ANTHONY WALLACE
O Parlamento da Coreia do Sul destituiu neste sábado o presidente Yoon Suk Yeol por sua tentativa fracassada de estabelecer a lei marcial em 3 de dezembro, que abriu uma crise política sem precedentes no país e manifestações massivas.
“Sinto-me profundamente frustrado… mas agora devo afastar-me por um tempo”, disse o presidente deposto Yoon. Em discurso transmitido pela televisão, apelou ao fim da “política dos excessos e do confronto”.
Do total de 300 deputados na Câmara, 204 votaram a favor da destituição do presidente por insurreição e 85 votaram contra, segundo os resultados anunciados pela presidência da Câmara. Houve três abstenções e oito votos nulos nesta nova moção de censura, bem sucedida depois de uma primeira apresentada pela oposição em 7 de dezembro que não teve sucesso.
Yoon está agora suspenso, aguardando que a Corte Constitucional valide ou não sua demissão. O tribunal tem 180 dias.
Pelo menos 200 mil manifestantes, segundo a polícia, reuniram-se em frente ao Parlamento à espera do resultado e explodiram de alegria ao ouvi-lo, segundo jornalistas da AFP.
Em outra parte da capital Seul, cerca de 30 mil pessoas reuniram-se para apoiar o presidente.
Park Chan-dae, líder do principal partido da oposição, o Partido Democrata, afirmou que “a destituição de hoje é uma grande vitória para o povo e para a democracia”.
“Não é surpreendente que nós, o povo, tenhamos conseguido isso juntos”, disse à AFP uma manifestante, Choi Jung-ha, 52 anos, que, apesar do frio congelante, começou a dançar na rua quando ouviu o resultado.
“Tenho 100% de certeza de que a Corte Constitucional apoiará a destituição”, acrescentou.
– “Governança estável” –
O primeiro-ministro Han Duck-soo assumirá o cargo de presidente interino do país e prometeu exercer uma “governança estável”.
Se o tribunal confirmar a sua destituição, Yoon Suk Yeol será o segundo presidente na história da Coreia do Sul a terminar assim, depois da líder Park Geun-hye em 2017.
No entanto, existe também um precedente em que a destituição aprovada pelo Parlamento foi invalidada dois meses depois pela Corte Constitucional, a do presidente Roh Moo-hyun em 2004.
O presidente Yoon, de 63 anos e com baixos níveis de popularidade, surpreendeu o país ao anunciar a imposição da lei marcial na noite de 3 de dezembro e ao enviar o exército ao Parlamento para impedir a reunião dos deputados.
O presidente, empenhado em uma disputa com a oposição pelo orçamento, acusou seus rivais políticos de se comportarem como “forças contrárias ao Estado”, e disse que procurou com esta medida extrema proteger o país das “ameaças” do regime comunista da Coreia do Norte.
A decisão provocou um movimento de indignação, com milhares de manifestantes que se mobilizaram imediatamente e confrontaram os militares em frente ao Parlamento.
Os deputados conseguiram se reunir e em questão de horas votaram contra a lei marcial.