Cada idioma é único, repleto de expressões e significados que se modificam ao longo do tempo. Estima-se que existam 7.151 idiomas no mundo e com tamanha variedade, várias não possuem tradução entre si. Contudo, pesquisadores da Universidade da Anglia Oriental, na Inglaterra, descobriram duas palavras universais: “isto” e “aquilo”.
Publicado na Nature Human Behaviour, o estudo explica que em todas as 29 línguas analisadas, o termo “isto” é aplicado para se referir a objetos dentro do alcance (espaço peripessoal), enquanto “aquilo” é usado para objetos fora do alcance (espaço extrapessoal).
“Queríamos descobrir como os falantes de uma ampla variedade de línguas usam as palavras mais antigas registradas em todas as línguas – demonstrativos espaciais”, explicou o pesquisador Kenny Coventry, da Escola de Psicologia da UEA.
Ou seja, a pesquisa provou que em qualquer língua, as pessoas usam as palavras universais para organizar o espaço com base na capacidade de agir sobre os objetos.
Essa organização, por sua vez, está ligada à forma como o cérebro humano percebe o espaço e como as pessoas interagem com o ambiente ao seu redor.
As palavras universais surgiram com a evolução
O estudo sugere ainda que as palavras demonstrativas, como “isto” e “aquilo”, podem ter papel essencial na evolução da linguagem a medida que uma criança cresce, porque elas são conectadas ao gesto de apontar, uma forma básica de comunicação.
Desde cedo, crianças aprendem a diferenciar objetos próximos e distantes com gestos e palavras, o que reflete a transição de ações físicas (como alcançar) para formas simbólicas de linguagem.
Isso sugere que os demonstrativos podem ajudar na evolução da linguagem de uma pessoa a partir de gestos simples, funcionando como uma ponte entre ação, cognição e comunicação em todas as línguas.
Como foi realizado o estudo
Em colaboração com pesquisadores de outras 32 instituições internacionais, os cientistas analisaram 29 idiomas de todo o mundo, incluindo português, inglês, espanhol, norueguês, japonês, mandarim, tzeltal e telugu.
O estudo utilizou um jogo de memória para analisar o uso de palavras demonstrativos. Participantes de 29 línguas foram colocados em frente a uma mesa com objetos posicionados em diferentes distâncias (dentro e fora do alcance físico).
Eles tinham que apontar e descrever cada objeto usando as palavras demonstrativas disponíveis em sua língua, como “isto” e “aquilo”. Segundo os pesquisadores, a tarefa focava na memória, evitando que os participantes percebessem que o objetivo era estudar o uso dos demonstrativos.