
Relator da denúncia contra Bolsonaro antecipou aos integrantes da Turma que usaria filme em vez de palavras para descrever “materialidade dos crimes”. Alexandre de Moraes exibe vídeo com imagens do 8 de janeiro de 2023.
Antonio Augusto/STF
Antes do início da sessão desta quarta-feira (26), o ministro Alexandre de Moraes avisou os colegas da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que usaria um vídeo “para descrever a materialidade dos fatos apontados pela PGR, em vez de ficar falando”.
A estratégia, inédita em julgamentos da Corte, teve forte impacto e foi explorada nas redes. Internamente, porém, os ministros apoiaram a exibição. Um integrante da Turma viu o recurso como uma “resposta à tentativa de reescrever a história”. “De fato foi muito acertado”, ponderou um segundo.
Desde terça-feira (25), quando houve a primeira fase do julgamento que terminou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados como réus no STF, Moraes adotou o didatismo como regra.
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O vídeo ganhou peso na estratégia do ministro num momento em que uma parte da base de Bolsonaro prega uma anistia e trata os atos de 8 de janeiro como algo de menor monta.
Foi, portanto, a resposta do relator do caso a essa estratégia. O filme, cuja exibição está amparada em lei, mostra desde o agrupamento com pedido de golpe na frente de quartéis, ao atentado a bomba ao lado do aeroporto de Brasília na véspera do Natal. Ele ainda traz imagens da tentativa de invasão da sede da PF no dia 12 de dezembro de 2022, o incêndio de carros e ônibus.
O 8 de janeiro em si foi comentado durante a exibição. Moraes respondeu um dos advogados da defesa do ex-comandante da Marinha que, em sustentação oral, afirmou não ter havido emprego de armas.
O filme mostra que houve uso de rojões contra policiais legislativos na Câmara e no Senado e de granadas no STF. A policial militar atacada com uma barra de ferro na cabeça também teve fala exibida.
O impacto das imagens gerou repercussão espontânea nas redes sociais —e protestos de aliados de Bolsonaro.
A reação interna, porém, foi de apoio. A mais forte veio da ministra Cármem Lúcia. Ela citou as imagens da marcha golpista, lembrou a agonia da então presidente da Corte, Rosa Weber, ao constatar a chegada de ônibus e caminhões com manifestantes no Quartel General do Exército e finalizou dizendo que, se tivessem concretizado o golpe “nós não estaríamos aqui”. Ditadura, concluiu, “vive de morte”.