Depois de investigar hipótese de bombom envenenado, depoimentos de parentes e aprofundamento do perfil de suspeito foram fundamentais para chegar ao nome de Rafael Furtado, que se entregou na segunda-feira (12). Rafael disse que era padrasto de Benjamim Rodrigues e chegou a levá-lo à UPA. Rafael da Rocha
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A investigação que terminou com a prisão do suspeito de matar dois meninos com um açaí envenenado com chumbinho apontou que Rafael da Rocha Furtado cometeu o crime imaginando que poderia reatar uma relação com a mãe de uma das vítimas. Para isso, Rafael queria envenenar a criança para depois tentar “salvá-la”.
Segundo a Delegacia de Homicídios da Capital, que investigou o caso, Rafael tinha como objetivo envenenar apenas uma criança: Benjamim Rodrigues Ribeiro, filho de sua ex-mulher, Maria Carolina. Ele também mentia sobre ser pai de um dos filhos dela, segundo as investigações, e afirmou ter levado Benjamim à UPA de Del Castilho, na Zona Norte, após a criança passar mal.
No entanto, ele não imaginava que o açaí que deu para a criança seria tomado também por Ythallo Raphael Tobias Rosa, de 7 anos, que acabou passando mal e morrendo no mesmo dia. Benjamim morreu 10 dias depois.
Ythallo Raphael Tobias Rosa, de 6 anos, morreu com suspeita de envenenamento no Rio
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Inicialmente, a polícia acreditava as crianças tinham comido um bombom envenenado dado por uma mulher não identificada. A versão foi dada por um adolescente que relatou que teria recusado o doce, antes de o bombom ser entregue a Benjamim.
Após o avanço das investigações, com outros depoimentos e informações importantes sobre as vítimas e o que aconteceu naquele dia, a DH concluiu que na verdade foi Rafael da Rocha Furtado, ex-namorado da mãe de Benjamin, quem deu um açaí envenenado para as crianças.
A primeira versão do adolescente à polícia foi desmentida por ele mesmo: o jovem contou que viu Benjamin com um açaí na mão comprado por Rafael. Segundo ele, a criança já tinha bebido metade da garrafa, e entregou para Ythalo o resto do alimento.
A perícia do Instituto Médico Legal confirmou que eles ingeriram chumbinho.
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Segundo a investigação, Rafael e a mãe de Benjamim tiveram um relacionamento até julho deste ano. O crime foi no fim de setembro.
Segundo a polícia, Rafael buscou Benjamin no colégio e deu o açaí envenenado para ele. No caminho de casa, o menino dividiu o alimento com Ythalo.
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Os dois meninos, que eram da mesma escola, foram socorridos depois de começarem a vomitar. Eles foram levados inicialmente para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Del Castilho. Ythallo sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu no dia 30 de setembro. Já Benjamim passou 10 dias internado e morreu no dia 13 de outubro.
Versão de bombom desmascarada
Após analisar mais de 40 horas de vídeos de câmeras de segurança, a Delegacia de Homicídios passou a desconfiar da versão de uma mulher desconhecida ter oferecido o bombom envenenado a um dos meninos.
Os depoimentos do avô e do pai de Benjamim ajudaram a polícia a direcionar a investigação para apontar Rafael como principal suspeito do crime.
O pai de Benjamim afirmou que a criança tinha intolerância a lactose e que não costumava aceitar comida oferecida por pessoas desconhecidas, e que acreditava que só comeria ou tomaria qualquer coisa se fosse dada por alguém de confiança. Segundo o pai da criança, Rafael estaria entre as pessoas que costumavam oferecer comida e bebida a Benjamim.
Por sua vez, o avô da criança relatou à polícia ter visto Benjamim com Rafael, após o horário escolar, e que a criança estava com uma garrafa de açaí batido já aberta na mão.
Após ser divulgado que a versão da mulher ter dado o bombom era falsa, Rafael passou a espalhar na comunidade que não havia comprado açaí para Benjamim. O depoimento do avô, no entanto, desmente essa versão.
Perfil controlador e ciumento
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O pai de Benjamim disse que Rafael o tinha agredido em uma festa da família da criança. Segundo ele, o suspeito do crime era muito ciumento e não admitia ‘perder’ Maria Carolina. O depoimento foi reforçado pelas falas de outras pessoas, incluindo a própria mãe de Benjamim.
Na delegacia, Maria Carolina disse que terminou a relação com Rafael depois que ele agrediu o pai de Benjamim com uma garrafada na cabeça, e que ele seguia tentando se aproximar dela para uma reconciliação.
Para isso, segundo ela, Rafael se utilizava do carinho que Benjamim tinha por ele, e ainda teria mentido em depoimento dizendo que a relação com a mãe da criança era harmoniosa. Maria Carolina, segundo relatou em depoimento, sempre rechaçou qualquer possibilidade de reatar a relação.
O suspeito, segundo informações da investigação, ficou emocionado ao saber que Benjamim e Ythallo tinham se encontrado logo após ele oferecer o açaí.
A partir daí, a polícia começou a encontrar cada vez mais indícios da hipótese que Rafael teria envenenado Benjamim com o açaí batido para depois “salvá-lo” e se mostrar útil para Maria Carolina, com o objetivo de reatar a relação.
A morte de Ythalo, no entanto, teria sido acidental e ocorreu porque ele bebeu o açaí que Benjamim lhe ofereceu, ingerindo uma quantidade maior de veneno por ter bebido do fundo da garrafa, onde o “chumbinho” estava concentrado.