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Bolo envenenado em Torres: marido de mulher presa será chamado para depor mais uma vez como testemunha, diz polícia


Três pessoas da mesma família morreram após comer alimento. Perícia confirmou presença de arsênio no doce. IGP detalha análises que identificaram arsênio no bolo
Diego Silva dos Anjos, marido de Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar o bolo que causou a morte de três pessoas da mesma família em Torres, no Litoral Norte do RS, será chamado mais uma vez para depor como testemunha do caso. Segundo a Polícia Civil, ele não é considerado investigado, e deverá ser ouvido nos próximos dias.
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Nesta sexta-feira (10), a polícia confirmou que Deise comprou e usou arsênio para envenenar o bolo. Uma perícia realizada no corpo do sogro de Deise, pai de Diego, apontou que Paulo também foi morto por ingerir arsênio quatro meses atrás.
Questionado se o marido de Deise teria participação no crime ou se sabia dos supostos planos da esposa, o delegado titular da Polícia Civil de Torres, Marcos Vinicius Veloso, disse que isso ainda é investigado.
“Ele vai ser ouvido como testemunha, mas não descartamos nenhuma possibilidade. Temos (informações) de que, sim, há uma relação conturbada dela (Deise) com o seu marido”, disse o delegado Marcos Vinícius Veloso.
O g1 procurou o advogado que representa Diego, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Em seu depoimento anterior, Diego afirmou que ficou sabendo do caso pela imprensa e que estava afastado da família há mais de 20 anos, depois de uma briga com a mãe por dinheiro. Ainda à polícia, ele relatou que Deise e a mãe tinham um relacionamento com “altos e baixos” e que a esposa não seria capaz nem teria motivos de matar membros da família dele.
O caso
Deise Moura dos Anjos está presa temporariamente, e é investigada por suspeita de triplo homicídio e de três tentativas de homicídio. A fonte da contaminação por arsênio foi a farinha usada para fazer o bolo consumido pelas vítimas, conforme as autoridades. (Entenda abaixo)
Sogra de mulher suspeita de envenenar bolo tem alta
A defesa de Deise afirma que “as declarações divulgadas na coletiva de imprensa ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso”, portanto “aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação”.
A perícia feita no corpo de Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise morto em setembro, constatou que ele também ingeriu arsênio antes de morrer. Paulo morreu de infecção intestinal em setembro de 2024, após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora. A polícia confirmou nesta sexta que a causa da morte do homem foi envenenamento.
“Impossível este caso se tratar de intoxicação alimentar, contaminação natural ou degradação de qualquer substância. Conclui-se que a causa da morte de Paulo foi envenenamento”, afirma a diretora do IGP, Marguet Mittmann.
A polícia informou ainda, nesta sexta, que Deise comprou arsênio quatro vezes no período de quatro meses, sendo que uma dessas compras aconteceu antes da morte do sogro, e as outras três antes da morte das três pessoas em dezembro. O produto teria sido comprado pela internet e recebido pelos Correios.
De acordo com a delegada Sabrina Deffente, diretora regional da polícia no Litoral Norte, Deise praticava “tentativas de homicídio em série”. Ainda segundo a delegada, há indícios de que ela “tenha praticado outros envenenamentos em pessoas proxímas da família”.
“Não temos dúvida de que se trata de uma pessoa que praticava homicídios e tentativas de homicídio em série. Por muito tempo não foi descoberta, e por muito tempo tentou apagar as provas”, diz a delegada.
O relatório preliminar da extração de dados dos celulares apreendidos, ao qual o g1 teve acesso, apontou ainda buscas feitas na internet por termos como “arsênio veneno”, “arsênico veneno” e “veneno que mata humano”. As informações constam da representação da Polícia Civil pela prisão temporária da suspeita.
Deise nega qualquer responsabilidade sobre as mortes. Em nota, a defesa alegou que as prisões temporárias “possuem caráter investigativo” e que “ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso”.
Casa de Zeli, em Arroio do Sa, onde suspeita teria feito pesquisas sobre veneno
Reprodução/ RBS TV
➡️ Qual é a origem da contaminação?
O Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul detalhou o processo das análises que detectaram a presença de arsênio na farinha do bolo que causou as mortes das três mulheres.
Ao longo de uma semana, 89 amostras foram analisadas, e em apenas uma, a da farinha, foi encontrado arsênio. O composto estava em uma concentração 2.700 vezes maior que a encontrada no bolo.
Para encontrar a origem da contaminação, foi utilizado um equipamento de fluorescência de raio-X. O material tem uma série de bancos de dados para a identificação de metais usados, principalmente no solo, mas também em ligas metálicas como joias.
Ao fazer o escaneamento das amostras, o equipamento mostrou uma lista de concentração de quais metais poderiam estar presentes nessas análises. Segundo Lara Regina Soccol Gris, chefe da Divisão de Química Forense do IGP, o arsênio encontrado foi o material mais presente na farinha.
“Nós testamos o próprio bolo com esse equipamento. Já acusou muito positivo, digamos assim, pro bolo. E para farinha, então, foi uma concentração muito superior”, explica.
Amostras coletas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP)
Reprodução/ RBS TV
O IGP também analisou o material coletado nas três pessoas que morreram. Maida e Neusa, irmãs de Zeli, e Tatiana, sobrinha da idosa. Os exames mostraram uma alta concentração de arsênio no estômago, no sangue e na urina das vítimas.
“Encontramos, inclusive, resíduos de passas de frutas cristalizadas, indicando que era dali mesmo. Esse material foi encaminhado para o laboratório parceiro que fez a análise”, esclarece a perita criminal Viviane Fassina.
No estômago de Tatiana, a perícia identificou a concentração de 384 mil microgramas de arsênio por litro, sendo assim a maior de todas. Isso significa que a concentração estava 11 mil vezes acima do que poderia ser considerado uma contaminação acidental.
Marguet Mittmann diretora do IGP, afirma que o órgão tem provas robustas e inquestionáveis de que as vítimas morreram por envenenamento por arsênio.
“É inquestionável que o arsênio estava no bolo e é inquestionável que a fonte na receita do bolo é a farinha”.
Foto mostra suspeita sorrindo ao lado de sogra e bolo igual ao envenenado em 2021
Os envenenados
As três pessoas que morreram após consumir o bolo são: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.
Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres
A mulher que preparou o bolo, Zeli dos Anjos, recebeu alta do hospital nesta sexta-feira (10). A criança de 10 anos que também comeu o bolo recebeu alta do hospital na sexta-feira.
Gosto estranho
As pessoas que consumiram o bolo notaram um gosto estranho ao ingerir o doce, segundo o delegado. O alimento, com sabor apimentado e desagradável, foi percebido logo nos primeiros pedaços. Zeli chegou a interromper o consumo ao perceber as reclamações.
“Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela meio que colocou a mão assim em cima do bolo, [e falou] ‘e agora ninguém mais come’. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento”, diz o delegado.
O marido de Neuza, que não consumiu o bolo, não apresentou sintomas. E o marido de Maida comeu o bolo, foi hospitalizado, mas já teve alta. Os nomes deles não foram oficialmente divulgados.
Sintomas após ingestão de arsênio aparecem em até 30 minutos
Relembre o caso
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. Zeli dos Anjos, que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, Zeli foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. A maior concentração do veneno foi encontrada no sangue dela. A fonte da contaminação por arsênio foi a farinha usada para fazer o alimento consumido pelas vítimas, conforme o IGP.
Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada “choque pós-intoxicação alimentar”.
Nota da defesa da suspeita
O escritório Cassyus Pontes Advocacia representa a defesa de Deise Moura dos Anjos no inquérito em andamento sobre o fato do Bolo, na Comarca de Torres, tendo sido decretada no domingo a prisão temporária da investigada.
Todavia, até o momento, mesmo com o pedido da Defesa deferido pelo judiciário, ainda não houve o acesso ao inquérito judicial.
A família, desde o início, colabora da investigação, inclusive o com depoimento de Deise em delegacia, anterior ao decreto prisional.
Cumpre salientar, que as prisões temporárias possuem caráter investigativo, de coleta de provas, logo ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso, os quais não foram definidos ou esclarecidos no inquérito.
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