Em entrevista à TV Globo, Santos deu detalhes da retirada da comitiva brasileira — composta pelo embaixador e por funcionários do prédio — na manhã desta segunda-feira (9) em direção a Beirute. Embaixador do Brasil na Síria, André Santos.
Reprodução/TV Globo
O embaixador do Brasil na Síria, André Santos, disse nesta sexta-feira (13) que um dos motivos que acelerou o esvaziamento da Embaixada do Brasil em Damasco, após a queda do ditador Bashar al-Assad, foram os estragos causados ao prédio, como vidros quebrados, e o abalo provocado por um bombardeio a 3 km do local.
Em entrevista à TV Globo, Santos deu detalhes da retirada da comitiva brasileira — composta pelo embaixador e por funcionários do prédio — na manhã desta segunda-feira (9) em direção a Beirute, no Líbano. Ele citou a tensão no trajeto, percorrido com ele no volante, e o apoio do Departamento de Salvaguarda e Segurança (DSS) da Organização das Nações Unidas (ONU) no traslado.
“No sábado, foi especialmente pesado, porque houve uma clara mudança de armamento utilizado. Nós já tínhamos tido no bairro da embaixada vários ataques neste ano, vários ataques por mísseis, vários ataques lançados pela aviação israelense. Um deles, caiu a pouco mais e quinhentos metros da embaixada, isso causava toda uma vibração nas janelas, mas nunca havia causado qualquer dano”, detalhou o embaixador.
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“Então no sábado, nós tivemos um bombardeio que atingiu um aeródromo militar que fica a 3 km da nossa embaixada, só que as bombas que foram lançadas lá, causaram um estrago. Primeiro, uma onda de choque, e, em consequência dessa onda de choque, estragos materiais na embaixada, que eu, em dois anos e meio de Síria, nunca havia presenciado. E aí, foi realmente um impacto muito grande, tanto do ponto de vista psicológico, quanto do ponto de vista material mesmo”, prosseguiu Santos.
O embaixador afirmou que já tinha solicitado, dois dias antes do bombardeio, uma autorização para enviar funcionários do quadro do Itamaraty para Beirute, contudo, após os últimos acontecimentos, ele fez contato com a secretaria de Estado e, depois, falou com o chanceler Mauro Vieira, quando apresentou o pedido formal para que ele próprio deixasse Damasco até que a situação de segurança da Síria melhorasse.
“O meu pedido foi prontamente atendimento e não só o ministro se prontificou a ajudar no sentido. Ele me perguntou quem poderia nos ajudar neste momento e eu sugeri que fosse feito um contato com o Departamento de Segurança da ONU, porque esse departamento ele já vinha tenho uma relação com os rebeldes (…), de modo que eles saberiam quem contactar”, revelou.
Após o contato do ministro Mauro Vieira com representante brasileiros na ONU, segundo o embaixador, uma equipe do Departamento de Salvaguarda e Segurança foi deslocada para acompanhar o comboio brasileiro até a fronteira.
Abordados por rebeldes
André Santos contou que um dos momentos mais tensos da viagem foi no momento em que estavam colocando as malas no carro e foram abordados por 10 rebeldes que se identificaram como membros do HTS — grupo extremista que comandou essa derrubada de Assad. Segundo o embaixador, o grupo tentou dissuadir o grupo a permanecer em Damasco alegando que a situação estava controlada.
Santos afirmou que teve dificuldade de se comunicar com os rebeldes, mas conseguiu, finalmente, explicar que tinha sido designado a fazer a viagem e que, por isso, deveria cumprir as ordens. Na sequência, eles foram liberados pelo grupo.
A equipe brasileira, então, se juntou a comitivas de outras embaixadas latino-americanas que também estavam de saída e aos membros do DSS que, segundo Santos, tinham contato direto com a chefia do HTS e poderiam evitar qualquer interpelação ou bloqueio.
“Nós partimos, ao longo desse trecho nós vimos cenas de guerra, no sentido de que caminhões com sistema antiaéreo completamente carbonizados, carros destruídos, quando nós passamos pelo posto imigratório sírio, ele estava abandonado, havia cinco integrantes dos grupos armados não necessariamente HTS, um deles se dirigiu ao veículo do DSS e, em uma questão de segundos olhou para atrás e fez questão de que nós avançássemos e cruzássemos a fronteira”, contou.
Papel de destaque e embaixada fechada
O embaixador André Santos mencionou também o sentimento de alívio generalizado após a chegada dos 17 veículos em Beirute. E que o Brasil teve um papel de destaque nesse processo no sentido de garantir a presença dos funcionários da ONU na escolta.
“Ao final do processo, vários representantes das diferentes embaixadas, vieram nos agradecer pela ajuda prestada pela equipe da embaixada do Brasil em Beirute”, exclamou.
A embaixada do Brasil na Síria permanece fechada até que a situação de segurança no país melhore. Só depois disso a comitiva pretende retornar.
Até lá, segundo o embaixador, os brasileiros na Síria que tiverem problemas como passaporte vencido e documentação a ser expedida serão atendidos. André Santos afirmou que estão viabilizando um sistema remoto para cumprir essa demanda em Beirute.
Quanto aos brasileiros que fizeram pedidos junto à embaixada para se deslocar dentro do território Sírio, o embaixador explicou que ainda não conseguiu encontrar uma solução.
“Isso ainda não foi possível resolver porque depende quase que exclusivamente de uma melhora na situação de segurança”, afirmou.