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Por que artistas gringos trazem shows mais simples ao Brasil e como turnês são negociadas?


Entenda por que apresentações na América do Sul tendem a ser mais enxutas e como é a contratação de artistas para festivais como o Lollapalooza. g1 ouviu profissionais do setor. Entenda por que artistas gringos trazem shows mais simples ao Brasil
Quem é fã de artistas internacionais sabe que o show feito lá fora raramente é o mesmo que vem ao Brasil. Palcos diferentes, megaestruturas, pirotecnias… são poucas as turnês que trazem toda a estrutura quando passam pela América do Sul.
Às vezes, a atração traz algo bem mais modesto para cá. Como Miley Cyrus, que em 2014 deixou o palco especial com escorregador de língua para trás e trouxe somente algumas trocas de figurino. Ou SZA, com show no Lollapalooza 2024 que teve as dançarinas e elementos no palco, mas quase nada do robusto cenário da turnê.
Preguiça? Má vontade? Na verdade, isso acontece porque trazer a estrutura de um show depende de muitas variáveis.
SZA canta ‘Kill Bill’ no Lolla 2024
O g1 ouviu profissionais do mercado de shows, que explicaram como funciona a negociação da estrutura de shows. Segundo eles:
Quem define a estrutura trazida, geralmente, é o artista;
Os aparatos que vêm para cá e quais serão fornecidos são previstos em contrato;
Variáveis como o retorno financeiro, o transporte, viabilidade técnica, proposta artística – tudo isso influencia a decisão;
Um problema no Brasil e na América do Sul? A distância… e as estradas;
Há alternativas para garantir a viabilidade do show com opções mais enxutas;
Mas geralmente, se não for possível trazer uma parte importante da estrutura, a tendência é que os artistas (e as promotoras) decidam não trazer o show.
Entenda como funciona:
Quem define o que vem para cá?
Os profissionais entrevistados pelo g1 afirmaram que, na maior parte das vezes, cabe ao artista decidir a estrutura que será trazida ao Brasil.
Para um entrevistado de uma produtora internacional, o maior problema no Brasil é a logística. “Estamos longe de todo mundo. É um custo alto chegar ao continente. E depois, quando chegam aqui, as estradas são raras ou ruins”, explica. Por isso, trazer aparatos dos shows à América do Sul – e transportá-las entre diferentes lugares – é uma operação complexa e cara.
Além dos gastos, há uma questão de tempo. “Dependendo dos itens que artistas do pop querem trazer, precisa ser de navio, algo demorado, algo caro, que não vale a pena”, diz outro entrevistado. Isso dificulta a agenda da turnê, e pode até impossibilitar o show.
“Teve um mega artista, que teve uma mega produção, que era 360 graus. Tinha que ser com essa produção, porque foi um palco especialmente desenhado a nível de engenharia para essa turnê. O custo de levar esse palco para toda as datas na América do Sul era muito caro. Então, essa turnê não foi para América do Sul.”
“Essa decisão também depende do investimento (ou prejuízo) que o artista está disposto a ter. “Ele define o que ele quer trazer, o que ele quer produzir localmente. De certa maneira, sai do custo dele. Sai do artista, e entra no resultado do show.”
Não é um cálculo tão simples: do valor do show, é preciso tirar impostos, salário de agentes e outras despesas. A infraestrutura de todo o show também é “paga” pelo artista.
Pode ser que não compense para o artista e que ele fique no prejuízo ao trazer tudo – e aí, pode até deixar de vir ao Brasil, já que isso afeta quase inteiramente o show planejado. Por outro lado, ele pode optar por trazer a estrutura em uma versão mais enxuta, só para não deixar de vir.
E em festivais?
Se para shows solo já é difícil, trazer a estrutura completa para festivais é praticamente impossível. Muitas vezes, é justamente a economia na produção que compensa a vinda, já que o evento fornece sua própria estrutura “básica”.
“Quando o festival faz uma oferta para um determinado artista, já envia o rider, ou seja, aquilo que o festival oferece. Se o artista quiser algo além do que ele oferece, inicia-se um diálogo para ver o que dá para atender e quem será responsável por isso. No fim, todos tem que se adaptar um pouco”, conta Marcelo Beraldo, diretor artístico do Lollapalooza.
Rosalía se apresenta no Lollapalooza 2023 em São Paulo
Fábio Tito/g1
Toda a estrutura oferecida é negociada dependendo do tamanho do artista. “Se ele diz que precisa de um pouco mais disso ou daquilo, a gente vai tentando atender dentro do possível. E eu digo dentro do possível porque tem coisas que nem têm na América do Sul. Nesse caso, o artista pode arranjar ou abrir mão, e o festival também pode ir atrás, tudo depende dessa negociação”.
Para algumas atrações, não vale a pena tocar em festivais. “A Taylor Swift tem uma produção que não cabe em nenhum festival do mundo. Se ela recebe a oferta de um festival, cabe a ela definir se quer fazer o show sem aquela produção ou só com parte dela. O festival vai topar se ela topar, mas muita coisa faz parte da estratégia dela. Alguns artistas querem fazer o seu show de duas horas no estádio, só para os seus fãs.”
Além disso, uma vez negociada a estrutura, o festival não tem direito a intervir no conteúdo do show. “A partir do momento em que você manda uma oferta e ele aceita, legalmente falando, você não tem o direito de censurar nada”, reforça.
Festivais também enfrentam questões como o “curfew”, ou seja, o horário limite para acabar – por isso, a troca entre um show e outro tem que ser mais breve possível. “A troca de palco dura uma hora, mas para um headliner há toda uma preparação antes. Estruturas específicas podem ficar montadas sem serem usadas em shows anteriores, e nem sempre os outros shows contam com tempo suficiente para passagem de som e outros ajustes como os headliners”.
O festival também tem que contemplar artistas que dividem o mesmo palco. Em 2024, Ludmilla enfrentou problemas com a organização do Rock in Rio porque, segundo ela, não conseguiu a liberação para usar uma estrutura como gostaria. Ela teria solicitado a passarela, montada no palco para o show de Travis Scott, mas esse uso não foi autorizado.
Ludmilla em show no Rock in Rio 2024
Stephanie Rodrigues/g1
Segundo Beraldo, geralmente, a regra é que a estrutura do headliner não pode ser utilizada por outros artistas do mesmo palco. “As estruturas extras, em geral, são desenhadas e montadas especificamente para determinado show”, explica.
O que está previsto em contrato?
Vem cenário, telão, dançarinos, fogos de artifício? Os profissionais apontam que toda a estrutura que vem ao Brasil é acordado com a promotora do show, nos “riders técnicos” anexos aos contratos. Lá, consta quantas e quais luzes, estrutura de som, fogos de artifício, por aí vai. É assim que o artista informa o que pretende trazer e o que precisa ser fornecido pelo promotor local para que tudo funcione.
São muitas variáveis: o tamanho do público no Brasil, os espaços disponíveis, a estrutura do lugar e até a legislação.
“Comigo já aconteceu de desistirmos de um show porque o artista queria utilizar pirotecnia em um local fechado, o que o Corpo de Bombeiros não aprovava em função de riscos ao público. Um local maior e aberto não fazia sentido econômico. O artista veio com outro promotor”, conta um profissional ouvido pelo g1.
Katy Perry se apresenta no Rock in Rio 2024
Stephanie Rodrigues/g1
O Brasil compensa
Especialistas argumentam que, apesar de todas as questões de logística, às vezes artistas decidem investir no Brasil mesmo podendo sair no prejuízo. Afinal, o show também é uma ferramenta de marketing – especialmente eficaz no caso do nosso país.
Nos últimos anos, o país passou a ser reconhecido como uma máquina de engajamento e favoreceu o investimento em grandes shows por aqui. Mesmo caso não renda lucro, um show bem feito por aqui rende boa publicidade nas redes e fortalece a relação dos artistas com seus fãs.
“Nosso negócio é hoje em dia completamente internacional. A América do Sul já entrou dentro do que é a estrada de turnês. E a América do Sul em geral, e obviamente Brasil por seu tamanho, proporcionalmente gera muito mais streams em Spotify que outros mercados. Então, é fundamental para qualquer artista vir para cá”, conta um produtor de shows.
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