Advogados alegam que um jurado já havia manifestado prévia disposição para condenar réu. Há menos de um mês, Boldrini foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão pela morte do filho. Ele foi responsabilizado pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Caso Bernardo: veja leitura da decisão que condenou Leandro Boldrini a 31 anos e 8 meses de prisão pela morte do filho
A defesa de Leandro Boldrini, pai de Bernardo Uglione Boldrini, ingressou com pedido de anulação do julgamento realizado em março deste ano, em razão de uma postagem feita por um dos jurados em uma rede social. Na ocasião, Boldrini foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão pela morte do filho de 11 anos, assassinado em 2014, em Três Passos, no Noroeste do estado. (Veja a leitura da decisão no vídeo acima)
Leandro Boldrini é novamente condenado pela morte do filho
Saiba qual a situação atual dos quatro condenados
Os advogados constituídos por Leandro Boldrini sustentam o pedido de nulidade com o argumento de que ”um jurado já havia manifestado prévia disposição para condenar o acusado” em publicações nas redes sociais. Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti acrescentam que “a atitude do jurado não violou apenas o constitucional direito do réu de ser julgado por um juízo imparcial, núcleo fundante do devido processo legal. A atitude do jurado colocou em xeque a própria Instituição do Tribunal do Júri”.
Destacada pelo Ministério Público (MP) para atuar no júri, a promotora Lúcia Helena Callegari classificou como ”lamentável” a postura dos advogados. Segundo ela, ”a defesa poderia ter feito uma recusa do jurado no momento do julgamento, mas não o fez, nem realizou qualquer consideração a respeito”.
O g1 entrou em contato com o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que se limitou a dizer que ”a magistrada vai dar vista ao Ministério Público e depois analisará o pedido”.
Em uma das postagens, o jurado teria escrito o seguinte texto: ”Vamos manda o Barbosa condenar o boldrine pela teoria do domínio do fato!!!! Nisso o ministro sabe bem como fazer nem precisa de prova”. Em outra publicação, o homem disse “eu vou junto bater, toda a cidade revoltada!!!!”. Os dois comentários são de abril de 2014.
Leandro Boldrini foi responsabilizado pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Ele foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver. O pai de Bernardo Boldrini está preso desde 2014.
Em 15 de março de 2019, os quatro réus já haviam sido condenados, mas, depois de um primeiro pedido de anulação do júri de Boldrini, ele foi novamente julgado em março deste ano.
A madrasta, Graciele Ugulini, segue presa. Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, cumpre pena no regime semiaberto. Já Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, recebeu liberdade condicional após atingir o tempo para progressão de regime.
Bernardo Boldrini foi morto aos 11 anos em 2014
GloboNews
Relembre a cronologia do caso
O crime abalou a comunidade do município de quase 24 mil habitantes, no Noroeste do Rio Grande do Sul. A condenação do pai da vítima, contudo, havia sido anulada pela Justiça em 2021. Mesmo assim, ele seguia preso preventivamente desde 2014.
Relembre a cronologia do caso, da morte de Bernardo até a nova condenação de Leandro Boldrini:
Desaparecimento, morte e prisões
4 de abril de 2014: Bernardo desaparece
Cartaz divulgando desaparecimento de Bernardo
Reprodução/RBS TV
De acordo com a polícia, o menino foi visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância de onde morava. No dia 6 de abril, o pai do menino foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava no local e não havia chegado nos dias anteriores.
Em 13 de abril daquele ano, o pai pede ajuda para encontrar filho em uma emissora de rádio de Porto Alegre. “A gente está procurando esse menino, que é o Bernardo Uglione Boldrini”, relatou Leandro Boldrini à Rádio Farroupilha, do Grupo RBS.
Pai de menino achado morto no RS ligou para rádio e pediu ajuda
14 de abril de 2014: corpo é encontrado e pai, madrasta e amiga são presos
Corpo do menino foi achado em Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de Três Passos. Na época, a polícia não descartava nenhuma linha de investigação. Dois carros da família foram recolhidos para perícia.
Na mesma noite em que o corpo foi encontrado, a polícia prendeu o pai, a madrasta, Graciele Ugulini, e uma amiga do casal, Edelvância Wirganovicz. No dia do desaparecimento, Graciele foi multada por excesso de velocidade entre Três Passos e Frederico Westphalen. Bernardo estava no banco de trás do carro.
Um mês depois, a Polícia Civil prendeu o irmão de Edelvania, Evandro Wirganovicz, suspeito de participação ou ocultação de cadáver no caso. A Justiça considerou que o terreno onde o corpo de Bernardo foi encontrado era de difícil escavação, o que poderia indicar a presença de um homem além de Edelvania e a madrasta.
O pai, a madrasta e a amiga foram denunciados por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima). Eles também foram acusados de ocultação de cadáver.
Policiais fazem buscas ao corpo do menino de 11 anos desaparecido em Três Passos, RS
André B. Piovesan/Folha do Noroeste
Julgamentos
15 de março de 2019: réus são condenados
Após cinco dias e 50 horas de julgamento, o júri decidiu pela condenação dos quatro réus. Graciele Ugulini, a madrasta, recebeu pena de 34 anos e sete meses de prisão. Leandro Boldrini, o pai, foi condenado a 33 anos e oito meses de cadeia.
Edelvânia Wirganovicz, a amiga, foi condenada a 22 anos e 10 meses de prisão. Enquanto o irmão dela, Evandro Wirganovicz, foi sentenciado a nove anos e seis meses em regime semiaberto.
Graciele Ugulini e Leandro Boldrini momentos antes da condenação
Joyce Heurich/G1
10 de dezembro de 2021: anulada condenação de Leandro
O 1º Grupo Criminal do Tribunal de Justiça decidiu pela anulação do julgamento de Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo. O relator do caso disse que “houve quebra da paridade de armas” na conduta do promotor de justiça durante o interrogatório do réu no júri.
20 de março de 2023: começa novo julgamento de Leandro Boldrini
Momento em que Leandro Boldrini chega ao júri em Três Passos
Reprodução/RBS TV
O novo julgamento de Leandro Boldrini começou na segunda-feira (20). Foram ouvidas 10 testemunhas. O réu só acompanhou o primeiro dia de julgamento. Nos três dias restantes, ele não esteve presente no plenário por questões de saúde. No último dia de júri, ele chegou ao fórum agitado, conduzido por policiais, dizendo “para, para” ao passar pela área onde estava a imprensa.
23 de março de 2023: nova condenação de Leandro
O novo júri de Leandro Boldrini foi encerrado na quinta-feira (23). A sentença foi lida por volta das 19h30 e estabeleceu a pena de 31 anos e oito anos em regime fechado por homicídio quadruplamente qualificado.
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
Caso Bernardo: defesa de Leandro Boldrini pede anulação do júri por postagem de jurado
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