Relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura aponta que se as mulheres tivessem a mesma condição de trabalho que os homens no campo, reduziria a fome no mundo e impulsionaria a economia global em US$ 1 trilhão. Mulher no campo
Jornal Nacional
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura mediu, no mundo inteiro, a desigualdade entre homens e mulheres que trabalham no campo.
Mexer a terra com habilidade, plantar com sabedoria, sob um sol escaldante e uma carga horária que passa das 12 horas diárias. Há 30 anos, a agricultora Auzilene Tanaka trabalha na terra da família e sabe que o ofício de mulheres e de homens do campo tem semelhanças.
“A gente planta, a gente colhe, a gente ainda vai sair daqui pra vender em outros municípios”, diz Auzilene.
O problema são as diferenças de como o mundo lida e como enxerga o trabalho das mulheres no campo. Ele é menos valorizado se comparados ao dos homens. A conclusão é de um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
O documento mostra que as mulheres no campo têm piores condições de exercer a sua função como agricultora, têm poucas oportunidades, muitas vezes trabalham mais e ganham menos do que os homens.
O estudo mostra que as mulheres que trabalham na agricultura ganham US$ 0,82 para cada US$ 1,00 que os homens recebem.
“Não é justo. Por que a mulher também tem que ser qualificada para fazer a mesma coisa que o homem”, diz Auzilene.
A Ásia Meridional é um dos locais que mais empregam mulheres no campo: 71% contra 47% de homens. No Brasil, os últimos dados são do Censo de 2017 e existe uma diferença enorme nos números: 81,3% dos trabalhadores do campo são homens e as agricultoras representam apenas 18,7%.
A gente não tem oportunidade de poder fazer. Tirar uma tobata, um microtrator… A gente não consegue”, diz ela.
“Não é possível você conseguir fazer uma política pública sem ter esses dados que são básicos: onde estão as mulheres e quantas elas são e dentro das cadeias produtivas, como elas estão distribuídas, porque algumas cadeias produtivas, por exemplo, têm um número muito maior de mulheres envolvidas”, diz a pesquisadora da Embrapa Cristina Arzabe.
O relatório da FAO conclui que se as mulheres tivessem a mesma condição de trabalho que os homens no campo, isso reduziria a fome no mundo e impulsionaria a economia global em US$ 1 trilhão.
“É importante a gente reduzir essas desigualdades nos sistemas agroalimentares. Políticas públicas estruturantes voltadas para esse público em especial como, por exemplo, acesso à terra, que gera não só o empoderamento dessa mulher, mas uma renda fixa pra essa família”, afirma Úrsula Zacarias, especialista em Gênero da FAO.
O objetivo do documento é combater a desigualdade de gênero e empoderar mulheres trabalhadoras rurais. Auzilene planta, cuida da roça, dirige o trator. Ela se sente capaz, mas sabe que faz parte de uma minoria.
“É uma coisa que eu cuido por amor. Eu estou aqui, gosto de ajudar, eu sei que estou levando comida para mesa das pessoas. Eu fico muito orgulhosa de poder tá participando disso”, diz a agricultora.
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