At\u00e9 2022, a data, oficialmente, marcava o ‘Dia do \u00cdndio’, mas o termo era considerado problem\u00e1tico por ser gen\u00e9rico e preconceituoso, al\u00e9m de n\u00e3o considerar a diversidade das etnias. Ind\u00edgenas do povo Yanomami
\nAlejandro Zambrana\/Minist\u00e9rio da Sa\u00fade
\nPela primeira vez, o Brasil celebra neste 19 de abril o “Dia dos Povos Ind\u00edgenas” – e n\u00e3o mais o “Dia do \u00cdndio”, como a data era conhecida at\u00e9 o ano passado.
\nA mudan\u00e7a foi oficializada em julho de 2022 com a aprova\u00e7\u00e3o da Lei 14.402.
\n\ud83d\udcca Motivo: A palavra “\u00edndio” \u00e9 considerada problem\u00e1tica por ser um termo gen\u00e9rico e n\u00e3o considerar a diversidade dos povos ind\u00edgenas. (Veja mais abaixo.)
\nH\u00e1 anos, defensores das causas ind\u00edgenas j\u00e1 argumentavam que a data, que marca a luta dos povos origin\u00e1rios pela sobreviv\u00eancia desde a coloniza\u00e7\u00e3o do Brasil at\u00e9 os genoc\u00eddios modernos, deveria ser chamada de “Dia dos Povos Ind\u00edgenas”.
\nDe acordo com a professora e doutora em Hist\u00f3ria Social pela Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) M\u00e1rcia Mura, a altera\u00e7\u00e3o era necess\u00e1ria para refletir as ideias e lutas das diversas sociedades ind\u00edgenas.
\nM\u00e1rcia Mura, doutora em Hist\u00f3ria Social pela USP e integrante do povo Mura, de Rond\u00f4nia.
\nArquivo pessoal
\n\u00cdndio \u00e9 um termo gen\u00e9rico, que n\u00e3o considera as especificidades que existem entre os povos ind\u00edgenas, como as especificidades lingu\u00edsticas, culturais e mesmo a especificidade de tempo de contato com a sociedade n\u00e3o ind\u00edgena.
\nSegundo Mura, o termo \u00edndio reproduz a vis\u00e3o do colonizador que remete \u00e0 ideia euroc\u00eantrica de que os ind\u00edgenas s\u00e3o atrasados e iguais, desconsiderando as diferen\u00e7as lingu\u00edsticas e culturais.
\nEm contrapartida, “ind\u00edgena” \u00e9 uma palavra que significa “natural do lugar em que vive”. O termo exprime que cada povo, de onde quer que seja, \u00e9 \u00fanico.
\nO escritor ind\u00edgena, doutor em educa\u00e7\u00e3o pela Universidade de S\u00e3o Paulo e p\u00f3s-doutor em Lingu\u00edstica pela Universidade Federal de S\u00e3o Carlos Daniel Munduruku tamb\u00e9m acredita que a palavra “\u00edndio” “esconde toda a diversidade dos povos ind\u00edgenas”.
\nDaniel Munduruku, escritor ind\u00edgena, doutor em educa\u00e7\u00e3o pela Universidade de S\u00e3o Paulo e p\u00f3s-doutor em Lingu\u00edstica
\nDivulga\u00e7\u00e3o
\n“A palavra ‘ind\u00edgena’ diz muito mais a nosso respeito do que a palavra ‘\u00edndio’. Ind\u00edgena quer dizer origin\u00e1rio, aquele que est\u00e1 ali antes dos outros”, explicou o autor em entrevista \u00e0 BBC News Brasil.
\nMunduruku pertence ao povo ind\u00edgena de mesmo nome, que est\u00e1 situado em regi\u00f5es do Par\u00e1, Amazonas e Mato Grosso.
\nIndividualidade dos povos
\nA mestra em Lingu\u00edstica Aplicada pela PUC-SP Maria Vit\u00f3ria Berlink defende que o movimento de ado\u00e7\u00e3o ao termo “ind\u00edgena” \u00e9 significante porque representa a exposi\u00e7\u00e3o das individualidades dos povos.
\n“Os colonizadores portugueses e espanh\u00f3is, principalmente, usavam a palavra ‘\u00edndio’ para qualquer povo origin\u00e1rio que encontravam pelo territ\u00f3rio. \u00c9 um termo raso, que n\u00e3o considera qualquer tra\u00e7o individual destes povos. O que estes mesmos povos tentam fazer agora \u00e9 tomar para si o direito de se definirem e de mostrar que s\u00e3o mais do que o termo exprime”, explica.
\nPara al\u00e9m da nomenclatura, M\u00e1rcia Mura ressalta a necessidade de respeitar a identidade cultural individual de cada povo e tratar as etnias pelo nome.
\n“Quando dizemos que n\u00e3o somos \u00edndios, queremos dizer que somos Mura, Uru\u00e9u-Au-Au, Guarasugwe, todos habitantes do territ\u00f3rio Pindorama, que \u00e9 como os Tupinamb\u00e1 chamam o que os colonizadores deram o nome de Brasil, mas diferentes”.
\nO debate sobre como os n\u00e3o ind\u00edgenas devem se referir aos povos origin\u00e1rios acontece entre os pr\u00f3prios povos, e a professora diz que h\u00e1 quem se conforme com o uso do termo cravado pelos espanh\u00f3is.
\n“\u00c9 preciso lembrar que muitos povos sofreram tentativa de apagamento desde a chegada dos colonizadores. Tentaram apagar nossas l\u00ednguas, nossas culturas e nossas mem\u00f3rias, e deixaram para n\u00f3s este termo cheio de estere\u00f3tipos”, lamenta.
\nEntenda a diferen\u00e7a entre \u00edndio e ind\u00edgena
\nDia para reivindicar e n\u00e3o comemorar
\nApesar da ideia de que o dia 19 de abril \u00e9 um dia para celebrar os povos ind\u00edgenas, M\u00e1rcia Mura defende que n\u00e3o \u00e9 de comemora\u00e7\u00e3o, mas de reivindica\u00e7\u00e3o.
\n“N\u00e3o temos o que comemorar, porque ainda precisamos reivindicar e pautar nossas lutas. Lutamos todos os dias pelo nosso territ\u00f3rio, pela nossa cultura e pelo direito de viver como vivemos, quando existe uma sociedade que est\u00e1 nos matando pouco a pouco”.
\nDe janeiro a dezembro de 2022, o acumulado de alertas de desmatamento na Amaz\u00f4nia Legal foi de 10.267 km\u00b2, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essa foi a pior marca da s\u00e9rie hist\u00f3rica anual do Deter, o sistema de Detec\u00e7\u00e3o de Desmatamento em Tempo Real do instituto.\u00a0
\n“Estamos perdendo nossas terras para estradas, hidrel\u00e9tricas, termel\u00e9tricas, pastos e para a minera\u00e7\u00e3o ilegal. N\u00e3o podemos comemorar enquanto tentamos sobreviver”, diz a professora.
\nCrise Yanomami: Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a autoriza apoio da For\u00e7a Nacional
\nMas ela refor\u00e7a que a floresta n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico lugar de onde os ind\u00edgenas resistem.
\n“Estamos em diferentes contextos. No interior da floresta, nas margens dos rios e dos lagos, mas tamb\u00e9m na cidade, em contexto urbano, al\u00e9m do territ\u00f3rio demarcado oficialmente como territ\u00f3rio ind\u00edgena”.
\nM\u00e1rcia Mura enfatiza o direito de demarca\u00e7\u00e3o dos territ\u00f3rios dos povos ind\u00edgenas. Lembra tamb\u00e9m que todo territ\u00f3rio nacional \u00e9 ind\u00edgena e que o cuidado com a terra \u00e9 de responsabilidade de todos.
\nOs povos cuidam da floresta e dos rios, mas os n\u00e3o ind\u00edgenas tamb\u00e9m precisam cuidar. Eles tamb\u00e9m v\u00e3o ser afetados se faltar chuva, se os biomas forem destru\u00eddos. Todos os biomas s\u00e3o importantes e s\u00e3o ligados aos outros. Tudo est\u00e1 interligado e n\u00f3s estamos ligados a este ambiente.
\nVEJA V\u00cdDEOS DE EDUCA\u00c7\u00c3O:<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
At\u00e9 2022, a data, oficialmente, marcava o ‘Dia do \u00cdndio’, mas o termo era considerado problem\u00e1tico por ser gen\u00e9rico e preconceituoso, al\u00e9m de n\u00e3o considerar a diversidade das etnias. Ind\u00edgenas do povo Yanomami Alejandro Zambrana\/Minist\u00e9rio da Sa\u00fade Pela primeira vez, o Brasil celebra neste 19 de abril o “Dia dos… Continue lendo