Operação Cangaço Eleitoral, da Polícia Federal, investiga como o atual grupo eleito no município teria comprado votos de vários moradores. Cidade teve a disputa eleitoral mais acirrada do país e há eleitor que afirma ter recebido proposta de até R$ 16 mil. Áudio gravado aponta Ronildo da Farmácia oferecendo cargos na prefeitura em troca de votos, em Nova Olinda do MA
Reprodução/TV Mirante
Eleitores em Nova Olinda do Maranhão denunciaram que chegaram a receber propostas de até R$ 16 mil, além de empregos na prefeitura, para votar em candidatos nas eleições deste ano. Há casos em que a compra de votos, por parte do grupo eleito, foi gravada em áudio.
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Em um dos trechos de uma investigação da Polícia Federal, gravado sem que os envolvidos soubessem, os eleitores Adrião Silva Teles e Leonardo Silva Teles detalham as propostas recebidas. Adrião, pedreiro, afirma que recusou uma oferta em dinheiro feita por Ronildo da Farmácia, que foi eleito vice-prefeito.
“Ele me ofereceu R$ 16 mil. Cinco mil reais ele botou logo no meu bolso. Eu tenho testemunha disso aí. Ele disse: ‘Eu vou te dar o restante e deposito onde ela quiser. Mas volte pro meu lado.’ Digo: ‘Não, eu não vou pro teu lado de jeito nenhum’,” revelou Adrião.
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Leonardo, por sua vez, contou que a proposta incluía também vagas de emprego para a família, com salários pagos ainda este ano. No áudio gravado antes das eleições, é possível ouvir a voz de Ronildo da Farmácia.
“Eu vim aqui da última vez…. e ele não quis. E hoje eu venho sim, iniciando já vai receber agora, coloco duas vagas [de emprego na prefeitura] , uma das minhas vagas e o Ary coloca mais uma dele, e passa receber de agora, não é ‘dizer que vai’. Passa a receber dois salários mínimos por mês. Indica quem tu quiser dos teus filhos, até dezembro a gente vai deixar eles na folha , agora a partir de janeiro é trabalho […] porque que se eu disser que vou só colocar salário, tô mentindo… eu boto o meu, Ary bota o dele”, afirma Ronildo, no áudio gravado.
Leonardo Silva Teles e Adrião Silva Teles afirmam que receberam propostas pare vender os votos em Nova Olinda do Maranhão
Reprodução/TV Mirante
Ronildo foi preso
Nova Olinda do Maranhão tem pouco mais de 14 mil habitantes foi o local de uma operação da Polícia Federal (PF) que prendeu três pessoas nesta quinta-feira (12) por suspeita de compra de votos e ameaças contra eleitores.
Dentre os presos estão o vice-prefeito eleito, Ronildo da Farmácia (MDB), o sogro do prefeito eleito, Ary Menezes (PP), e a secretária de finanças do município. De acordo com a PF, as investigações apontam que parte dos recursos usados para a compra de votos pode ter origem em dinheiro público.
Ronildo da Farmácia, vice-prefeito eleito de Nova Olinda do Maranhão
TSE/Divulgacand
A operação é um desdobramento de denúncias exibidas pelo programa Fantástico, em outubro, quando eleitores relataram ter recebido materiais como telhas, sacos de cimento e madeira em troca de votos.
A eleição municipal de Nova Olinda do MA também foi marcada pela disputa mais apertada do país: Ary Menezes venceu sua principal adversária, Thaymara Amorim (PL), por apenas dois votos.
Ary Menezes foi eleito prefeito por dois votos de diferença em Nova Olinda do Maranhão
Reprodução/Redes Sociais
A operação da Polícia Federal também cumpriu mandados de prisão e oito de busca e apreensão nas cidades de São Luís e Cantanhede, para desarticular o suposto esquema criminoso de corrupção e crimes eleitorais. Os mandados foram expedidos pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA).
As investigações identificaram fortes indícios da prática de outros crimes, como intimidação de eleitores, além de extorsão qualificada, desvio de recursos públicos, constituição de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Procurados pelo g1, o prefeito Ary Menezes (PP) e o vice-prefeito Ronildo da Farmácia (MDB) ainda não haviam se posicionado sobre o caso até a última atualização desta reportagem.
Aliciamento de eleitores
Vice-prefeito eleito e outras duas pessoas são presas suspeitas de comprar votos no MA
De acordo com a PF, a suspeita é de que o grupo criminoso atuava através de aliciamento de eleitores e posterior compra de votos, seguido de atos de ameaça e intimidação com cobrança de valores e apoio político em favor de candidato a prefeito indicado pelo esquema.
Investigações apontam diversos relatos de pessoas que teriam sido abordadas por integrantes do grupo para que aceitassem dinheiro ou materiais de construção em troca de apoio.
Pessoas que firmaram o acordo, mas mudaram de opinião política ou declaram que não iriam mais votar no candidato a prefeito indicado pelo grupo, relataram terem sofrido ameaças e represálias, inclusive intimidações com armas de fogo.
Outras pessoas ouvidas pela PF também disseram terem sido vítimas de intimidação e ameaças realizadas por indivíduos armados associados ao grupo investigado.
Segundo elas, as vítimas foram coagidas a remover materiais de propaganda política de candidatos adversários e a interromper atividades relacionadas à campanha eleitoral.
A polícia ainda investiga a possível utilização de recursos públicos federais para o esquema de compra de votos.
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1.500 telhas, 20 sacos de cimento e madeira por voto
Um caso revelado pelo Fantástico foi do lavrador Danilo Santos. Ele admitiu que foi procurado antes da votação deste ano e aceitou vender o seu voto.
“Falei que era 1.500 telhas, 20 sacos de cimento e a madeira da minha casa. Eles falaram para mim que se fosse só isso, já estava tudo comprado. Que no outro dia era para eu ir buscar lá no galpão”, contou.
Danilo disse que não recebeu tudo o que foi prometido. E, por isso, mudou de ideia. E dois dias depois da eleição, um caminhão da prefeitura retirou as telhas da casa dele. “Como não me deram o material todo, ficaram me ameaçando.”
O lavrador Danilo Santos admitiu que vendeu o voto em troca de telhas, cimento e madeira
TV Globo/Reprodução
Segundo Danilo, dois dias depois das eleições, o caminhão da prefeitura foi retirar o material do endereço dele.
Outra eleitora, a pescadora Luciane Souza Costa, também foi ameaçada. Ela decidiu não votar em Ary e nem na vereadora indicada por ele depois que o marido dela recebeu dinheiro pela compra do voto. Imagens gravadas por Luciane mostram um homem, que tem o número do candidato a prefeito na camisa, a ameaçando.
“Como eu não peguei o dinheiro, foi o meu marido que pegou, e eu postei nos meus ‘Status’ dando apoio para a minha vereadora, me ameaçaram de morte, eu, meu marido e minhas filhas. Que se a gente não votasse neles, eles iam matara a gente.”
Na época o prefeito eleito Ary Menezes disse por nota que “a compra e venda de votos compromete a democracia do pleito e deve ser apurada pela Justiça Eleitoral”, e se colocou à disposição para esclarecimentos.
Ronildo da Farmácia, o vice-prefeito eleito, negou as acusações. “Eu dou a garantia que da minha parte e da parte do Ary, 100% de certeza que não oferecemos dinheiro em troca de votos para ninguém. Fizemos uma campanha limpa, está entendendo?”.
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