Integrantes do governo e do PT evocam mantra do futebol, ”vai se criando um clima terrível”, para pressionar por mudanças urgentes após a crise do PIX e evitar que cenário se agrave a dois anos da eleição. Lula: eleição de 2026 já começou
“Vai se criando um clima terrível”, diz Galvão Bueno no futebol — mas vale para a política. O mantra tem sido evocado por aliados de Lula nos últimos dias, após o governo se deparar com a pior crise enfrentada desde o seu início. Muitos tentam atribuir a uma falha de comunicação — mas não foi isso. Nem do estagiário. Foi um erro político. E de gente grande.
Não existe mais medida burocrática ou inofensiva num mundo super vigiado e que exige explicação detalhada, seja no reels, em um story de 15 segundos ou numa postagem no X (antigo Twitter).
Há muitas divergências no governo sobre a normativa da Receita Federal e sobre se era melhor ter recuado ou não.
O novo ministro de Lula (PT), Sidônio Palmeira, encerrou a discussão ao defender que era preciso matar o problema na origem. E assim foi feito.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia em homenagem aos 150 de nascimento de Alberto Santos Dumont, patrono da Aeronáutica e considerado o Pai da Aviação, em 20/07/2023.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
A partir de agora, a ideia é alinhar a comunicação dos ministérios com a Secom (Secretaria de Comunicação Social). Antes de uma decisão, procurar a secretaria e discutir a estratégia de informe ao público. Mas essa é só uma parte da lavagem de roupa do governo.
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A outra é o reconhecimento de que o governo é analógico, mas tem potencial para se tornar digital, pois tem um produto carismático, comunicativo e que fala a linguagem do povo: o presidente Lula. O presidente é um personagem que precisa ser convencido de que o uso de redes sociais — e não mais o palanque ou discursos intermináveis em lançamentos de obras — tem mais efeito e capilaridade nos dias de hoje.
Usar as redes sociais como um instrumento incorporado ao cotidiano e não como corpo estranho ou posado. Nas palavras de um dos auxiliares mais próximos do presidente, quem precisa tomar as rédeas da estratégia é Lula. ”É Lula quem tem que falar. É o comandante. É muito bom de palanque, mas não de rede social. Estamos pensando formatos”.
No governo, a ideia é turbinar o monitoramento de redes para captar a percepção das pessoas e transformar em ações do governo com Lula à frente. Hoje, explicam assessores, não há consequência direta desse monitoramento.
O governo busca formatos para aproximar o presidente do meio digital — e tem pressa. Apesar de negar oficialmente, a campanha para as eleições de 2026 foi antecipada e a construção desse personagem à moda ”Lula do TikTok” já começou. É para ontem nas mãos de estrategistas.
Nesta segunda-feira (20), no discurso inicial da primeira reunião ministerial do ano, Lula falou sobre como adversários políticos estão se preparando para as próximas eleições.
“O que eu quero dizer para vocês é que 2026 já começou, se não por nós, porque temos que trabalhar, porque temos que capinar, porque temos que tirar todos os carrapichos que tiver nas plantas que nós plantamos, mas pelos adversários, a eleição do ano passado e do ano que vem já começou. É só ver o que vocês assistem na internet para vocês perceberem que eles já estão em campanha. E nós não podemos antecipar a campanha porque nós temos que trabalhar.”
Empoderar Haddad
A ala mais pragmática do governo defende que Lula sinalize com um novo ajuste fiscal em breve, pois do jeito que está, o Planalto esvazia o ministro da Fazenda, que acaba ficando sozinho na briga pela saúde das contas públicas.
Como Haddad é o principal nome de sucessão de Lula, petistas aliados ao ministro defendem que ele seja empoderado por Lula e que haja algum gesto de transição, mesmo que seja visando 2030, e que tenha início em breve para evitar que a esquerda esteja em guerra em 2026 com o tema enquanto na direita nomes de proliferam.