Adolescente de 14 anos foi baleado e morto durante uma operação das polícias Federal e Civil, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em 2020. Agentes serão ouvidos como testemunhas no caso. Família de adolescente assassinado dentro de casa luta há 3 anos por Justiça
Cinco policiais federais devem ser ouvidos na tarde desta quarta-feira (24) em uma audiência do julgamento que apura a morte do menino João Pedro. Os agentes serão ouvidos na condição de testemunhas no caso.
A próxima audiência está marcada para o dia 12 de julho, quando policiais civis também serão ouvidos como testemunhas.
O adolescente tinha 14 anos quando foi baleado dentro de casa, durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo.
A morte de João Pedro Mattos Pinto completou três anos no dia 18 deste mês, e a família do menino segue pedindo por justiça.
Segundo as investigações, o tiro de fuzil que matou o adolescente pelas costas partiu da arma de um policial. E a casa do tio dele, onde ele brincava com outras crianças, ficou com mais de 70 marcas de tiros.
“Já era para eles estarem presos, até sem salário mesmo (…) O que eles fizeram é o cúmulo do absurdo, entrar numa residência familiar, onde só havia jovens brincando, numa pandemia e se acharem no direito de efetuar vários disparos de fuzil”, comentou o pai de João Pedro, Neilton da Costa.
“O estado, aquele que deve proteger, guardar, cuidar, infelizmente tira uma vida. (…) Arde dentro do meu peito. É a sede de justiça. Isso me dá força para continuar a luta. Eu só vou viver o meu luto quando a justiça for feita”, completou Neilton.
Para Rafaela Mattos, mãe de João Pedro, a demora para a conclusão do julgamento provoca uma série de problemas para a família.
“Essa demora tem causado danos físicos e mentais em nossa família. Precisamos alcançar a sonhada Justiça, até para ajudar a luta de outras famílias”, declarou Rafaela.
Julgamento
O assassinato de João Pedro ocorreu no dia 18 de maio de 2020, mas apenas em fevereiro de 2022, a Justiça aceitou a denúncia do MPRJ contra os policiais civis Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister, que viraram réus por homicídio duplamente qualificado. Os agentes também foram denunciados por fraude processual.
Tiros na parede da casa onde morava João Pedro
Arquivo pessoal
Na segunda audiência de instrução e julgamento, em setembro do ano passado, uma testemunha de acusação que presenciou a morte de João Pedro afirmou não lembrar de criminosos armados perto da casa onde o jovem foi morto por policiais.
A afirmação vai contra a versão dada pelas polícias Civil e Federal na época. As instituições de segurança informaram que traficantes da região pularam o muro da casa onde João estava. Segundo eles, os criminosos dispararam contra os policiais e arremessaram granadas na direção dos agentes.
Na época, a família e testemunhas afirmaram em depoimento que os policiais chegaram atirando.
Segundo as investigações, a cena do crime foi alterada pelos acusados, na intenção de criar vestígios de um confronto com criminosos. O que, ainda de acordo com as investigações, não ocorreu.
Pais de João Pedro, morto em operação policial no RJ
Fantástico
O MP apontou que os denunciados plantaram no local diversos explosivos, também uma pistola da marca Glock, calibre 9 milímetros, e posicionaram uma escada junto ao muro dos fundos do imóvel.
O Ministério Público fez a reconstrução do crime em realidade virtual e concluiu que o tiro que matou João Pedro saiu da arma de um dos policiais.
O caso é julgado pela juíza Juliana Bessa Ferraz, titular da 4a Vara Criminal de São Gonçalo. Os acusados respondem em liberdade por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e fútil.
Na opinião da família de João Pedro, os policiais civis acusados devem ser julgados pelo Tribunal do Júri, quando cidadãos comuns são sorteados para dar a decisão final de condenação ou absolvição do réu.
Policiais federais prestam depoimento em audiência sobre a morte do menino João Pedro, no Complexo do Salgueiro
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