de política monetária para diminuir um pouco a intensidade do mercado, principalmente do que pode atrapalhar a meta dele de inflação. Se esse câmbio continua se desvalorizando, a gente que tem uma cesta de bens com bastante componentes de importação, a gente vai trazer mais pressão inflacionária”.
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