Indivíduo da espécie com coloração diferente foi documentado por Murilo Wolf durante viagem de lua de mel. Tiê-sangue com leucismo registrado em Tiradentes (MG)
Murillo Wolf
Ave símbolo da Mata Atlântica, o tiê-sangue (Ramphocelus bresilia) impressiona pela aparência. O macho, possui corpo avermelhado com asas e cauda preta, o tom vibrante serviu de inspiração para o nome popular. Mas existem exceções à regra.
Uma delas foi um indivíduo da espécie fotografado pelo guia de turismo Murillo Wolf, em Tiradentes (MG). Apresentando características comuns do leucismo, a ave possui o topo da cabeça, as asas e a cauda branca devido a uma falta de produção de melanina.
O leucismo é uma condição genética que afeta a pigmentação das penas, pele e olhos das aves. A principal característica do leucismo é a redução ou ausência de pigmentos em algumas ou todas as partes do corpo, resultando em penas brancas ou muito pálidas.
Diferentemente do albinismo, que é causado pela falta total de melanina e geralmente deixa os olhos das aves avermelhados, no leucismo os olhos mantêm sua coloração normal, pois não há ausência completa de pigmentos, apenas uma falha na sua distribuição.
Tiê-sangue com leucismo registrado em Tiradentes (MG)
Murillo Wolf
Como explorado em outras matérias do Terra da Gente, a condição genética em algumas espécies pode aumentar a vulnerabilidade da ave ao acarretar: maior dificuldade para se camuflar (sendo mais suscetível à predação) e menor atratividade para parceiros sexuais em algumas espécies.
Quando registrou a ave, durante sua viagem de lua de mel, o guia foi “apresentado à ave” por um morador local de Tiradentes. “Ele disse ‘nós temos um vermelho que vem sempre aqui’ e eu falei ‘é o tiê-sangue, né?’ e ele disse ‘não, esse é diferente, é de outro jeito’. Então pedi que ele me mostrasse uma foto e quando ele me mostrou quase surtei”, conta Murillo.
Segundo o anfitrião que o recebeu, o tiê-sangue leucístico aparecia todo dia na área rural onde o casal estava hospedado. Na cidade de Tiradentes, os biomas Cerrado e Mata Atlântica se misturam – o primeiro é visto nas montanhas, já o segundo é característico das beiras de rio.
Morador de Ilha Bela (SP), o guia de turismo começou a observar aves há cerca de quatro anos, por influência de outros observadores. Além de hobby, o birdwatching é parte do trabalho de Murillo, que acompanha turistas iniciantes e experientes por diferentes passeios.
“A gente tem aqui o Parque Estadual de Ilhabela, que é uma unidade de conservação ideal para essa prática. Geralmente a gente escolhe algum atrativo do parque e a gente faz uma passarinhada, terminando com banho de cachoeira, geralmente é assim”, explica.
Mais cor, menos canto
Medindo entre 18 e 19 centímetros de comprimento, o nome científico Ramphocelus bresilius significa “pássaro brasileiro com bico côncavo”. Exclusiva do Brasil, o tiê-sangue é também conhecido como tingê, sangue-de-boi, tiê-fogo, chau-baeta, japiranga e tapiranga.
O macho da espécie atinge a tonalidade característica e o bico com a base em tom marfim aos dois anos de idade. Ao contrário dos parceiros, as fêmeas possuem a cor parda e marrom por todo o corpo, assim como a ave enquanto ainda é jovem.
Compensando a beleza da plumagem, o canto não é um destaque forte dessa espécie. A vocalização é um chamado duro e repetido. Eliminando as serenatas, a forma de atração entre os casais é, mais uma vez, a aparência: durante o acasalamento, os machos levantam a cabeça verticalmente para exibir a base reluzente da mandíbula e atrair a fêmea.
Habitante de bordas de florestas e áreas de restingas, a espécie se alimenta de frutas, insetos e vermes. Possui ampla distribuição, que vai do Rio Grande do Norte a Santa Catarina, e atualmente não corre risco de extinção.
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