Cortes de vegetação nativa caíram no estado gaúcho em comparação com o último ano, segundo secretaria. Regiões são consideradas Área de Preservação Permanente. A importância da preservação da mata ciliar nas florestas do RS
A mata ciliar, vegetação nativa que cresce ao redor de cursos d’água, desempenha um papel essencial na preservação dos recursos hídricos e na prevenção de enchentes. Projetos de reflorestamento e conservação no Rio Grande do Sul garantem benefícios ambientais e sociais para as comunidades.
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“Preservar a mata ciliar é propiciar que a água possa infiltrar no subsolo e a partir daí abastecer esse subsolo, que são essas reservas de água para o futuro. Então a mata ciliar é uma parte importantíssima do próprio ciclo d ‘água”, explica Gabriel Katz, geógrafo da Emater.
Em dias de chuva, a vegetação evita que a terra caia em grande quantidade em rios e córregos. Quando chove de novo, a tendência é o rio transbordar com mais facilidade.
Como a mata ciliar auxilia na penetração da água no solo
Reprodução/ RBS TV
“A enchente é o excesso de água em um momento, o rio não dá conta de levar. Quando tem mata, ela freia a água. Então, mesmo a água que chega ali embaixo e não é absorvida, ela chega mais devagar e dá tempo de o rio escoar. E a mata ciliar é a última proteção do rio”, explica Francisco Milanez, diretor científico e técnico da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).
Preservação
Exemplos positivos de cuidado com a mata ciliar se espalham pelo Rio Grande do Sul. Confira abaixo:
📍Vera Cruz
Programa faz reflorestamento de encostas do Arroio Andreas, em Vera Cruz, no Vale do Taquari
Reprodução/ RBS TV
Em Vera Cruz, no Vale do Taquari, um programa faz reflorestamento de encostas do Arroio Andreas, o principal do município. Em 13 anos, 129 nascentes foram recuperadas. Atualmente, 225 hectares estão protegidos. Na enchente de maio de 2024, o nível do arroio chegou a três metros acima do nível normal. Ainda assim, as encostas estão preservadas.
“A gente percebeu em um viés muito mais amplo o quanto estamos conectados a esses ecossistemas e o quanto dependemos deles. Temos que entender que essa preservação não é somente pensando nos bichinhos, na natureza, é no todo, é em nós dentro desse contexto de meio ambiente”, afirma Marcelo Luís Kronbauer, engenheiro ambiental e pesquisador da Unisc, responsável pelo programa.
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📍Novo Hamburgo
Nascente no interior de Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, no RS
Reprodução/ RBS TV
Já no interior de Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, a família de Flavio Camerini preserva uma área verde de aproximadamente um hectare onde há uma nascente. A água que surge ali é usada para várias atividades no sítio, que tem 58 hectares.
“Nós colhemos água para o nosso consumo, para a criação de gado, alguma coisa de irrigação, quando se faz necessário um plantio, e ela segue o curso dela”, explica Flavio.
Quando a família chegou à região, há mais de 20 anos, quase não havia árvores. Uma equipe da Emater fez o reflorestamento na regiã. Flávio conta que a água vai também para os sítios vizinhos.
“Essa água vai longe, vai para outra propriedade. Muita gente se beneficia, não só nós aqui dentro. Ela não veio para nós, ela veio para as pessoas, os vizinhos. Então, nós temos diversos vizinhos na sequência que ficam felizes quando a água aumenta e eles estão se beneficiando também”, diz.
A área verde aumentou em duas décadas por conta de cuidados permanentes, observa Flávio.
“Reflorestou muito mais, aumentou como consequência a água. Na minha opinião, embelezou muito mais, tem mais arvoredo, tem mais passarinho, a biodiversidade aumentou, a vida nesse aspecto aumentou muito aqui. E não tem mais erosão do solo”, descreve.
Proteção legal e punições
Mata ciliar no RS
Reprodução/ RBS TV
Toda mata ciliar é considera Área de Preservação Permanente (APP). As regras de proteção ambiental variam de acordo com o tamanho da propriedade e a data em que os trabalhos começaram no local.
De forma geral, é obrigatório preservar pelo menos 15 metros de vegetação para cada lado da margem do curso d’água. A regra é mais flexível para quem tinha ocupado a APP antes de julho de 2008, mês em que o Código Florestal Brasileiro foi regulamentado.
Destruir ou danificar vegetação nativa é crime. A pena pode chegar a três anos de prisão. Em 2024, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) aplicou R$ 18.420.569,02 em multa.
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) afirma que, frequentemente, faz fiscalizações para verificar denúncias e liberar licenciamentos. Além disso, há quatro ações planejadas por ano: duas no Pampa e duas na Mata Atlântica.
Esse ano, a entidade atendeu a 205 denúncias de corte de vegetação nativa em áreas de preservação permanente. Ano passado, foram 494 casos. Veja abaixo:
De olho no futuro
Há quatro anos, a SEMA mantém um programa voltado para a preservação de mata ciliar. O foco é incentivar projetos de reflorestamento.
“A gente contrata uma empresa terceirizada que vai, de fato, executar o cercamento, o plantio de mudas, para que a gente consiga, de fato, ter a entrega para o produtor. Então ele assina um termo de adesão, onde ele se compromete a manter essas áreas e não novamente devastar ou qualquer coisa do gênero”, explica Juliana Ferraz de Corrêa, bióloga na SEMA.
O governo do estado contratou a Emater para fazer o serviço nas propriedades rurais. Todas ficam na área das bacias dos rios Gravataí e Sinos, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
“Nossos ‘projetos pilotos’ estão sendo aperfeiçoados para que a gente consiga levar isso para as outras bacias hidrográficas do estado. Então a ideia é ter continuidade”, diz Karolina Turcato, geógrafa da Secretaria do Meio Ambiente.
Região de mata ciliar no RS
Reprodução/ RBS TV
Segundo Carlos Roberto Rocha, extensionista rural e biólogo na Emater, cuidar a mata ciliar é garantir o futuro da biodiversidade.
“Cada propriedade é fundamental que faça a sua parte, pequena que for. Assim a gente consegue somar e ter uma melhor qualidade ambiental, qualidade de água, uma melhor qualidade de vida, tanto para as famílias dos nossos agricultores como para a comunidade em geral”, comenta o biólogo.
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