Pelo segundo ano consecutivo temos um finalista de Santa Catarina no Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira. E quem sabe, também pela segunda seguida, trazer essa láurea vem para o Estado. O professor e escritor Walter Maldonado, de Florianópolis, é finalista na categoria “romance estreante” com o livro “Vão”, lançado ano passado pela editora Viseu.
Os premiados serão anunciados nessa terça-feira (19), às 20h, em São Paulo, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), e com transmissão pelo YouTube.
O fato de “Vão” estar entre os finalistas já o coloca entre os cinco melhores livros do ano pela entidade. É uma estreia e tanto para Maldonado que, após 30 anos lecionando literatura em cursos e cursinhos pré-vestibular, escrevendo na internet, tomou a frente e produziu seu primeiro livro.
De São Paulo, onde está para acompanhar a cerimônia do Jabuti logo mais, Walter Maldonado trocou algumas mensagens com o blog sobre sua obra (disponível em livrarias e também nas plataformas digitais) e, claro, a expectativa quanto ao que virá da Paulicéia.
Como surgiu “Vão”
“O livro foi escrito em um momento pandêmico e pós, então é um livro que traz um processo de introspecção. É a história de um prédio, de quatro andares, cada qual com quatro apartamentos e que no meio tem um vão e todas as janelas basculantes se conversam. Os moradores escutam tudo o que acontece pelo vão.
Apesar de não fazer referência à pandemia, ele é um livro que vai falar sobre esse momento de “ensimesmamento” das pessoas, de estar se voltando para dentro, e o reconhecimento desse processo delas.”
Uma grande estreia
“O livro foi inscrito na categoria romance estreante. Ou seja: é o meu primeiro livro. Meu primeiro romance e eu já estou na final do Jabuti, olha só. Eu fiquei 30 anos ensinando meus alunos a escrever, como professor de cursinho pré-vestibular. Eu já tive mais de 50 mil alunos nessa minha vida. E o livro tem um personagem que fala um pouquinho sobre essa falta de coragem. No momento da pandemia então eu tive essa coragem e escrevi.”
E o Jabuti?
Quando eu inscrevi o livro no prêmio Jabuti eu meio estava meio que fantasiando que eu pudesse ser semifinalista e finalista. Eu estava em um momento em que eu precisava elevar a minha autoestima e o inscrevi. No dia do anúncio eu fui ver o resultado, bem devagarinho, e pensando ‘bom, vai acabar o sonho agora’. Quando eu olhei o meu nome estava lá entre os 10 semifinalistas. Eu fiquei muito feliz. É uma chancela de um prêmio muito importante, mas agora eu sou finalista. Eu tô maravilhado!”
Leia a sinopse de “Vão”, de Walter Maldonado
“Um edifício simples, com quatro andares e quatro apartamentos por andar, unidos em seu centro através das janelas basculantes dos banheiros por um vão. Por ali, ecoam sons, ruídos, conversas, banhos, cantorias. Em um domingo pela manhã, enquanto um morador ligado à astrologia lê sobre alinhamentos de planeta, um outro alinhamento ocorre: todos os moradores, cada um por seu motivo, entram em seus banheiros. São 87 segundos de total silêncio, até que surgem, pelo vão, três intensos, diferentes e perturbadores gritos.
Esse é o mote deste livro que traz, a partir dos gritos, uma incansável busca dos personagens por reconhecer quem gritou, compreender o vão do prédio e principalmente reconhecer seus próprios vãos. Com uma linguagem acolhedora, o livro vai desvendando a alma de cada um dos moradores do prédio — que poderia ser inclusive você — e leva a uma incômoda e intensa reflexão sobre os vazios de cada um.
Em alguns momentos, singelo, simples, agradável; em outros, provocador, insinuante, duro. Vão, mais que qualquer coisa, é um exercício de se olhar profundamente, além de um convite a reconhecer seus próprios vãos. É um texto que a cada página amplia o volume da percepção, aguça a reflexão e se encerra com uma aura provocativa de questionamentos. Você teria coragem?”