As emergências dos hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde) de Santa Catarina atenderam 29.308 vítimas de acidentes de trânsito entre 2019 e 2023. Em comparação com outros estados do Sul, SC registrou mais do que Rio Grande do Sul (16.359), mas menos que Paraná (43.917). São Paulo é o recordista, com 177 mil vítimas.
O recorte em SC faz parte do grave problema que os acidentes de trânsito representam no Brasil. Segundo levantamento feito pelo R7 por meio da Lei de Acesso à Informação, com o Ministério da Saúde, na média nacional, 22 vítimas de trânsito foram atendidas por hora no período de cinco anos no país.
Foram 792.203 mil atendimentos nas emergências, gerando um gasto de R$ 1,2 bilhão ao SUS. No comparativo entre os anos de 2019 e 2023, a demanda por UTIs cresceu 22,35%.
Acidentes de trânsito são problema de saúde público global
Segundo o diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), José Montal, desde 2004 a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OMS (Organização Mundial de Saúde) definem os acidentes de trânsito como problema de saúde pública.
No Brasil, as lesões de trânsito também são reconhecidas pelo Ministério da Saúde como um grave problema de saúde público global, gerando elevada demanda por atendimentos e internações, especialmente em UTIs.
“Se considerarmos o cenário mundial, cerca de 92% das mortes por sinistros de trânsito acontecem em países pobres, menos capacitados. Temos então fatores sociais, econômicos e educacionais. Por isso é preciso ter pleno conhecimento, desde a formação do condutor, dos cuidados e dos riscos do trânsito”, analisa Montal.
De acordo com o diretor da Abramet, o maior percentual de morte atinge homens de 18 a 30 anos, principalmente motoqueiros.
Velocidade causa mais vítimas de acidentes de trânsito
Segundo o especialista, o principal vilão é a velocidade. “Se não souber gerir a velocidade [das vias] com competência, uma pessoa pode ser condenada à morte. Existe, inclusive, a curva de Ashton, que explica a relação do aumento da velocidade com a mortalidade dos sinistros de trânsito”, exemplifica.
A curva funciona assim: quando você está a 30km/h, quase todos os atropelados sobrevivem. Mas quando ultrapassamos 60km/h, quase todos morrem.
Para auxiliar na redução de mortes e acidentes de trânsito no país, é importante mudar a concepção dos motoristas e também dos gestores municipais, opina o secretário Nacional de Trânsito, Adrualdo Catão.
“Lidando com a questão da velocidade, por exemplo, a campanha do Ministério dos Transportes, que começa a ser divulgada agora em dezembro, tem como o tema a mensagem: ‘Desacelere. Seu bem maior é a vida’”, conta o secretário.
Mudança de acidente para sinistro de trânsito
Catão afirma que o trabalho é feito no sentido de mudar a concepção da sociedade. “A gente quer mudar a forma de enxergar esses problemas e não vê-los como uma irresponsabilidade individual. Por isso, no lugar de chamar de ‘acidente’, que parece algo aleatório, começamos a chamar de ‘sinistro’, como algo que tem multicausas”, explica.
Segundo o secretário, países de renda média são os mais afetados. Isso porque, quando um país começa a crescer, a população recorre inicialmente à motocicleta. Ou seja, o fator socioeconômico é fundamental.
Catão também revela que o Brasil conta com um Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) com expectativa de reduzir pela metade o número de mortes no trânsito até 2030.
“O plano é uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), feito para dez anos [2019-2030], que coincide com a década da ONU. No documento, tem responsabilidade e indicações de todos os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito”, explica.
Velocidade da via precisa ser pensada, alerta o secretário
O secretário conta que muitas vezes a infraestrutura da cidade não se preocupa, por exemplo, com os pedestres ou ciclistas. “São cidades que não têm calçadas ou ciclovias. Se for idoso e pessoa com deficiência, sofre mais”, diz.
Catão pontuou, por exemplo, que ao definir a velocidade da via, o gestor municipal deve pensar: “60km/h mata quantos por cento a mais que 50km/h? Se eu atropelar alguém a 60km/h, o risco da vítima morrer é quantas vezes maior? Essa conta quem faz o sistema precisa saber”, alerta.
Ainda segundo Catão, é preciso pensar no conjunto da via para estimular a redução da velocidade. “Os gestores precisam usar moderação de velocidade também. Temos o Guia de Medidas de Moderação de Tráfego, onde a gente ensina os prefeitos onde colocar uma faixa de pedestres, que tipo de sinalização colocar”, finaliza.
Com informações do R7