Cantora curitibana radicada no Rio de Janeiro abre portas para novas artistas em busca de conquistar lugar ao sol em gênero dominado por homens. Ela se apresenta no festival Samba Barretos. A cantora de samba e pagode Karinah
Pino Gomes
Prestes a lançar “Aglomerou”, o novo EP da carreira, a cantora Karinah se apresenta neste sábado (15) no festival Samba Barretos e busca mais do que envolver o público com seu pagode romântico. Curitibana radicada no Rio de Janeiro (RJ), a veterana abre as portas do mercado fonográfico para mulheres que, assim como ela, respiram o samba, mas principalmente o pagode, gênero dominado por homens.
Em entrevista ao g1, Karinah diz que faz disso uma bandeira, porque não se conforma que o talento de jovens cantoras seja ignorado pelo mercado por desinteresse ou puro preconceito.
Ela fala com orgulho de nomes como Marvvila, que esteve no BBB23, Gabby Moura e Andressa Hayalla, que ela considera a continuidade do legado de referências como Alcione, Lecy Brandão e Beth Carvalho.
“Eu passei a focar nisso como um propósito da minha vida. Alcione já está com seus 70 e lá vai cacetada, Lecy Brandão está aí no mercado ainda, mas a gente não sabe o dia de amanhã. A gente tem que continuar essa história, pô”, defende.
Em casa, ainda criança, Karinah bebeu da fonte de Clara Nunes, influenciada pelo gosto musical de uma tia. Hoje, entre os sucessos dela estão sambas como “Melhor que Nada” e “Medo de Amar”. Mas, em 2021, o single “No Fim do Mundo”, canção dela com feat de Belo, chegou ao topo das rádios no Brasil (assista abaixo).
“Essa música foi um divisor de águas na minha vida porque eu me aprofundei no pagode mesmo, na essência da música romântica, para também levar a verdade, porque não é só cantar. Você tem que fazer com que tudo oxigene, fique vivo, para que as pessoas ao escutarem, ouçam a canção, sintam realmente o que aconteceu, a sinergia que rolou ali quando os artistas gravaram.”
O clipe rodado em Angra dos Reis (RJ) soma 6,1 milhões de visualizações desde o lançamento no YouTube e foi produzido de forma independente, feito do qual ela se orgulha muito.
“Tem muito escritório incrível, tem muita gravadora que trabalha muito sério, mas também tem muito escritório que suga demais dos artistas. Então eu nunca me rendi muito ao sistema. Fiz esse clipe independente como a maioria dos meus trabalhos, das minhas entregas, e realmente a gente conseguiu pegar o primeiro lugar nas rádios com essa música e foi um sucesso.”
Pagode para elas
Karinah não abre mão das boas parcerias para levar adiante a carreira. É na K2D, empresa dela e que tem o marido Diether Werninghaus como sócio, que ela mergulha no trabalho dela e na promoção de suas artistas promissoras.
Em 2022, a cantora gravou o DVD Karinah Por Elas, disponível no GloboPlay. O trabalho reuniu 27 vozes femininas com o intuito de apresentar ao público e ao mercado um som digno de abrir a roda.
A cantora de samba e pagode Karinah
Pino Gomes
A seleção levou em conta principalmente o timbre de voz das cantoras, característica fundamental para Karinah na hora de ouvir uma mulher cantando pagode.
“Foi justamente para que o mercado veja como fica bom um projeto bem produzido, músicas de pagode, de samba, cantados na voz de uma mulher, vozes que a gente estudou o timbre, a gente estudou o perfil. Quando você pega um compositor que compõe para mulher, como os compositores compõem para Alcione, dentro do que ela canta, dentro do que ela é, da essência dela, aquilo ali é muito difícil não dar certo, a não ser que a música não seja boa, a linha melódica não seja boa. Quando a gente mostra para o mercado as infinitas possibilidades de você produzir uma artista cantando samba ou pagode, eu acho que começa a mudar a maneira de ver, de pensar sobre aquele assunto. O público também precisa dessa referência, o público precisa ver para apostar”, diz.
‘Desaforo’
O projeto Karinah por Elas já estava sendo desenvolvido, mas saiu ainda mais rápido do forno depois que a artista ouviu o que considera um “desaforo” de um empresário figurão nos bastidores de um show do amigo e cantor Mumuzinho.
“Eu estava no camarim do Mumuzinho, de repente entrou um empresário, já um pouquinho mais tomado. O empresário renomado olhou assim para mim e falou: ‘sabe o que que eu mais admiro nas mulheres? É que elas não desistem nunca’. Aquilo ali ao mesmo tempo que mexeu comigo, eu achei um desaforo, claro, né, mas também me deu uma vontade de dar uma reviravolta. Foi isso que me motivou a ligar pra todo mundo na semana seguinte e armar o mapa de guerra para gravar o Karinah Por Elas. Foi o combustível que eu tive pra dar na cara desse mané.”
A cantora de samba e pagode Karinah
Pino Gomes
Para Karinah, comentários de pessoas influentes como o do empresário que ela não revela o nome podem desestimular interessados. Mas o resultado do trabalho compensou o “desaforo”.
“Eu acho que o mercado já está abrindo os olhos para isso, tanto que depois desse projeto, a gente já está vendo quantas artistas, inclusive que participaram dele, estão em ascensão. Os escritórios estão abraçando essas meninas. A Ludmila veio aí inclusive para afirmar isso, como fica bacana uma menina cantando um pagode bem produzido para ela, para ela cantar. A última artista que fez sucesso cantando pagode foi há mais de 20 anos, foi a Adriana Ribeiro, que era da Adriana e a Rapaziada, com um trabalho muito intenso das gravadoras e porque as músicas eram pop e trouxeram um frescor muito bacana naquela época pro pagode”, diz.
Aliás, preconceito é algo que Karinah diz enfrentar todos os dias nesse universo, mas ela não se curva aos absurdos.
O festival Samba Barretos, que começou na sexta-feira (14) em Barretos (SP), é prova disso. Produzido pela K2D com parceiros interessados em promover o seguimento, destaca a participação de mulheres. Ela, como uma leoa, faz questão de subir no palco e soltar a voz.
“Eu vou estar lá com muito carinho, levando muito samba e também representando a mulherada, né, porque é muito difícil entrar nos line-ups de samba e pagode no Brasil. Não tem espaço ainda para as mulheres, mas, devagarinho a gente vai mudando essa história.”
‘Ousadia e alegria’
O entusiasmo de Karinah com as mulheres no pagode rendeu a ela o título popular de rainha do gênero. Foi dela a provocação que resvalou no carnaval deste ano no Rio de Janeiro.
Em 2022, Neguinho da Beija-Flor convidou a cantora para o desfile da escola de samba de Nilópolis na Marquês de Sapucaí. O convite foi aceito, mas com a condição de que ela pudesse cantar com o sambista ajudando a puxar a agremiação.
“Nós que abrimos a voz das mulheres no carro de som [das escolas]. Ele [Neguinho da Beija-Flor] me fez o convite já na pandemia para cantar com ele. Eu falei pra ele: ‘pra sair na Beija-Flor, só se for cantando com você’. Como convidada, não como intérprete. Mas assim, a gente trouxe a voz das mulheres pro carro de som, tanto que esse ano os carros de som estavam cheios de mulher cantando, inclusive Ludmilla. Então esse é um propósito muito especial, e Neguinho entendeu isso desde o início”, diz.
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Novos trabalhos
Agora, Karinah faz os últimos ajustes para lançar o EP “Aglomerou”, que reúne canções compostas por ícones do seguimento e, claro, tem participações especiais.
“Eu estava recebendo muitas composições. Xande de Pilares, Carlos Caetano, Dudu Nobre, Nelson Rufino, Tonico da Vila, Fundo de Quintal. Quando eu comecei a escutar essas canções, eu pensei ‘vamos fazer um registro em estúdio. A gente não pode aglomerar, mas depois a gente lança esse projeto’. É um projeto que traz muito samba, que sempre foi a minha casa, traz amizade, traz acolhimento”, afirma.
Dudu Nobre e Karinah
Guto Costa
A faixa promocional, a romântica “Saudade dos Seus Olhos”, que reflete a personalidade da artista, já foi lançada. “É uma música que o Dudu Nobre e o Nelson Rufino fizeram para mim e fazia muito tempo que a gente não se via. Aí quando eu recebi essa música, quando ela começou ‘meus olhos choram com saudade dos seus olhos,’ eu disse: ‘eh laiá’. Me quebrou já de cara, né? Nós entramos no estúdio”.
Depois do EP, a cantora se prepara para a gravação de Karinah Por Elas – Volume 2.
“Esse ano a gente grava o Karinah por Elas – Volume 2 e a ideia é espalhar esse assunto aos quatro cantos. É um mercado difícil, faltam oportunidades, mas isso está mudando. Graças a Deus, está mudando.”
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Karinah levanta bandeira das mulheres no pagode e foca nas novas gerações: ‘Temos que continuar essa história, pô’
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